Paulo Santos. “Ganhar os Jogos Nacionais da China veio coroar a minha experiência”
Em um ano e meio em solo chinês, o treinador português Paulo Santos acompanha todos os passos realizados na antiga capital chinesa quando o assunto se trata de futebol. Na primeira época, ele esteve presente na marcante conquista dos Jogos Nacionais da China e caminhará agora para elevar o recém-fundado Xian United City FC ao topo da elite nacional. Confira a entrevista exclusiva do Fair Play com Paulo Santos, mais um dos nossos a brilhar na China:
Começo por perguntar a ti, Paulo, sobre como se deu o início de sua carreira?
PS: O meu início de carreira aconteceu nos seniores do Candal como preparador físico. Após terminar a licenciatura em desporto.
O Vitória de Guimarães foi uma das suas grandes experiências, no entanto, você também passou por outras grandes equipas. Qual delas mais te marcou e em qual você escolheria para o primeiro retorno à Portugal?
PS: O Candal e o União de Lamas foram os que mais me marcaram por terem sido os clubes onde trabalhei mais tempo. No Candal iniciei a minha carreira e treinei seniores e os juniores e no Lamas foi onde iniciei o percurso como treinador principal. O Vitória significou um momento de viragem por ter aprendido e partilhado conhecimentos com treinadores de alto gabarito como o Luiz Felipe, Rui Veiga, Tozé Mendes e Sander Krabendam.
Mas antes desse retorno, prevejo que tens ainda muito anseio e muito trabalho a ser desenvolvido na China. Como chegou o convite para sua ida a essa nação que incessantemente luta para ter dias ainda mais gloriosos mundialmente?
PS: Um amigo treinador perguntou-me se tinha interesse em ir para a China. E enviei o CV como aconteceu mais de trinta vezes. Uma semana depois esse meu amigo ligou-me a dizer que o empresário me iria ligar porque os responsáveis chineses me tinham escolhido. E assim foi. Na semana seguinte estava em Chengdu, na província de Sichuan.
Com um ano e meio de moradia, aprendestes o mandarim e como é viver em Xi’an (a família toda está aí contigo)?
PS: Estou a aprender mandarim e devo fazer nos próximos tempos o exame para que conste no CV. Viver em Xian é fantástico, uma cidade com vários portugueses que concilia a história de ter sido capital da China com o moderno. O que ainda estamos a ponderar em família é se nos mantemos assim ou não. Mas o ensino em Portugal é do melhor que há no mundo e por isso temos optámos por deixar o meu filho estudar em Portugal e estamos juntos nas suas férias escolares.
A sua chegada a China se deu como treinador adjunto no Shaanxi Chang’an Athletic, uma equipa recém-promovida e que tinha muitos objetivos na sua primeira época no celeiro profissional chinês. Como foi este primeiro ano na equipa e como se deu essa imediata adaptação à China?
PS: Foi a top. Encontrei equipa técnica e dirigentes muito abertos ao meu auxílio. Muito exigentes com o que eu fizesse mas ao mesmo tempo sempre prontos a auxiliar-me.
O que faltou ao Shaanxi Chang’an Athletic nesta primeira época para à subida de divisão e como foi a conquista da 13ª edição dos Jogos Nacionais da China?
PS: Faltou experiência e a estrela de campeão. Ganhar os jogos nacionais veio coroar a experiência porque para mim foi o meu primeiro título internacional e logo numa das competições mais representativas na China.
A temporada de 2017 foi ainda um ano de encontro e partilha de vivências com outros portugueses Manuel Cajuda, Pedro Rodrigues e Floris Schaap (um holandês que fez grande parte da sua carreira em nossas terras). O que representou este encontro com eles nesta ocasião e o quanto eles te auxiliaram (vice e versa) na competição?
PS: Infelizmente nunca tive a oportunidade de conviver pessoalmente com nenhum deles. Na altura do play-off fui mantendo contacto com o Floris graças a uma amizade ímpar e de generosidade. E com o Pedro fui falando por telefone regularmente pela grande amizade que nos une pois ele iniciou a sua carreira comigo quando assumimos o União de Lamas.
Desde a Super Liga Chinesa até as divisões de baixo, o futebol chinês tem atraído e sempre atraiu muitos fãs locais. Assim como, por exemplo, os adeptos fanáticos do Shaanxi Chang’an que lideraram todos os públicos na última edição da terceira divisão chinesa. Esperavas encontrar toda aquela massa e como esse encontro com mais de 20 mil fãs apaixonados por partida na China League Two (3° escalão)?
PS: Impensável. Ainda hoje sou muito acarinhado pelos adeptos que têm um amor ao clube acima de tudo exemplar.
No Shaanxi Chang’an você também acumulava funções de analista e preparador físico. Qual era importância desse trabalho de avaliação das equipas adversárias chinesas e porque nesta época, por exemplo, o Shaanxi Chang’an quando está longe de sua torcida não tem conseguido sequer somar pontos?
PS: Isso, mas também recuperador físico, preparador físico e análise, como citados. É sempre importante estarmos preparados e conhecermos o que iremos defrontar. Quanto a esta época não posso responder pois, não estando por dentro, não consigo determinar as razões.
Em 2018, você assumiu um outro compromisso em Xian e agora irá comandar o Xian United City Football Club no quarto escalão. Quais os motivos para ter ingressado nesse projeto e quais são as ambições desta nova equipas?
PS: Em Xian reconheceram-me com capacidades para liderar o processo e ao mesmo tempo verifiquei haver curiosidade por verem sem restrições como é o treino do treinador português. Daí o convite. Apesar dos objetivos passarem unicamente pela passagem da primeira fase.
Como é a formatação (peças/jogadores) que você possui nesta equipa e quando inicia a sua trajetória com este novo emblema?
PS: 90% dos jogadores são alunos universitários. Jovens com potencial mas sem experiência. E o campeonato só começa em agosto.
Tens observado algumas informações sobre a Liga dos Campeões da China? Quais equipas você vislumbra como principais adversários do Xian United City FC?
PS: A informação sobre o potencial das equipas ainda é escassa, até porque ainda se encontra aberto o período de inscrições e realizações da fases provinciais.
Sendo o Xian United City uma equipe jovem, é possível alcançar a China League Two ao final da Liga dos Campeões da China (4º escalão)? Qual a expectativa para esta competição que reuniu mais de mil clubes no último ano?
PS: A diferença de orçamento é abismal para se pensar no que se pode fazer. Procurar provar que com treino adequado, boa liderança e felicidade se consegue atingir patamares de superação.
Como você tem visto o trabalho de Marcello Lippi à frente da seleção chinesa? É possível dizer que esta seleção e os jovens chineses estão em um bom caminho neste momento?
PS: Está a criar os alicerces lentamente. Parece-me um dos treinadores mais capazes para a tarefa. Mas precisará que todas as seleções nacionais tenham treinadores que se identifiquem com a sua linha de pensamento. Ainda é cedo para assegurar isso mas claramente que estão significativamente melhores que no passado.
Acreditas que a China será um dia essa “grande” potência que tanto almeja Xi Jinping e o seu povo?
PS: É difícil preconizar isso porque ainda estão no seu início. Portugal é um país pequeno e teve a sorte de ter alavancas como Carlos Queirós ou José Mourinho que nos fizeram mudar tudo. Mas num país tão grande a informação necessita de mais tempo. Está a fazer investimentos na formação, que é o acertado, e cada vez tem de fazer mais para o desenvolvimento de quadros competitivos.
Por mais quanto tempo espera ficar na China ou no futebol asiático?
PS: Enquanto me sentir útil e me quiserem por cá, ficarei na China.
Por último agradecemos a sua disponibilidade Paulo Santos e finalizamos perguntando sobre qual a sua previsão lusitana para Portugal no Mundial da Rússia? A conquista virá desta vez?
PS: Penso que o Brasil será o mais forte candidato. Tem um naipe de jogadores brilhantes e um treinador fantástico que entusiasma todos os que se cruzam com ele.