Os últimos jogadores de rua: Ángel Di María
Aquele jogador que chuta de letra quando necessita de usar o pé direito, pois o pé mais forte é o canhoto. Este é Ángel Di Maria. Um dos verdeiros praticantes do futebol de rua. Uniu a técnica, que por si nasceu numa rua de Rosario, na Argentina, à irreverência e criatividade nata que possui e criou um dos maiores magos que o desporto rei já viu. Por vezes é complicado procurar entender o que vai na sua cabeça quando este tem uma bola nos pés, um dos mais imprevisíveis de sempre, mas temos constantemente a certeza que, aquilo que ele sacar da cartola, vai ativar uma reação no estádio.
Tem a alcunha de “El fideo”, traduzido de argentino para português significa: magro. Também podemos definir o seu futebol como magro, ou fideo, ou até esguio, mas é mesmo isso que ele é. Arrancando pela ala, passa pelos adversários como se fossem pingas da chuva, é certeiro, mas indomável. E os seus movimentos técnicos bebem da mesma fonte.
Após uma UEFA Champions League, uma Supertaça europeia, uma Copa América, uma Finalíssima Intercontinental e um Mundial FIFA, não referenciando os 25 troféus nacionais divididos entre Portugal, Espanha e França, regressou ao SL Benfica este verão. Um momento que demorou 13 anos a acontecer. Rejeitou mudanças para a Arábia Saudita e para a MLS e decidiu ficar na Europa, numa equipa com a qual tem uma ligação e onde vê um projeto. Isto também é um pouco do futebol de Ángel Di María.
A sua receção no Estádio da Luz, junto da estátua de Eusébio, exemplifica o que os adeptos veem em si, um autêntico encantador de bancadas, daqueles que leva os fãs a ir ver o jogo lindo. De alguma forma, sente-se o mesmo quando o vemos a levantar o troféu de Campeão do Mundo, em dezembro de 2022, junto de Lionel Messi e companhia. É um daqueles jogadores que fica bem na fotografia enquanto segura a taça, dá gosto e relembra que o futebol está em casa.
Além de toda a aura que carrega, também pode ter um compilado de fintas e dribles num vídeo em montagem e vai deixar sem palavras quem o ver. Às vezes é complicado nomear o que sai dos pés de Di Maria, não é uma roleta de Zinédine Zidane ou uma virgula de Ronaldinho, pois é impossível atribuir um nome. É simplesmente aquilo que sai dos pés de Ángel Di María.
Provavelmente, o melhor jogo que Di María realizou na carreira, nem sequer marcando um golo, foi, ironicamente, o ‘La décima’. A décima Champions League dá história do Real Madrid FC, um jogo carregado da tal aura do futebol. Foi o motor dos merengues e parece que tudo o que fez saiu de forma correta. A quantidade de arrancadas estonteantes, dignas de antigas leias argentinas, foram o elemento fundamental da partida e consumaram-se com a assistência para Gareth Bale fazer o 2-1, já no prolongamento.
Com certeza, será um dos relembrados pelos verdadeiros adeptos do futebol puro, daqui a uns anos. Nunca terá o impacto mediático, mas ainda bem que assim é, pois tirava a piada a quem lhe pode observar nos anos dourados. Inexplicável e perfeito, seja nas tais ruas de Rosário ou num final disputada em Lisboa.