Caderneta dos Cromos ao ritmo da magia do Boca Juniors
O Boca Juniors é um clube também ele único, vibrante e de uma tonalidade azul profunda que move toda uma Bombonera a um ritmo som! A Caderneta dos Cromos relembra dois mágicos dos Xeneizes que nunca mais podem ser esquecidos!
RIQUELME E O PORQUÊ DE EXISTIREM CADA VEZ MENOS ROMÂNTICOS NO FUTEBOL?
Palavras de Riquelme retiradas de uma entrevista que explica a opinião do antigo futebolista de existirem menos “mágicos”: “Nos campeonatos de várzea aprende-se tudo. Jogar nos campeonatos de várzea é como ir à escola. Hoje os meninos chegam a primeira divisão mais inocentes do que nos chegávamos antigamente, simplesmente porque há coisas que a formação não te ensina.
O que eu aprendi nos campeonatos de várzea para ganhar dinheiro, não se ensina. Um jogador de primeira divisão tem de saber parar a bola e passá-la bem. Minimamente. Isso é o que ele tem de saber para jogar futebol. Quando vejo um jogo da primeira divisão e vejo que erram um passe fácil, fico louco. Talvez será difícil fazer isso e eu vejo-o como vi fácil.
Outra coisa: o Futebol converteu-se numa empresa. Fala-se de nutricionista, fisioterapeuta, deste e daquele, do empresário e do dirigente. Antes não se falava de nada. Falava-se do jogo. Ou jogavas bem ou jogavas mal. Não me vendam um conto, porque o futebol não é uma empresa. É um jogo belo onde temos que jogar melhor que o adversário. Se o entendermos assim, vamos caminhar no caminho certo.”. *várzea- termo utilizado para traduzir a palavra argentina “potreria” que consiste num terreno de jogo de terra batida, normalmente existente em bairros da periferia ou em zonas rural. Os campeonatos de várzea ou Potreria são imagem de marca do futebol amador da América Latina.
PALERMO E O PORQUÊ DE SER O ÚNICO CROMO APLAUDIDO NO EL MONUMENTAL
Palermo é amado porque é a cara do seu povo. Sim, claro, é também amado porque é “só” o melhor marcador de sempre do Boca Juniors. Mas há algo mais que o distingue.
Infelizmente, há vidas na Argentina que são pautadas pela pobreza, onde se dança diariamente com a fome e com a tristeza, na esperança de que não venha um novo encosto de ombro que nos empurre em direcção à linha lateral.
No fundo, tu sabes que o vento não sopra a teu favor, mas tu remas. Palermo foi esse rapaz. Assim como muitos argentinos que se revêem nele. Não são os mais talentosos, mas têm uma força capaz de mover montanhas.
Apesar de ter tido uma carreira rica, foram muitas as lutas com que se deparou. Em 1999, durante um jogo frente ao Colon de Santa Fé, rebentou os ligamentos do joelho. Continou a jogar e nesse mesmo jogo fez o golo 100 pelo Boca Juniors. Guerreiro. Esteve parado 6 meses e 14 dias. Voltou num jogo decisivo para o Boca Juniors: a segunda mão dos quartos de finais contra o River. O Boca tinha perdido por 2×1 no El Monumental e precisava de ganhar. Palermo fez o 3-0, o golo que sentenciou a passagem do Boca. Saiu da Bombonera a chorar e em ombros. Nesse mesmo ano venceu a Libetadores e a Taça Interncontineal contra o Real Madrid (fez os dois golos da final, damn).
Em 2006, um dia antes de um jogo, o filho dele morreu à nascença. Pediu ao treinador para jogar e marcou dois golos, celebrando com lágrimas . Palermo foi o único jogador do Boca a ser ovacionado no El Monumental, na casa do rival. Na campanha rumo ao Mundial da Africa do Sul, a Argentina penava para passar. Maradona, enquanto treinador, viu em Palermo uma arma interessante para jogar num jogo difícil dos Play-offs, contra o Perú.
E assim foi, lançou-o às feras. Num dia de chuva intensa, Palermo está no sítio certo no segundo certo e faz o golo que permite à Argentina chegar ao Mundial. Há quem diga que foi um golo de sorte. Eu acho que chamar sorte a qualquer que seja o sucesso deste guerreiro, é blasfémia. É tudo sobre muito querer, paixão pelo jogo, coragem e um espírito de guerreiro que só podia sair de um povo tão guerreiro como o da América Latina que, como dizia Galeano, tem as veias abertas.