E a todos, um bom 2024
E, num abrir e fechar de olhos, passou-se 2023. Um ano marcado pelas guerras russo-ucraniano e israelo-árabe, sem esquecer umas tantas dezenas, que por não interessarem ao Ocidente, não aparecem na televisão. Um ano de catástrofes naturais que tremeram e sopraram a morte nos continentes africano e asiático, acentuadas pelo aquecimento global. Um ano de vitórias da extrema-direita na Europa e na América do Sul, com o ódio e discriminação social a banalizarem-se. Para além das inevitáveis fome, pobreza e desigualdade, com a novidade do ano a pertencer à ascensão e confirmação das ferramentas de Inteligência Artificial nas sociedades do primeiro mundo.
Ao mesmo tempo, foi também o ano em que LeBron quebrou um dos mais prestigiados recordes da NBA, o da primeira Champions League do Manchester City e o que viu Djokovic assumir a liderança da lista dos mais titulados da história dos Grand Slams. Um choque violento daquela que se supõe a mesma realidade. Só que, *alerta de spoiler*, não é.
2024 entra em cena e continuar-se-ão os conflitos entre diplomacia e interesses político-económicos, em prol da morte de milhares de inocentes. Conhecer-se-á novos líderes em Portugal e nos Estados Unidos, que em dimensões distintas, poderão pôr em causa a integridade da democracia, em prol do populismo. E, ainda assim, 2024 será também o ano do Europeu de futebol, dos Jogos Olímpicos de Paris, de descobrirmos se os Nuggets reconquistarão o troféu Larry O’Brien ou qual dos três grandes fará a festa em maio. E está tudo bem!
A espetacularização do desporto não é criação do século XXI e tem entretido o ser humano desde, pelo menos, a Antiguidade Clássica. O que evolui ao longo dos séculos é um destaque social que o torna um dos produtos mais vendidos, em tempos de instantânea difusão, que permitem a sobreposição de highlights, merchandising, polémicas e vida privada dos atletas ao próprio jogo. Invariavelmente, ao serviço dos poucos, que mandam em “tantos” em vez de “tão poucos”. Ganham os donos e acionistas, as casas das apostas, os comentadores da controvérsia e do ódio, os media sensacionalistas. Perde a arte do desporto e perdemos todos nós.
Futebol, basquetebol, ténis, andebol, hóquei em patins, futebol-americano e os outros. Experiências sociais que se tornaram em meros bens de consumo. Em quantas televisões e telemóveis cabe uma equipa? Os noventa minutos de jogo, mas também as declarações dos protagonistas, e os comentários às declarações, os resumos, as análises sem fundamento nas redes sociais, os prognósticos… Que exaustão. Quanto sobra para o resto?
Para 2024, ponderei desejar que o desporto fizesse uma inversão de marcha. Que voltasse a ser apenas sobre reunir um grupo de amigos ou família e caminhar até ao estádio ou ao pavilhão. Que cada jogo voltasse a ser apenas aqueles minutos para escapar a tudo resto, ainda antes de se ter tornado em “tudo o resto”. Mas depois lá me lembrei. Coitado do desporto, a culpa não é nem nunca foi dele.