Jontay Porter: Banido por apostar numa… liga de apostas

Nuno CanossaAbril 28, 20244min0

Jontay Porter: Banido por apostar numa… liga de apostas

Nuno CanossaAbril 28, 20244min0
Nuno Canossa olha agora para o caso de Jontay Porter, que foi banido da NBA por apostar... um problema cada vez mais crónico no desporto

A 17 de Outubro de 2023, assinava um artigo aqui no FairPlay intitulado “O porquê de os jogadores continuarem a apostar” como resposta à suspensão de Sandro Tonali por incorrer numa atividade que fora e continuará a ser obrigado a representar, em forma de patrocínio. Pouco mais de um mês depois, a 30 de Novembro, numa referência dostoievskiana de um “Crime e Castigo” aplicado à liga norte-americana de basquetebol, criticava o comissário da NBA, Adam Silver, por falta de critério na avaliação do comportamento dos seus jogadores.

Menos de meio anos depois, sou forçado a sair em uma espécie de defesa de Jontay Porter.

O CASO

Jontay Porter, 24 anos e irmão mais novo de Michael Porter Jr. Após 2 anos de basquetebol universitário em Missouri, falha a seleção no draft de 2019. Pescado pelos Grizzlies, estreia-se na NBA em 2020/2021, voltando apenas em 2023/2024 ao serviço dos Raptors após várias estadias na liga de desenvolvimento (G-League). A 25 de março do presente ano, no mesmo mês em que saem notícias da estreia de uma ferramenta que permite apostar no decorrer dos jogos no league pass da própria NBA, é iniciada uma investigação sobre uma série de suspeitas de um comportamento irregular de Porter, no âmbito das apostas desportivas. Apostava contra si e contra a própria equipa. A 17 de abril, é banido para o resto da vida.

A DEFESA

Estranho mundo em que se condena o mesmo comportamento que se promove efusivamente. Um evidente caso em que nem acusado nem acusador podem proclamar isenção de culpa, mas com ainda maior evidência de qual o maior derrotado da história. Serão as consequências sofridas por Jontay Porter justas, sabendo da atitude promocional da NBA que se tem rendido exponencialmente aos lucros das casas de apostas? E que conclusões se retirarão do caráter de Adam Silver e seus conselheiros, além de que, aparentemente, abusos sexuais e violência doméstica são, na realidade NBAesca, delitos menores do que desrespeito pela integridade da modalidade?

Não querendo repetir argumentos usados aquando da minha tentativa de compreensão, e não justificação, pelos hábitos viciosos de alguns atletas num mundo de hipercapitalismo semiótico, creio ser difícil não acreditar que Adam Silver continua a falhar na proteção dos seus atletas, consequentemente manchando, caso após caso, a imagem da organização que comanda.

O castigo de pena máxima a Jontay Porter é, acima de tudo, um aviso. Possível pela irrelevância da figura no panorama geral da liga norte-americana, e direcionado invariavelmente aos restantes que, por não deixarem de ser também humanos, não estão ainda destituídos dos pecados morais que conduz qualquer mero mortal a condenações na ordem moral ou legal.

O aumento do gambling no produto, impera a implementação de um cerco sanitário a uma fornada de atletas que tem crescido numa sociedade em que desporto e apostas não são propriamente dissociáveis. A tendência evoluirá, até porque capital equivale a mais capital e [inserir nome de competição desportiva] com [casa de apostas] tem provado repetidamente tratar-se de um casamento idílico sem perspetivas de divórcio.

O JULGAMENTO

Em suma, Jontay surgiu como a cobaia perfeita. Acredito que o próprio rendimento e o da equipa, associado ao ato da aposta, não são meros detalhes. Mas nem por isso cessa de ser um forte apontamento para qualquer comportamento vicioso ligado ao próprio jogo. Talvez, Porter seja merecedor de um castigo pujante, por um comportamento invariavelmente condenável. Talvez, a outros Porters e Bridges se justificasse a mão altiva que Adam Silver enfim ergueu. Em todo o caso, forjada a hipocrisia de uma liga que condena atletas a quem paga caro para vender um produto que pouca ou nenhuma falta faz à esfera do desporto, envenenada por uma atividade que traz mais malefício que benefício à vida humana. Vejam a do Jontay Porter, por exemplo.


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