Os últimos jogadores de rua: Marcelo
Podia chamar-se Cafu ou Roberto Carlos, com certeza bebeu do sumo que estes espremeram, mas chegou mais longe. Canarinho por biologia, madridista de coração, espírito de criança rebelde por natureza, este é Marcelo Vieira da Silva Júnior, ou simplesmente Marcelo. Agora, lateral de 35 anos a jogar no seu país berço, no regresso ao Brasileirão, no Fluminense FC, clube onde realizou a sua formação, mas não deixa de ser o antigo dono da lateral esquerda do Real Madrid FC, onde atuou durante 16 temporadas, afirmando-se como o último lateral de rua.
De forma a podermos falar da sua personalidade em campo é necessário escalar a montanha de conquistas que foi colecionando. A nível nacional, conquistou seis La Ligas, duas Taças do Rei e Seis Supertaças de Espanha. A nível continental, venceu ‘apenas’ cinco UEFA Liga dos Campeões e três Supertaças europeias, troféus que se reveem nos quatro FIFA Mundiais de Clubes. Vestindo a camisola canarinha conquistou uma Taça das Confederações.
Como um dos jogadores que marcou a sua geração, não ficou fora de prémios individuais. Foi seis vezes nomeado o melhor lateral esquerdo FIFA, participando na equipa do ano, bem como o melhor defesa esquerdo do Brasileirão.
Apesar de todas as medalhas reluzentes que carrega ao pescoço, é nos pés que Marcelo tem o seu verdadeiro brilho. Cavalgando a ala esquerda, com passes, receções, fintas e dribles é possivelmente o lateral esquerdo com maior qualidade técnica da História do desporto rei. Afinal, quem não se lembra da resseção de bola contra o Bayern Munique em plena meia-final da Champions League, parecia que estava na praia, a jogar com os seus amigos.
Nessa mesma partida, contra os gigantes alemães, Marcelo fez dupla com o seu eterno parceiro da ala esquerda merengue, Cristiano Ronaldo. Inclusive, assistiu, no ano anterior, mas também contra os germânicos, nos quartos-de-final, para o cinco vezes Bola de Ouro. Claro que a parceria com o capitão da Seleção Nacional gerou momentos que se eternizaram, especialmente devido à qualidade técnica de ambos. Quando o camisa sete deixou Madrid em direção à Juventus FC, foi substituído por Vinícius Jr. e a qualidade de Marcelo manteve-se com a promessa brasileira. Marcelo tem a capacidade de potencializar quem o rodeia.
Sendo natural da ala esquerda, é com o tempo que se adapta fielmente ao papel de defesa, mas nunca completamente. A sua irreverência enquanto criativo era muito superior ao seu sentido defensivo (ou capacidade). Saía de situações de desvantagem numérica de forma genial, como nenhum outro lateral o havia feito antes. Adepto do passe curto e desmarcação, funcionava quase como um ‘número 10’ no Real Madrid, isto com um meio-campo que contou com nomes como Toni Kroos, Luka Modrić, James Rodríguez, Kaká, Isco, ou Ángel Di Maria.
Além da sua capacidade enquanto jogador, que se expande muito para lá da técnica, sendo um lateral muito inteligente e com imensa capacidade tática, inclusive um líder de balneário, Marcelo tem uma relação com a bola como poucos. São imensos os vídeos de treinos do atleta ou situações com a bola fora do relvado, onde podemos ver a sua felicidade com o esférico, bem como a relação misteriosa que partilham. Há poucos (se houver) como Marcelo.