Nikos Godas: o partisan centro campista do Olympiakos
Todos os Homens são atores da História, seja de forma consciente ou inconsciente, assim como as relações sociais, políticas e económicas inferem diretamente na vida das pessoas marcando de uma forma vincada todas as suas ações. Como Karl Marx escreveu no seu livro 18 de Brumário, “os Homens fazem a sua própria História mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.
E, no caso do futebol grego, existe uma figura cuja sua ação no espaço temporal em que viveu acaba por ser uma demonstração da observação feita por Karl Marx.
O personagem em questão é Nikos Godas, jogador do Olympiakos cuja vida começou e acabou em momentos decisivos da história grega.
Godas nasceu no ano de 1921, no seio de uma família grega na cidade costeira de Ayvalik, que se localiza na Turquia. Ayvalik era composta inteiramente gregos, mas por consequência da Guerra da Independência Turca e por ordem de Mustafa Kemal – mais conhecido por Attaturk, ou “Pai dos Turcos” – a família de Nikos Godas e vários milhares de outras pessoas foram obrigadas a abandonar o território turco e a deslocar-se para a Grécia. O processo inverso também se verificou, com milhares de turcos a abandonarem a Grécia.
A família de Godas estabelece-se no Pireu, cidade que efervescia com uma crescente agitação política. Foi nessa cidade portuária que Nikos entrou em contato com os seus dois grandes amores: o Olympiakos e o KKE (Partido Comunista Grego). Por conta da dureza que uma família de refugiados tem que enfrentar para viver o dia-a-dia, Nikos Godas começa a trabalhar pelo porto da cidade para ajudar os pais, mas reservando sempre o seu tempo para jogar futebol. Começa a jogar na equipa de uma empresa portuária chamada Kaminia e por conta do seu bom futebol cumpre o seu sonho: ser jogador do Olympiakos.
Tudo corria de feição a Godas, mas em 1941 – ano em que vence a Taça da Grécia com o Olympiakos – as Forças do Eixo (Alemanha nazi e Itália fascista) iniciam a operação Marita, que culmina com a ocupação alemã da Grécia. Nikos e outros milhares de democratas gregos formam grupos partisans para combater a ocupação nazi e os colaboracionistas.
Aos 22 anos, Nikos Godas foi apontado como capitão do 5º Batalhão do ELAS (Exército Democrático da Grécia), pelo qual, em dezembro de 1944, participa nas batalhas de Atenas e do Pireu.
Na sequência da batalha de Atenas, um outro jogador, este do AEK de Atenas, Spyrou Kontoulis, igualmente militante do KKE, foi fuzilado pelos Nazis, após ter sido preso e torturado no campo de concentração de Haidari.
No final da segunda guerra mundial, a sociedade grega encontrava-se profundamente polarizada. O KKE contestou o resultado das primeiras eleições gregas e a imposição de uma monarquia que privilegiava os interesses das potências ocidentais.
Os partisans recusaram-se a entregar as armas e tentaram uma revolução que culminou na Guerra Civil Grega (1945-1949). Durante esse conflito, Nikos Godas é capturado pelas forças monárquicas e fica encarcerado na ilha de Corfu – curiosamente, é esta ilha o berço do futebol helénico, onde a 29 de Janeiro de 1866 se jogou a primeira partida de futebol, que foi disputada entre marinheiros britânicos e um conjunto de gregos locais.
Ao fim de três anos de cárcere, Godas é condenado à morte por fuzilamento. No dia 19 de Novembro de 1948, o outrora centro campista do Olympiakos foi retirado da cela para se apresentar diante de um pelotão de fuzilamento.
Ao perguntarem-lhe qual seria o seu último desejo, Nikos pediu para vestir uma camisola vermelha e branca e que não fosse vendado, para que a sua última visão fossem as cores do Olympiakos. De camisola listrada e cabeça erguida fitou os seus carrascos e, antes da ordem de disparo, teve ainda tempo para dizer: “Viva o Olympiakos! Viva a Republica! Viva o Partido Comunista Grego!”.