O dia em que a minha vida mudou graças ao Football Manager
Existem momentos nas nossas vidas que nos levam para direções inesperadas. Em 2005 eu vivi um destes momentos.
Quem diria que um “simples” simulador de futebol, em que controlamos tudo num clube, iria me proporcionar o maior vício na minha vida até hoje (algumas pessoas dirão que meu vício maior é o café, mas isso fica para outro texto).
No início eu não achava piada às 22 bolinhas que iam de um lado para o outro, e sempre que havia um golo, a barra central inferior piscava loucamente sinalizando o feito.
Para quem estava habituado a jogar FIFA ou PES, o jogo parecia um tanto simplório. Mas nada mais erróneo.
Ao mesmo tempo, naqueles dias nascia uma vontade dentro de mim, algo que acompanhou a minha geração. Eu não queria ser um jogador de futebol, eu queria ser o próximo Mourinho. Eu queria muito poder gerir um grupo de atletas e liderá-los às conquistas de inúmeros títulos, tal como Mourinho fazia nesse período. E só no nosso querido Football Manager da Sport Interactive podíamos fazer tal feito, não é verdade?
Pois bem, lembram-se de eu dizer que foi um momento que mudou a minha vida? Não é exagero. Acredito que para muitos que irão ler esta crônica aconteceu o mesmo. No dia em que me deram o meu primeiro portátil e instalei o FM05, eu não dormi minha gente…! Eu fiz direta ao preparar a minha época na minha estimada União Desportiva Oliveirense.
Em qual outro jogo tínhamos esta riqueza de detalhes, preparar a semana de treinos, procurar o novo Figo antes dos tubarões mundiais, acalmar o Jô porque queria ir para o Feirense (estupidez eu sei), golear o Pombalense no Carlos Osório e depois perder com a Sanjoanense no Conde Dias Garcia, quando eles só foram à nossa baliza uma vez, uma única vez! Isto meus caros leitores, é FM!
Como não ficar vidrado com tamanha simulação? impossível.
Nos dias atuais, o vício do FM é diferente. O simulador está mais refinado, mais realista do que nunca, e para mim é algo que sinceramente me deixa em cima do muro. Se por um lado adoro esse realismo, onde posso evoluir jogadores medíocres e conseguir ganhar campeonatos com baixo orçamento, por outro lado odeio quando os jogadores pedem aumento de ordenado porque marcaram 3 golos, e 3 deles um hat-trick em 30 jogos.
Não queria ter que lidar com isso. Em certa parte, a alegria do jogo se perde através destes realismos. É que depois de um dia longo de trabalho, quem é que têm paciência para isso e as conferências de imprensa? No entanto, é a verdadeira experiência de ser treinador, ou melhor, um verdadeiro Manager.
Outro facto que sempre me fascinou, foi a sua vasta lista de jogadores reais, que são vistos por dezenas de pessoas ao redor do mundo, os verdadeiros olheiros da Sport Interactive.
Hoje já vemos vários dirigentes que admitem procurar talentos no FM para depois se aprofundarem com mais critério junto dos seus scoutings. Assim podemos dizer também que o jogador chave do Independiente Del Valle é um craque a sério, tal como Luís Freitas Lobo.
Um bom exemplo disso é a história do Firmino, que atuava na Série B brasileira. Foi descoberto pelo Hoffenheim através do simulador e contratado por 4 milhões de euros em 2011 ao Figueirense.
Não bastasse esta deliciosa história, finalizo com o conto de fadas derradeiro. Will Still, treinador belga, confessou recentemente que hoje é treinador profissional graças ao FM. E quando começou a treinar uma equipa sénior no seu país natal, o Sint-Truiden da segunda divisão Belga, ele usava o FM como ferramenta para o ajudar a montar a melhor táctica para a sua equipa. Hoje ele é treinador do Reims, que está a fazer bom arranque no Ligue 1, ocupando a 4ª posição.
Football Manager não é um jogo. Na verdade é muito mais que um simulador. É porventura a melhor ferramenta para nos ajudar a perceber melhor o futebol que tanto amamos.