O legado e influência de Manuel Sérgio no desporto português pt.1
Veremos neste artigo, o enorme trabalho realizado pelo Professor Manuel Sérgio, onde muitos dos nomes do Desporto Português reconhecem o trabalho, o legado que contribuiu para o que é hoje o Desporto Português.
Como referi no artigo anterior, tive a oportunidade (e a sorte) de privar com o Professor Manuel Sérgio, onde teve um impacto significativo e uma influência enorme naquilo que é a minha postura, a minha visão e mentalidade como treinador. Naquela altura, foi me dada, por ele, a possibilidade de realizar um artigo sobre a sua teoria, para a Revista AB Fútbol (Espanha), onde realçamos muitos conceitos importantes, alguns vão ser aqui apresentados neste artigo, na voz dos intervenientes que lhe prestam a homenagem e tributo merecidos.
O Professor Manuel Sérgio, dedicou a sua vida ao pensamento e ensino na área do desporto, tendo ainda acompanhado o percurso de alguns dos maiores treinadores portugueses, casos de José Mourinho, José Maria Pedroto e Jorge Jesus.
Além do trabalho efetuado dedicado ao desporto, Manuel Sérgio foi deputado na Assembleia da República entre 1991 e 1995, pelo Partido da Solidariedade Nacional, do qual foi o primeiro presidente. O Professor Manuel Sérgio construiu uma trajetória fantástica, tanto no campo académico como no desporto. Foi professor universitário (onde se destaca a Faculdade de Motricidade Humana), foi também deputado e filósofo. No entanto, o seu maior legado é a obra escrita, onde abordou o desporto de uma maneira que ultrapassava as fronteiras da prática desportiva em si. Uma frase da autoria do Professor que ficará celebre:
«Quem só sabe de desporto, de desporto nada sabe». Trata-se de uma frase que ele gostava de repetir constantemente, lembrando-nos que o desporto é, antes de mais, uma expressão do ser humano em toda a sua complexidade.
O Professor defendeu a Epistemologia da Motricidade Humana, enquanto nível de analise principal para explicar o rendimento desportivo.
Manuel Sérgio defendia, acima de tudo, a integridade no desporto, e por isso outra frase conhecida dele, assim o demonstra:
“É mais importante uma lágrima humana do que todas as taças do Mundo”. Manuel Sérgio, criador da ciência da Motricidade Humana, salienta que para se ser treinador é preciso perceber a complexidade das actividades humanas. “Físico, só, não chega.”
O Professor Manuel Sérgio desafiou o pensamento dominante sobre o desporto.
Integrou a filosofia, a pedagogia e a ética na sua abordagem. É considerado como um dos grandes pensadores do desporto em Portugal, destacando-se pela sua visão crítica e pela capacidade de integrar o desporto na análise mais ampla da sociedade.
Naquele tempo, a sua tese de doutoramento, «Para uma Epistemologia da Motricidade Humana», foi impactante e criou muito cepticismo acerca do tema e daquilo que o tema defendia. Para os crentes na sua tese, esta abriu novos horizontes para a compreensão do movimento humano, mostrando que a motricidade vai muito além do aspeto físico: trata-se de um movimento intencional e solidário, que envolve também a mente, o sentimento e a transcendência.
Manuel Sérgio foi um mentor com grande influência para treinadores de nome como, entre outros, José Mourinho, Jorge Jesus (entre outros), defendendo sempre a ética, a transcendência e o respeito pela integridade dos atletas.
De facto, tanto José Mourinho como Jorge Jesus falam muito da relação que tinham com o Professor Manuel Sérgio, e ambos lhe tecem grandes elogios. O Professor era um humanista que observava o desporto como uma oportunidade para o desenvolvimento integral do ser humano. Para ele, a superação era fundamental para o crescimento pessoal e coletivo.
Podemos afirmar que o legado do Professor Manuel Sérgio transcende a sua obra escrita, influenciando não apenas os treinadores, mas todos aqueles que se dedicam ao campo da educação física, da pedagogia e da filosofia. O seu impacto perdura na formação de profissionais e na valorização do ser humano em todas as suas dimensões.
A missão que Manuel Sérgio assumiu durante décadas a fio foi ensinar-nos a olhar o desporto não apenas como uma prática física, mas como um caminho de superação, de aprendizagem e de transcendência.