O meu nº10, ou uma carta de amor a Rui Lima
Antes de expor o meu artigo deste mês, devo dizer que tive um bloqueio criativo sobre o tema que haveria de vos trazer. Mas graças a Deus, faço-me acompanhar de excelentes escolhas de podcasts, e ao ouvir o Destino Saudade do Zerozero sobre o perigo da extinção dos nº10 dos nossos relvados, fez-se luz na minha cabecinha e resolvi trazer o melhor nº10 que vi mais vezes ao vivo. Ora, o meu camisa 10, como dizem os meus amigos Brasileiros, foi um regalo para os meus olhos durante os 5 anos em que vestiu a camisola da minha União Desportiva Oliveirense, onde o futebol por vezes era repetitivo, maçador e num relvado que por vezes roçava um lamaçal. Porém a magia do pé esquerdo do Rui Lima, dava para atenuar o pouco futebol em alguns jogos no Carlos Osório.
Melhor só há um, Rui Lima. Que senhor pic.twitter.com/hjyvHteroG
— Ricardo (@ricostalmeida) April 13, 2020
Formado na mítica escola axadrezada, onde jogou com Nuno Gomes, Delfim, Mário Silva e até Petit, Rui Lima era um dos nomes em destaque do Boavista formador nos anos 90, chegando a ser internacional sub-19 por Portugal.
Não chegou a ser campeão pelo Boavista (empréstimo ao CD Chaves), mas integrou o plantel da época seguinte onde se estreou na Champions contra o colosso Bayern Munchen em 2001/2002. Nessa época fez 15 jogos, marcando apenas 1 golo.
As lesões e a pouca compreensão do seu jogo, por parte dos seus treinadores sempre foram um problema na carreira do jogador, e talvez por isso não teve voos mais altos no seu Boavista, como na primeira divisão portuguesa.
Joga ainda no Vitória Futebol Clube e Beira-Mar, antes de ter a sua experiência no Chipre onde não correu muito bem. Rui Lima chegou a Oliveira de Azeméis na época 2010/2011, e logo se notou o calibre do craque nortenho. Ajudou o clube carneiro a protagonizar uma época sólida na segunda liga, onde lutou até ao fim para subir de divisão. A UDO ficou em quarto lugar, apenas a 5 pontos do primeiro lugar (Gil Vicente) e segundo lugar (Feirense) e a 4 do terceiro (Trofense).
Nessa época de estreia jogou 29 jogos e marcou 9 golos.
Já na época seguinte o plantel sofre algumas mudanças e não fica tão “cascudo” como em outras épocas, principalmente a nível de alternativas no banco. Logo a prestação no campeonato oscilou muito ficando em sexto lugar no campeonato. Porém esta equipa foi até às meias finais da taça de Portugal, contra a Académica de Coimbra de Pedro Emanuel.
Feito único que até hoje tenho memórias dessa eliminatória. Do jogo que não merecíamos ter perdido em Coimbra, do qual voltei para casa em silêncio. De rever esse jogo umas 10 vezes e ainda acreditar que o Ivan Jaime e o Clemente vão marcar. Jogar em casa emprestada na segunda mão, disputado na casa do rival Feirense (por falta de condições de infra-estrutura no Carlos Osório), e de acreditar que era possível ir ao Jamor, depois do Adriano ter feito o 2-1. Mas…o golo do Marinho, no início da segunda parte, destrói o sonho do menino que queria ver o clube da terra ir a uma final da taça. Enfim, é lidar!!!
Apesar deste final não tão feliz, o que fica é a prestação da UDO numa época longa e desgastante, em que o meio campo era chave para o sucesso. Zé Pedro, Oliveirinha e Rui Lima fizeram uma época muito positiva, que segundo o próprio Rui Lima, se não fosse a “distração” taça, se calhar lutavam por um lugar na primeira divisão naquele ano. E eu tendo a concordar com o maestro.
Nesse ano fez 33 jogos marcando 3 golos. Nos últimos anos de UDO, Rui Lima além de ser o talismã da equipa, tornou-se numa máquina de golos, marcando um total de 41 golos em 3 anos.
A época onde se destacou mais foi com o técnico João de Deus, onde assume de vez a batuta do jogo (nº10 puro), era letal no último passe, e na cara do golo não perdoava. Era marcador das bolas paradas e todos sabiam que o perigo vinha dele. Números impressionantes para quem tinha 36 anos, numa segunda divisão muito física, e num clube onde o contra-ataque era dominador por natureza.
Pena que essa fase não culminou com nenhuma boa prestação do emblema do norte de Aveiro. Em vez de ser Rui Lima e mais dez, era apenas Rui Lima, ponto!
Talvez poucas pessoas se lembrem dele no futebol português, não teve a carreira que muitos dos seus colegas de formação tiveram, mas o seu perfume de maestro deixava o sócio nº 1233 na bancada central do Carlos Osório a suspirar por mais e a sonhar pela subida de divisão. Não foi Rui Costa nem Zidane, tão pouco um Deco ou um Totti, mas foi o meu melhor nº10 no Carlos Osório!