Stranger Rules: Um guarda-redes não marca golos, nem que queira
Quem já jogou jogos eletrónicos de futebol tem um sonho constante (cumprido ou não): pegar na bola com o guarda-redes, fintar a equipa adversária e fazer um golo. Certo? Na vida real isto não acontece, mas temos, no futebol e noutros desportos, guarda-redes que fazem golos. O futsal é um exemplo disso, onde temos guardiões a subir e fazer golos.
É um elemento raro e diferente, que acrescenta uma imprevisibilidade ao jogo e nenhum desporto ia impedir que isso acontecesse, certo? Certo, NHL? Pois, a liga norte-americana de hóquei no gelo é presença assídua nestes artigos de regras e hoje volta a ser protagonista.
Contexto e regra
Para sermos justos, a NHL permite a troca do guarda-redes por um jogador “de campo” para criar superioridade numérica em momentos em que a equipa precisa desesperadamente de um golo. Aqui a comparação com o futsal é ainda mais intrincada, já que também aí há esta possibilidade. É um aspeto tático importante do jogo e que pode ser bem explorado por quem o usa e por quem está do outro lado.
A principal diferença reside no resto do jogo, quando nenhuma equipa está a usar este recurso. No futsal nada impede um guarda-redes de amarrar uma bola na sua área, colocar a bola no chão e, ao estilo de FIFA ou PES, correr com ela até à área contrária e fazer um golo. Pois, é aí que a NHL decide divergir.
Os guarda-redes no hóquei do gelo não podem interferir no jogo (jogando o disco ou noutros jogadores) no meio campo ofensivo. A linha de meio campo delimita o campo oficial para quem joga naquela posição. Cai por terra o sonho de ver um guardião fazer o impensável e fazer uma arrancada monumental até ao golo.
O título do artigo é uma hipérbole e está errado. Os guarda-redes podem marcar golos na NHL, desde que o façam a partir do seu meio campo defensivo. Fácil, portanto.
História de origem da regra
Esta regra surgiu, como muitas no mundo do desporto, por causa de um episódio específico. O protagonista chamava-se Gary Smith e jogava, na época de 1966-1967, nos Toronto Mapple Leafs e raramente jogava. Num jogo em que teve essa oportunidade, Gary resolveu tentar agarrar o lugar ao marcar um golo. Depois de uma defesa, pôs o disco no gelo e arrancou em direção à baliza contrária.
Gary passou o meio campo, passou a linha azul entrando bem no meio campo adversário e estava pronto para tentar fazer golo. Até que é completamente atropelado por um defesa adversário, farto daquela brincadeira (quem nunca expulsou um jogador quando um amigo resolve arrancar com um guarda-redes num jogo de consola?).
No contra-ataque do adversário um colega de Gary Smith salvou o golo e, com isso, a arrancada não saiu mais cara ao guarda-redes. Nos dias seguintes a NHL criou a regra a impedir os guardiões de fazerem isto.
Gary Smith confessou em entrevista que uma das coisas que mais lamenta é nunca ter conseguido marcar um golo. Gary tinha o sonho de fazer no gelo o que todos queremos fazer na consola, mas a NHL matou esse sonho não só a ele mas a todos os futuros guarda-redes do desporto que gostariam de ser o Rogério Ceni do gelo. Mais do que uma regra estranha, esta é uma regra injusta para os sonhos de quem joga e de quem vê.