Caderneta de Cromos e Iván de La Peña, O Pequeno Buda
Texto escrito pelo caderneta.de.cromos
Iván de la Peña foi o primeiro sinal de que o meio campo do Barcelona do futuro iria ter pequenos (literalmente) gênios a comandar, organizar, comandar e pautar o jogo do famoso Tiki Taka.
Ele nasceu em Santander, Espanha, em 1976. Foi no clube da sua cidade natal, o Racing Santander, que Iván começou a dar os primeiros passes num campo de futebol.
Aos 14 anos foi recrutado pela La Masia e cumpriu os últimos anos de formação futebolística na cantera do Barça. Perito na forma como recebia e reencaminhava a bola para o melhor colocado colega de equipa, rapidamente chamou a atenção do treinador da primeira equipa do Barcelona.
Como se ser escolhido para representar o Barcelona não bastasse, quem o promoveu ao elenco profissional foi nada mais nada menos do que Johan Cruyff. Decorria a época de 1995 quando Iván fez a sua estreia com o terno do Barcelona, num jogo frente ao Valladolid. Resumindo o seu primeiro jogo: entrou, marcou e ganhou.
O jovem, na altura com 19 anos, tentava marcar posição num meio campo com Guardiola, Hagi, Amor e Bakero mas, como podem imaginar, não era fácil. Foi considerado pelos adeptos como a grande promessa blaugrana e era visto pela maioria dos aficionados como o futuro patrão daquele meio campo. Mas o seu treinador Cruyff tinha umaopinião diferente:
“A sua técnica é, no mínimo, medíocre. Isso não quer dizer que ele não venha a aprender, depende do nível que eu o coloque. Por exemplo, ele ainda so joga com uma perna. Dessa forma ele não pode ter uma técnica perfeita. Angel Mur, o nosso massagista, tem 53 anos e joga com as duas pernas”.
Facilmente se entendeu que estas palavras tinham o intuito de fazer descer à terra o jovem prodígio que os adeptos já colocavam como produto terminado. Não, na verdade ele tinha muito que evoluir e trabalhar muito para que isso acontecesse.
Apesar da pesada concorrência e dos desafios que teve que enfrentar ao longo do tempo, De la Peña foi uma constante no jogo do Barça (em três anos, participou em 104 jogos), tanto sob o comando de Johan Cruyff (apesar da critica) como, mais tarde, de Bobby Robson. As vitórias na Recopa Europeia, Taça do Rei e Supertaça Europeia fizeram do centro campista o melhor jogador jovem nesses dois anos, de acordo com votação do El País. Porém, em 1998, o general Louis Van Gaal fechou as portas do plantel ao Pequeno Buda. Assim, aos 22 anos Iván arrumou as malas e viajou para Roma para representar a Lazio.
Pouco utilizado, foi emprestado ao Marseille, clube que também não lhe concedeu o espaço que Iván procurava para se afirmar definitivamente como um grande centro campista. Amargurado com as passagens pelo estrangeiro, retornou a Barcelona, mas desta vez, para o Espanhol de Barcelona. No meio de tantos emblemas representados num curto espaço de tempo, parecia que Ivan já estava no fim da sua carreira. Mas não.
O menino estava com 25 anos e estava pronto para oferecer o seu melhor futebol. E assim foi. No Espanyol entrou em 2002 e só saiu em 2011 para pendurar as botas.
“Nos clubes grandes ganhar é uma obrigação e ficar em segunda é um fracasso. Aqui, as alegrias se desfrutam muito mais e nos momentos difíceis sentes muito mais o apoio e isso vale muito mais do que um título.”
Num clube como o Espanhol, com ambições mais modestas, Iván foi uma das grandes figuras do elenco durante os vários anos que representou aquele terno. Fez com Tamudo uma das melhores duplas alguma vez vistas pelos adeptos do Espanyol. Para além da qualidade imprimida no jogo, o Espanhol alcançou patamares interessantes nestes anos. Conseguiu levar o Espanyol a uma final da Copa da Europa e venceu uma Copa do Rei, algo grandioso para um clube da dimensão do Espanyol.
Um pequeno gigante que deixará saudades a todas as bolas existentes nos campos de Barcelona. A forma como ele carinhosamente a recebia e, com todo altruísmo, voltava a entrega-la a outro colega para a deixar sempre feliz.