Stranger Rules: Não posso pedir timeout? Então… peço timeout!
Há vários desportos onde é possível pedir um timeout em certas alturas do jogo. Usar estes descontos de tempo é, em muitos casos, uma arte. No basquetebol há certos momentos onde é quase obrigatório pedir um timeout e, quando a situação chega, a maioria dos adeptos já sabe o que aí vem. Uma dessas ocasiões é, no final do jogo, quando a equipa que tem a bola precisa de marcar um cesto com pouco tempo disponível.
Isso foi precisamente o que aconteceu no jogo 5 das Finais da NBA de 1976. Mas antes do mítico timeout, é importante contextualizar.
O jogo e o caminho até à regra estranha
A decisão do campeonato era entre os Boston Celtics e os Phoenix Suns e estava empatada 2-2. O jogo 5 daria uma vantagem importante a uma das equipas e o jogo foi muito equilibrado. No final do 4º período o jogo estava empatado e foi para prolongamento.
A intensidade do jogo e o equilíbrio mantiveram-se no prolongamento. Cada equipa marcou apenas 6 pontos e o empate manteve-se, levando o jogo para um 2º prolongamento. As duas equipas estavam cansadas e jogava-se já mais com o coração do que com a cabeça.
O segundo prolongamento teve mais pontos e, a 4 segundos do fim, os Celtics perdiam por 1 ponto e tinham uma reposição de bola no meio campo ofensivo. A bola entra nas mãos de John Havlicek que ataca o cesto e faz um lançamento extraordinário. A bola entra e os Celtics estão na frente por 1 ponto.
O jogo foi em Boston e, por isso, com o tempo a chegar ao fim, os adeptos invadiram o campo a festejar. Loucura no pavilhão e festa dos Celtics. O único problema é que, ao rever o lance, os árbitros concluíram que, quando o lançamento de Havlicek entrou, havia ainda 1 segundo de tempo útil. Depois de tirarem todos os adeptos do campo, tudo estava pronto para jogarem o último segundo. 111-110, 1 segundo para o fim, vantagem para os Celtics e os Suns com a bola.
O timeout mítico e a regra estranha
John MacLeod, treinador dos Suns, fez o que qualquer treinador faria: pediu um timeout. Desta forma os Suns podiam preparar uma jogada e avançar a bola até ao meio-campo dos Celtics. Sem esta ação, os Suns teriam de começar a jogada debaixo do seu cesto, com apenas 1 segundo para lançar.
O pedido de timeout foi fácil e clássico na NBA. O problema é que os Suns já não tinham descontos para pedir. Isso é considerada uma falta técnica e os Celtics puderam, por isso, lançar um lance livre. 112-110 para os Celtics. A parte da estranha da regra entra agora, os Suns mantêm a bola e podem avançar até ao meio campo ofensivo. Ou seja, os Suns trocaram 1 ponto pela possibilidade de fazer um lançamento possível.
Com apenas 1 segundo, a bola entrou nas mãos de Garfield Heard e num lançamento dificílimo, à meia volta com o defesa em cima e com um lançamento quase instantâneo, Heard mete a bola no cesto. Delírio da equipa dos Suns e o jogo estava novamente empatado e seria preciso mais um prolongamento.
O jogo acabou, aí, por ser ganho pelos Celtics, que depois acabaram por se sagrar campeões, mas tiveram de suar. Este é considerado por muitos o maior jogo da História da NBA. Emoção, desespero, lançamentos incríveis e… regras estranhas.
O problema da regra e a mudança
A regra é problemática e não faz qualquer sentido. Deixar uma equipa ter um timeout quando essa equipa já gastou todos os disponíveis, não faz sentido. Mesmo que isso custe 1 ponto (1 lance livre, na verdade), o negócio compensa. Compensa quebrar as regras. MacLeod, ao comentar o jogo anos mais tarde afirmou que os Suns prepararam 2 jogadas possíveis para esse lançamento. Isto foi possível apenas com o recurso a um timeout que não existia.
Na prática a regra não trouxe grandes problemas, os Celtics ganharam o jogo e o campeonato, mas este jogo expôs um grande problema nesta regra. A NBA interveio e mudou a regra para algo que, na minha opinião faz mais sentido. Pedir um timeout que não existe dá um lance livre ao adversário, mas também a bola passa para o adversário.
Esta mudança bloqueia o uso infinito de descontos de tempo e impede que, neste caso, treinadores ou jogadores se aproveitem das regras e dos seus “buracos”. Uma mudança necessária que só não veio tarde demais porque os Celtics sempre conseguiram ganhar o “melhor jogo da História da NBA”.