Sporting CP – Glasgow Rangers, ou o jogo dos “penaltis desnecessários”.


Sporting CP – Glasgow Rangers, ou o jogo dos “penaltis desnecessários”.

Nos anos 70 a UEFA passou por uma série de grandes mudanças em vários "campos" e uma delas fez-se sentir no jogo entre Leões e Protestantes. Caricato? Ou um erro grave?

A Enciclopédia do Desporto em Português volta com mais uma historieta do futebol mundial. Todas as semanas lançamos uma nova entrada da Enciclopédia, com pequenas histórias, entrevistas ou marcos que vale a pena recordar. Textos rápidos de ler, mas que ficam para sempre na memória!

QUANDO A UEFA COMEÇOU O COMPLÔ CONTRA O SPORTING CP

A 3 de Novembro de 1971, o Sporting recebia o Glasgow Rangers para a segunda mão da 2ª eliminatória da Taça das Taças. Apesar de ter perdido 3-2 na Escócia, a turma de alvalade vinha moralizada pelo facto de jogar a segunda em mão em casa. Os 40 mil adeptos que se deslocaram ao estádio, certamente gostaram do intenso espetáculo que se viveu nessa noite.

Um jogo electrizante que repetiu o resultado de Glasgow, 3-2, mas desta vez para a equipa da casa. Empatada a eliminatória, o árbitro mandou jogar o prolongamento. Aí, cada equipa marca mais um golo, ficando 4-3.

Nesse ano a UEFA havia definido a regra dos golos fora, mas o arbitro holandês Van Ravens – desconhecendo o facto – manda o jogo para penaltis. Aí, Vitor Damas é herói! Defende 4 penaltis e Alvalade explode de alegria!

Há champanhe no balneário dos leões e Damas sai em ombros. Foi então que, quando já estavam todos a regressar aos balneários, apareceu no relvado Willie Wadell, o treinador dos escoceses, de regulamento em punho reclamando a passagem da sua equipa à próxima eliminatória.

Mais tarde, Damas recordaria a situação:

“Saí do jogo como um herói, as pessoas abandonaram o Estádio convencidos que o Sporting tinha passado a eliminatória. Até que o delegado da UEFA, que era o senhor Lacerda, por acaso também vice-presidente da Federação, que descobriu tudo e emendou o erro. O dito senhor Lacerda, entrou no nosso balneário a seguir ao jogo e disse-nos

“Isto foi tudo muito giro, vocês foram fantásticos, mas não valeu de nada, porque em caso de empate no prolongamento os golos marcados fora valem a dobrar”.

Naquele tempo as noticias não circulavam tão rapidamente e os adeptos Sportinguistas apenas souberam que o Sporting tinha sido eliminado no dia seguinte, graças aos jornais.”

A decisão do árbitro foi prejudicial para as cores verdes-e-brancas, com um erro crasso de leitura das novas regras da UEFA. Curiosamente, o Sporting Clube de Portugal entrava num ciclo de três anos sem conseguir conquistar o título nacional da Primeira Liga, algo que só viria a recuperar em 1974.

Outro dado curioso, é o facto do Glasgow Rangers ter levantado o título de campeão da Taça das Taças nessa época de 1971/1972, ultrapassando o Bayern de Munique nas meias-finais (Breitner ainda hoje não sabe como deixou escapar aquele golo praticamente sem guarda-redes na baliza) e o Dinamo de Moscovo na grande final.

Um ano de revolução dentro dos modelos competitivos da UEFA, que acabou por conferir justiça ao Glasgow Rangers, mas que por outro lado retirou todo o mérito de Vítor Damas e do Sporting CP em terem sobrevivido às grandes penalidades.

A equipa do Sporting CP que alinhou nesse encontro foi: Damas, Laranjeira, Hilário, Caló, Pedro Gomes, Peres, Vagner, Tomé, Dinis, Hector Yazalde e Lourenço, com Nelson Fernandes a entrar a partir do banco. Fernando Vaz era o treinador, um homem de reconhecida inteligência, humanidade e que foi fundamental para a fundação de alguns traços do futebol português. Conquistou uma Taça de Portugal pelo Vitória FC, entre tantos outros pontos altos (para mais ler: Fernando Vaz).

1971 fica então o episódio caricato de um prolongamento e de umas grandes penalidades que nunca deviam ter existido! Ficam as grandes defesas do super Vítor Damas!


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