Luís Bessa, o suave cavalheiro do CDUP

Helena AmorimMaio 26, 20256min0

Luís Bessa, o suave cavalheiro do CDUP

Helena AmorimMaio 26, 20256min0
Lenda do CDUP, Luís Bessa foi entrevistado por Helena Amorim que falou sobre o passado, presente e futuro do rugby nacional

A entrevista decorreu (por sugestão do Sr. Luís Bessa) num espaço sublime para quem é adepto da modalidade: o bar desportivo CLUBE Porto Rugby na Rua Guerra Junqueiro 626, no Porto.

Foi a minha primeira interacção com o local e só tenho boas coisas a dizer, inclusivamente a simpatia do Diogo Reis, dono do espaço: “sabe? Aquela camisola do Montpellier que ali está na parede, foi o Aaron Cruden quem ofereceu!”.

Eu e o Sr. Luís Bessa fomos apresentados aqui há anos, num jogo entre CRAV e CDUP no Estádio da Bataria em Leça da Palmeira  e qual não é o meu espanto, ao verificar que o Sr. Luís ainda se lembrava! Sempre com uma refinada educação e cavalheirismo, a conversa foi tão natural e despretensiosa, que me manteve de sorriso rasgado de início ao fim (e foram duas horas muito bem passadas!).

Luís Castro Silva Bessa nasceu há 72 anos em Cedofeita, numa família de um irmão (João Paulo Bessa) e 4 irmãs, tendo exercido na área da Gestão Financeira. Tem um filho e duas filhas e ainda três netos, vivendo atualmente em Miragaia.

Como, quando e com quem, começou no rugby?

O meu irmão teve a gentiliza de me levar a um jogo no extinto Estádio do Lima e fui por aí fora.

Que percurso teve dentro do rugby?

Joguei pela Associção de Estudantes da Faculdade de Medicina e ainda fui jogador, dirigente e treinador do CDUP. Jogava a abertura e cheguei a ser chamado para a selecção júnior e quando fui chamado à sénior, tive uma lesão que me afastou, tendo sido o Zé Spinolla a fazer o lugar de abertura.

Também fui treinador da Selecção Centro-Norte, em parceria com o Júlio Faria, outra com o Sérgio Franco e uma vez sozinho.

Visto que teve um papel importante junto de uma selecção regional, o que acha desta inexistência actual?

Acho mal. As selecções regionais são uma mais-valia pelos jogos e  pelos treinos. Chegamos a fazer Navarra e País Basco e são experiências muito marcantes e oportunidades de crescer e conhecer pessoas com maneiras diferentes de trabalhar o rugby.

Era muito importante reactivar e estimular a riqueza que é contactar com outras pessoas, outra cultura, outro nível, até, de rugby.

As experiências pelos clubes e pelas selecções regionais fora do País, são essenciais para o crescimento da modalidade.

Por exemplo, eu fiz, há muitos anos, o curso de treinadores em Bordéus e Toulouse, por volta do fim dos anos 80, início dos 90, (ainda não havia a classificação atual), com a Federação, entretanto, a atribuir-me o Grau III, em 2012. Estive num regime de internato por 8 dias, era o único português, onde estavam 22 treinadores no total (tudo do Top 14, 2 da Jugoslávia, 1 de Marrocos). Partilhei o quarto com o treinador de Marrocos e a certa altura, ele saca do apito e dá-mo e os treinadores disseram logo “ em França, apitos, é para cães!”, e eu nunca dei um treino a usar um apito. Foi muito enriquecedor, muito.

Pelo CDUP, por exemplo também, jogamos contra o Narbonne cá e lá e lembro-me que num dos jogos, o meu irmão marcou 16 pontos e eu 11. Há coisas que não esquecem. Também jogamos em Itália contra uma equipa universitária de Milão.

Como analisa o actual panorama nacional a nível de clubes?

A força maior continua a estar concentrada na capital. Uma maneira de minimizar esse fosso que existe (entre litoral e interior e entre todo o país e a capital), era subsidiar os transportes de equipas que têm que fazer grandes deslocações, porque é um custo insuportável e depois não sobra nada, por exemplo para formação de treinadores, que também faz muita falta.

Bom…penso que há demasiados clubes na divisão de honra, talvez 6 ou 8 fosse o ideal porque há resultados muito nivelados, principalmente numa primeira fase, onde ninguém ganha com isso, não se aprende nada.

Como vê o desempenho da Federação?

Eu tenho muito respeito por quem está a trabalhar mas a Federação já funcionou melhor. A federação exige e talvez algo não esteja a funcionar bem. Faltam os profissionais da modalidade junto das escolas, falta trabalho junto das comunidades, especialmente as mais carenciadas, pois é aí que a escola de valores que é o rugby (devido ao colectivismo e o colocar sempre a equipa à frente) pode ser mais útil.

A comunicação está péssima…ainda hoje tentei saber uns resultados e vi-me aflito e eu estou dentro, imagine-se quem não está…fica ali 15 dias e não encontra nada! Não consigo entender.

Mas uma coisa boa, foram os contactos que o novo selecionador andou a fazer pelo país todo. Ainda lanço o repto: porque não, explicar qual será a tática e estilo de jogo da selecção, aos diferentes clubes e convidar os treinadores (que têm a sua autonomia, claro. mas apenas convidar) a tentarem implementar alguns princípios nos clubes. É que uma vez os jogadores chamados à selecção, haveria princípios que já não seriam totalmente estranhos.

Ainda há a terceira parte?

Risos. Acho que sim, acho que sim. Mas aquilo é fantástico, quando há bom ambiente. Velhos e novos colegas, amigos, música, é muito importante.

Entretanto, uma entrevista com o sr. Luís Bessa, não segue um plano estrito e rigoroso (e ainda bem!), pois as histórias são tantas e tão ricas, que esta humilde narradora, sugeriu ao entrevistado que se dedicasse a escrever um livro, porque esta riqueza não pode desaparecer, não deve desaparecer. Acho que lhe despertei ali qualquer coisa… Entretanto, aqui fica uma história…

“Quando terminou o curso de treinadores, o Auguste Pasqual do Biarritz, fala comigo e diz: olha, vais apanhar o transporte para regressar a Portugal, mas entretanto, para não ires sozinho muito tempo, anda comigo e ficas em minha casa e no dia seguinte segues viagem. Fui muito bem recebido e fiquei até altas horas a falar sobre rugby e no dia seguinte, vou a abrir a porta e vejo uma mensagem no chão, em papel, a dizer, que não está ninguém em casa mas o pequeno almoço estava preparado e que eu estava à vontade. Bem, onde é que isso acontecia aqui em Portugal? A confiança que depositam nas outras pessoas, só porque eu era do rugby! Priceless!”

“Eu também tive a honra de ter sido convidado para fazer parte dos Portuguese Barbarians e fomos jogar à Escócia. Bom, ali então, era mesmo todas as portas abertas. Uma camaradagem, uma maneira de estar, muito diferente da nossa. E que bons tempos que foram!”.


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