Derrota: uma oportunidade para melhorar
Este mês estive presente numa formação em São João da Madeira, onde estiveram presentes os selecionadores nacionais de três modalidades: do andebol o Paulo Pereira, do hóquei em patins o Renato Garrido e por fim, Jorge Braz e Zé Luís do Futsal. Ficou-me na retina uma expressão do selecionador de andebol Paulo Pereira: “ver a derrota como uma oportunidade de melhorar”. E esta expressão fez-me pensar bastante no assunto e, confesso, que não podia estar mais de acordo.
Por definição, derrota é insucesso, resultado desfavorável, desastre, revés.
Para um treinador, na minha opinião, é fundamental que ao surgir a derrota, as atletas saibam que não é o reflexo individual e que, se algo não correu bem, as razões são a equipa como coletivo e se surgiu o insucesso, o revés, é reforçar que a equipa é um coletivo e não um só conjunto de indivíduos sem conexão entre si.
Quando a derrota aparece, é normal uma equipa ficar absorvida nos seus erros individuais, sentimentos de culpa, e, com isso, levar a uma quebra da confiança na próxima tarefa e até falta de motivação para o jogo seguinte.
Em vez de personalizar uma derrota, é importante que o foco da equipa seja na forma como se deve melhorar como uma unidade. Isto significa, analisar o jogo como um todo e identificar as ações nas quais a equipa não esteve tão bem. Houve falta de comunicação? A equipa teve dificuldade em perceber/suster determinada estratégia da equipa adversária?
Ao identificar estes fatores a equipa pode trabalhar como um todo para melhorar o que aconteceu e, cabe aos treinadores, criarem mecanismos para que a sua equipa saiba enfrentar estes problemas e dar a volta aos mesmos.
É importante que as atletas consigam apoiar-se uma às outras, mantendo uma dinâmica grupal positiva, ao invés de apontar dedos ou culpabilizar-se individualmente. Deve ser passado às atletas que elas devem trabalhar em conjunto para identificar as áreas onde a equipa pode melhorar.
Neste sentido, creio ser necessário criar, perante o grupo, um espaço de abertura para que as atletas possam expressar as suas frustrações. Isto pode ajudar no processo para que a equipa consiga dar a volta de uma forma saudável e ter vontade de melhorar.
E aqui é onde se encaixa a frase de Paulo Pereira. Perceber que uma derrota é uma oportunidade valiosa para crescer e inovar, abraçando a derrota como uma oportunidade. Uma equipa que dá passos certos e firmes para corrigir os erros e aumentar os níveis de performance no jogo seguinte está mais perto de alcançar a vitória.
Focar nos aspetos importantes e positivos do jogo e criar o hábito das atletas refletirem sobre o jogo é importante para que percebam que, apesar da derrota, também tiveram momentos positivos e que são capazes do sucesso. Neste aspeto, é importante identificar áreas em que podemos melhorar e focar o grupo em soluções e não deambular nos problemas. Ajudar a equipa a enfrentar estes problemas e promover soluções para que, no futuro, caso apareçam novamente problemas, a equipa saiba enfrentá-los de uma forma mais capaz.
Uma derrota pode ser um obstáculo difícil de superar, mas criando mecanismos de suporte eficazes para uma equipa conseguir dar a volta, mantendo um ambiente positivo, permitir que as atletas possam exprimir-se de uma forma segura, propondo trabalhar sobre o erro a partir de um objetivo global e não individual e assumir que o erro faz parte do desporto, do jogo e da vida, é fundamental para que uma derrota seja o primeiro caminho para conseguirmos melhorar e evoluir como equipa.