O jogo que abalou a sociedade irlandesa
Em 1955, a sociedade irlandesa – em particular a dublinense – enfrentou um cisma sócio-politico que teve a sua origem num jogo de futebol.
A Football Association of Ireland (FAI) convidou a selecção da República Socialista Federativa da Jugoslávia para um jogo amigável, que teria lugar no dia 19 de Outubro de 1955 no Dalymount Park (Dublin).
Um evento que se previa calmo tornou-se numa disputa política entre os sectores mais conservadores da sociedade e os mais progressistas, muito devido a John Charles McQuaid – Arcebispo de Dublin.
John McQuaid, um convicto anticomunista, transformou a oposição à realização deste jogo na sua cruzada pessoal.
Convocou as diversas organizações católicas irlandesas, várias figuras da alta sociedade e dos mais altos cargos políticos irlandeses para organizar protestos contra o jogo agendado pela F.A.I.. O motivo relacionava-se com a ordem de prisão do Arcebispo de Zagreb, Aloysios Stepinac – ordenada pelo Marechal Tito.
O Arcebispo Stepinac havia cooperado com as forças nazis e com os Ustase, porém condenou o extremínio de judeus.
Houve muita dificuldade por parte dos atletas jugoslavos em conseguir o visto de entrada na Irlanda, mas a situação foi resolvida e, no dia 19 de Outubro, a turma balcânica apresentou-se no relvado de Dalymount, onde goleou a equipa da casa por 4-1.
No dia anterior à partida, o Arcebispo McQuaid abençoou os jogadores irlandeses para defrontar e derrotar “os satânicos comunistas” – que, pelo resultado da partida, poderá constatar-se que de pouco adiantou.
O historiador irlandes John Cooney classificou este jogo como “uma revolta popular da classe operária dublinense frente as forças conservadoras da sociedade”. Ao tentar boicotar aquele que era – e continua a ser – a atividade cultural mais popular entre a classe operária, por parte de um bispo que “almejava controlar com mão de ferro a moralidade de um país”(John Cooney).
As expectativas iniciais da assistência apontavam para 5.000 pessoas, mas foram superadas chegando aos 22.000, que presenciaram – segundo jornais da época – “uma vitória estrondosa de uma melhores seleções do mundo”.