Frederico Duarte.”Mesmo antes de andar já tinha uma bola sempre na mão”
Frederico Fonseca Pires Almeida Duarte, conhecido no mundo do futebol como “Fred” é um jovem português de 21 anos que veste a camisola 14 do Panetolikos na Superliga (1ª Liga Grega). Joga como extremo sendo a sua velocidade, drible e frieza na finalização, as principais armas do seu jogo. Atuou ao lado de Rafael Leão, Thierry Correia e Luís Maximiliano na sua formação no Sporting Clube de Portugal. Alinhou ainda no Sacavenense e Vilafranquense, tendo há 2 anos mudado para o futebol grego.
Nesta altura em que a pandemia por Covid-19 obrigou à interrupção da maioria dos campeonatos profissionais, fomos conversar com Frederico Duarte para perceber como é que os profissionais de futebol estão a lidar com esta situação. Além disso, fomos saber mais sobre a carreira deste diamante por polir e sobre os seus planos futuros. Junte-se a nós que a entrevista vai começar!
Frederico, como nasceu este bichinho para o futebol? Ainda te lembras do primeiro golo que marcaste?
Olá a todos, desde já queria agradecer esta oportunidade concedida pelo FairPlay, mais concretamente pela pessoa do José Nascimento.
Começando pelo bichinho para o futebol, desde de que me lembro, jogo futebol e desde pequenino, mesmo antes de saber andar, já andava sempre com uma bola na mão. Mas começou mais a sério quando tinha 7 anos. Os meus pais levaram-me a umas captações das escolinhas do Sporting e passados 2 meses, o Sporting chamou-me. Desde os 7 anos, quando entrei para o Sporting, foi quando comecei a jogar mais a sério.
Em relação ao primeiro golo, não é fácil lembrar-me assim do golo porque era muito pequeno. Mas assim, o meu golo mais marcante quando era pequeno, aconteceu na final do Torneio do Algarve, quando tinha 9/10 anos. Marquei um golo na final ao Benfica. Esse golo é o que me recordo melhor.
Como foi fazeres a formação num “grande” como é o Sporting ao lado do Rafael Leão, Thierry Correia, Luís Maximiliano e Rúben Vinagre? Quais foram as maiores dificuldades que passaste? E, como conciliavas os treinos e jogos , com os estudos?
Como é óbvio, foi sempre um orgulho jogar num grande como é o Sporting e fazer parte dessa grande instituição que é o Sporting Clube de Portugal. Para além de ser um adepto desde pequeno do Sporting, sempre foi um acréscimo de felicidade jogar lá. Mas pronto, era sempre difícil, porque tínhamos sempre um lote de jogadores com muita qualidade, mais especificamente no nosso ano -1999- que é um ano com muitos bons jogadores. Portanto, desde pequeno que tive sempre muita competitividade dentro da equipa, no entanto, tínhamos um bom ambiente, o que foi bom para aprender.
Em termos de dificuldades, foi a passagem para a academia aos 12/13 anos, pois até lá jogávamos no Estádio Universitário, as camadas jovens. É uma diferença grande, porque passámos a ir todos os dias num autocarro, a seguir às aulas, para os treinos. Muitas vezes, tínhamos que faltar a algumas aulas, porque costumávamos ir cedo. Alguns professores eram tolerantes, outros não eram muito, algo que me chateava um bocadinho.
Em relação à escola, sempre foi difícil conciliar as duas coisas, mas com a ajuda da minha família e dos meus irmãos, acho que consegui conciliar bem as duas coisas. Ainda consegui entrar em Rio Maior, em desporto, mas agora, com a saída de Portugal, tive que congelar a matrícula e quem sabe, mais tarde voltarei.
Depois do Sporting, ingresaste no Sacavenense… sentes que foi “dar um passo atrás para depois dares dois em frente”? Pois, passados dois anos és um jogador profissional a atuar na 1ª Liga Grega.
Acho que foi muito importante, aconteceu quando eu era 1º ano de júnior e é sempre uma passagem difícil, pois é quando começamos a jogar com pessoas do ano acima. Era mais difícil para mim jogar e na altura achei que andar um bocadinho para trás, indo para o Sacavenense, tinha a oportunidade de fazer mais jogos e de voltar a ter um bom ritmo competitivo, o que aconteceu e me permitiu agora estar no nível em que estou. Sinto que foi uma boa decisão no geral.
Depois mudaste para a Grécia, como é que foi a tua adaptação a este novo ambiente?
Foi uma mudança radical porque eu jogava no Vilafranquense que estava no CNS (Campeonato Nacional de Seniores), ou seja, já é um nível competitivo muito elevado, mas em termos de qualidade de futebol, não se compara ao nível em que estou agora na Grécia. Foi uma diferença abismal quando lá cheguei. Ajudou-me o facto de ter jogadores com mais qualidade no plantel, também o facto ter ido com dois portugueses e de haver ainda alguns brasileiros e sul americanos no plantel. A junção destes factores fez com que eu me conseguisse ambientar àquele novo nível de futebol.
Para ti, quais são as principais diferenças entre o futebol grego e o futebol português?
Na minha opinião, o futebol grego e futebol português têm algumas parecenças, porque existe uma certa discrepância entre as equipas “grandes” e as equipas “pequenas”, sendo que, em Portugal, essa discrepância tem vindo a ser atenuada, com o passar do tempo. Na Grécia, sinto que as equipas “grandes” estão um bocadinho mais afastadas das outras equipas, do que em Portugal. Em Portugal, temos o Porto, Sporting, Benfica e Braga, que têm sempre um nível superior às outras equipas. Na Grécia, temos cinco equipas que, em relação às outras, se tornam muito difíceis de bater. São elas: o PAOK e o Olympiacos que disputam o campeonato, a seguir temos o AEK de Atenas que também é muito forte, está sempre nas competições europeias e também luta pelo campeonato muitas vezes. Depois temos o Panathinaikos e o Aris que ano sim, ano não, estão sempre mais acima, mas que são dois clubes com história e com muita qualidade.
Agora com o Covid-19, como é que o teu clube, o Panetolikos, está a gerir esta situação em termos desportivos?
É um acontecimento novo para todos, como para qualquer outro trabalho e empresa. O nosso clube tem enviado semanalmente planos de treino para fazer a partir de casa e é assim que nos estamos a manter fisicamente, mas cabe a cada um ser profissional e tratar de si para estar ao mais alto nível, quando a situação estabilizar.
Quais são os teus planos futuros?
Neste momento estou feliz lá, tive uma grande oportunidade de jogar no futebol grego e este ano tive mesmo muitas oportunidades e deu para me destacar. Como é óbvio, o meu sonho é subir sempre mais um nível, mas agora, com esta situação do coronavírus, não conseguimos fazer grandes planeamentos para o futuro. Gostaria de subir mais um nível futebolisticamente falando. No geral, sinto-me bem lá na Grécia.
Qual é o teu principal conselho para quem persegue este sonho de se tornar jogador profissional?
Como profissional que sou neste momento, posso dizer a todos os jovens que estão a começar agora o futebol mais profissional, que nunca é fácil subir do patamar da formação para o profissional e muitas vezes, como aconteceu no meu caso, temos que dar um ou dois passos atrás, para conseguirmos chegar ao nível que sempre sonhámos e que nos deixa feliz. Vamos ter sempre pedras no caminho, mas com força de trabalho e com esperança, acho que conseguimos chegar ao patamar com que sempre sonhámos.
Como Fernando Santos disse na entrevista na qual estive presente, hoje em dia, os jogadores não têm amor à camisola, visto que a carreira é mais importante, porque, no fundo, é isso que os vai sustentar para o resto da vida. Concordas com esta afirmação?
Concordo em parte, porque hoje em dia, há muitos jogadores que abdicam de ter uma carreira na Europa, num clube mediano ou mesmo top, por causa da parte financeira. Acabam assim por rumar para a Ásia, Estados Unidos, mas não digo que seja a maioria dos casos. Eu, neste momento, posso dizer que não faria isso, porque sendo jovem, ainda sonho chegar a um patamar de uma equipa que ganhe um campeonato ou jogue na Champions ou na Liga Europa. Para mim , o sonho é tentar chegar ao topo do Futebol Europeu. Não digo que o dinheiro não seja importante, pois em qualquer trabalho, tentamos ter o máximo de rendimento possível. Todos nós sabemos que o futebol não dura para sempre e por isso também é importante pensar nesse aspecto. Mas neste momento, o mais importante é chegar a um patamar que sempre sonhei e por isso vamos lá ver…
Se pudesses, o que mudarias no futebol atual?
É uma pergunta difícil. Acho que um facto que tem desviado o foco da beleza do jogo e de ir ao estádio ver os melhores jogadores ao vivo, é esta parte financeira de que estávamos a falar. Porque muitos dos jogadores que têm uma qualidade acima da média acabam por optar sair de um país onde se pratica bom futebol, para ir para um campeonato mais fraquinho. Acabam assim por “roubar” o futebol puro das melhores equipas, dando mais importância ao dinheiro, do que ao desporto em si mesmo.
Qual foi o teu colega de equipa que mais te marcou?
Não tenho nenhum colega de equipa que me tenha marcado para a vida (futebolística). Foi mais o plantel sub 17, que era um plantel com muita qualidade, com alguns nomes que já disseste e com outros que continuam por aí a dar cartas. Foi nessa altura em que dei o click e comecei a pensar mais no futebol profissional.
Qual foi treinador com quem mais gostaste de trabalhar?
Tive treinadores que me ajudaram muito a crescer como jogador e como pessoa e olhar para o futebol de forma diferente. Um deles foi o Tiago Fernandes que chegou a ser treinador principal do Sporting e que teve muitos anos na formação. Ele foi o meu treinador nos sub 14 e depois voltou a ser o meu treinador nos juniores, ajudou-me muito a nível pessoal, porque quando era novo, não me focava tanto no que é o futebol profissional e no futebol somos obrigados a crescer um bocado mais rápido que as outras crianças, porque temos que tomar muitas decisões e é um mundo muito competitivo. Outro treinador que não podia deixar referir foi o treinador do Sacavenense, Nuno Samarra que me apoiou e me deu a mão quando mais precisei, que me pôs a jogar mais tempo e com mais regularidade, o que me permitiu recuperar aquela alegria que tinha perdido.
O momento mais difícil da tua carreira?
Penso que esse momento foi, sem dúvida, a mudança para a Grécia, porque nunca tinha jogado fora de Lisboa, sempre vivi em casa dos meus pais. Fui para uma realidade completamente diferente que eu não conhecia, um país diferente, com uma língua diferente e tive que me habituar a viver sozinho e a tratar das minhas coisas, sozinho. Para além do futebol que foi uma grande mudança, pessoalmente foi o momento em que me senti mais “à prova”, porque tive que me habituar a esta mudança repentina. Foi uma parte dura da minha vida, mas agora olho para trás e vejo que foi, sem dúvida, a melhor opção futebolisticamente falando e que me ajudou muito a lançar a minha carreira.
Se tivesses de fazer uma equipa com os 5 melhores jogadores com quem já jogaste ao longo da carreira, quem seriam?
Na baliza, o Luís Maximiliano do Sporting é uma referência que eu tenho, de trabalho e também porque é uma grande pessoa, na defesa, o Rubén Vinagre que joga agora no Wolves, o Daniel Bragança que está agora no Estoril e que, mais cedo ou mais tarde, vai chegar a um patamar muito alto e o Rafael Leão que é um jogador com muita qualidade. Por fim, o Pedro Amaral que atua neste momento no Rio Ave.