Treinador de Formação – A tarefa mais difícil do Desporto
O artigo é uma exposição do que é a minha experiência, ainda que pobre (comecei numa equipa técnica em setembro), num clube de futebol, no escalão de benjamins sub-11. Com este artigo pretendo passar aquilo que tem sido a minha experiência e também a minha opinião sobre a formação no desporto em geral.
O caminho mais fácil, é o mais correto?
Começo por dar relevância a outro artigo do Fair Play que também explora esta vertente da formação, onde questiona as ações que estamos a tomar na temática. Gostava de oferecer apenas uma nota como introdução a este artigo para que também possam (re)ler o outro.
A saber, gostava de citar uma frase do outro artigo: “É cada vez mais generalizado o conceito de que não é através dos resultados que melhor avaliamos o sucesso no desporto de formação.”
Esta citação é a base por onde me guio na formação e creio que apesar de se pensar cada vez mais nisto, ainda é muito pouco aplicado. É fácil pensarmos que o crescimento humano dos mais pequenos é o nosso objetivo principal, mas aplicá-lo é mais difícil. É fácil pensarmos em incutir uma disputa agradável dentro de campo, mas, no “quente” do jogo, com “Treinadores de Bancada” a puxar para um lado e os miúdos também a tentarem ir por esse caminho é difícil rejeitarmos essa tentação e não sermos éticos.
Cito ainda, Renato Paiva, treinador sub-17 do SL Benfica: “Enquanto estivermos agarrados aos dígitos na formação, o processo está completamente invertido.“. E agrada-me que tenha sido o responsável por um escalão de uma das maiores academias do país a dizer isto. Pois apesar de ainda haver muita cultura do “resultadismo” em Portugal, ainda existem pessoas, com alguma influência no meio, que estão a caminhar no caminho que, no meu parecer, é o mais correto.
É óbvio que ninguém quer perder, o Desporto tem a competição e a rivalidade inerentes, mas existem outros elementos mais importantes que o resultado, como por exemplo os processos desenvolvidos em treino que tentamos aplicar no jogo e o crescimento desportivo e humano do atleta.
É por isto que ser Treinador de Formação, é a tarefa mais difícil do Desporto, pois seria fácil colocar X atletas num espaço e fazer tudo para que o resultado nos fosse favorável, agora tentar chegar a todos os atletas que trabalham connosco e tentar retirar algum proveito deles para o seu próprio bem, já é mais difícil e, infelizmente, muitos “Treinadores” seguem o caminho mais fácil.
Para encerrar este capítulo, segue um vídeo do PNED (Plano Nacional de Ética no Desporto).
“Treinadores de Bancada”
Os pais. Aqueles que, por vezes, querem sobrepor-se aos treinadores. Que gritam e ordenam mais que eles. Nesta minha experiência é algo que vejo, concentração após concentração e que me deixa sempre aborrecido. Infelizmente, alguns “Treinadores de Bancada” pensam que estão a fazer o que é melhor para o seu filho, mas na verdade, estão a fazer pior.
Li uma notícia que afirmava que deveriam ser implementados castigos aos atletas devido ao comportamento dos seus pais. Assim, quando o atleta chegasse a casa e tivesse que explicar porque é que não iria participar em alguma atividade com os colegas e tivesse que dizer que foi porque o pai teve uma atitude incorreta, o encarregado de educação pensaria duas vezes antes de voltar a fazer o que fez, pois, certamente, não teria resposta para dar ao filho.
Não descuro o papel dos pais na formação ou que eles queiram ver os seus educandos felizes, mas esta tentativa de sobreposição ao verdadeiro treinador e intromissão no crescimento do filho é nefasta e nociva para os mais pequenos. E há que alertar para que estas situações diminuam e que cresça uma cultura diferente.
Essa cultura relaciona-se que o vídeo que se segue, também do PNED, que também se relaciona com o tópico anterior. Uma cultura onde a formação se mova por valores e não por dígitos, e onde os pais tenham um papel mais passivo no crescimento dos filhos.
O tão descurado empirismo
O vídeo referente a este parágrafo, é um excerto de uma entrevista de Luís Castro, no I Congresso Internacional de Periodização Táctica, onde o mesmo passa um pouco do que foi a sua experiência como Diretor Técnico do FC Porto. E, apesar de timoneiro português falar, e muito bem, na complexidade da formação, gostava de salientar outro aspeto que o autor do vídeo escreve.
“Eu digo às pessoas… Primeiro venham para o treino, experimentem, liderem, trabalhem e depois falem.” Diria que este ponto é importantíssimo. Creio que, num país como Portugal, onde se pensa que a cultura futebolística é grande (muitas vezes não o é), seria interessante que as pessoas fizessem o que o treinador de GD Chaves recomenda. Com ou sem filhos a praticar o desporto com eles, seria uma boa experiência.
E mais uma vez realço o título do artigo. É a tarefa mais difícil da formação. Pensa-se que não, mas diria que é. Creio que o papel destes pedagogos é um pouco descurado e deveria ser mais valorizado. Portanto, antes de criticarmos, deveríamos tentar colocar-nos no papel da pessoa que treina o nosso filho e só depois, ao invés de criticar-mo-lo, tentava-mos ajudá-lo para tentar ver as coisas de outra perspetiva.
E pego nesta última ideia para terminar o artigo. Ao escrever este artigo não digo que sou dono da verdade, nem quero ensinar ninguém, nem quero passar um negativismo da formação. Com este artigo, apenas demonstro a minha visão da formação e tento que algumas pessoas vejam-na de outra perspetiva para que consigamos ajudar o mais possível, os mais pequenos.
A formação é algo complexo e que não devemos ver como algo linear, aliás, como quase tudo no desporto. E por isso cada atleta, treinador, pai e árbitro tem o seu valor, e há que adaptar-se a cada um deles. Diria que o importante é não olvidar a verdadeira razão para que estamos lá: pelos atletas.