Até Sempre, Vidal Pinheiro

Francisco da SilvaJunho 24, 20183min0

Até Sempre, Vidal Pinheiro

Francisco da SilvaJunho 24, 20183min0
Em mais um artigo da rubrica "Futebol Popular" o Fair Play recupera um dos estádios mais emblemáticos do futebol português, Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro.

O coração do Porto divide-se hoje perante os dois emblemas maiores da cidade, FC Porto e Boavista FC, porém, dificilmente o imaginário do comum dos adeptos consegue esquecer um pequeno clube portuense que atuava num recinto tão “claustrofóbico” como entusiasmante, o Sport Comércio e Salgueiros. Parte do encanto em relação ao Salgueiral devia-se não só ao seu caráter eclético e amistoso, como fundamentalmente ao seu “velhinho” estádio.

Construído nos anos 30 na freguesia de Paranhos, o campo pelado salgueirista recebeu inicialmente o nome de Augusto Lessa, contudo, ficaria posteriormente imortalizado pelo nome de uma das personagens mais ilustres da cidade, Alexandre Vidal Pinheiro, desportista dedicado, engenheiro e figura da resistência ao Estado Novo ou simplesmente “Capitão Vidal Pinheiro”.

Desde que o Sport Comércio e Salgueiros passou a atuar naquele recinto, o rendimento e a qualidade futebolística do emblema começou gradualmente a crescer, nomeadamente pela forma como a freguesia de Paranhos e arredores se envolvia com o clube e pela proximidade à bancada que inibia os adversários. O Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro sempre foi uma estrutura incómoda para os visitantes: as ruas e bielas de acesso eram estreitas, as linhas do campo colavam-se às bancadas, as bancadas de madeira berravam constantemente de excitação, o pelado era um campo de batalha intragável. A fama do Salgueiral começava a crescer para lá dos limites de Paranhos.

A madeira do auditório foi substituída pelo cimento, a luz artificial emergiu da penumbra, o pelado tornou-se terreno fértil e coloriu-se de verde.

O Inferno Salgueirista | Fonte: Zerozero

A alma salgueirista começou a impor-se com maior veemência no principal escalão do futebol português a partir da década de 80, onde 6 presenças na primeira liga guardaram o SC Salgueiros no livro de memórias do comum dos adeptos. O zénite desportivo do Salgueiros deu-se na década de 90 com o clube a marcar presença em todas as edições da primeira liga, tendo terminado o campeonato por duas vezes no top 6 (5º em 1990/1991 e 6º em 1996/1997).

Pelo Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro serviram distintos como Deco, Sá Pinto, Miklós Fehér ou Zoran Filipović sempre apoiados por uma paixão salgueirista singular e um bairrismo orgulhosamente ilustrado em cânticos, tarjas ou histórias. A extinção do futebol profissional em 2005 deixou o Vidal Pinheiro órfão e abandonado à sua sorte, que jamais viria a reencontrar.

Em 2006, a necessidade de mobilidade da cidade sobrepôs-se à ténue esperança de recuperar o emblema e o “velhinho” estádio. Desde o fim do abandono do futebol profissional, o recinto foi paulatinamente demolido dando origem a uma estação de metro, escombros, charcos e muitas memórias.

O ressurgimento do SC Salgueiros em 2008 pela nova insígnia “Salgueiros 08” preencheu um enorme vazio desportivo na cidade do Porto. A caminhada triunfal do Salgueiral desde os distritais até aos campeonatos semiprofissionais alimenta o sonho de um dia voltarmos a ter o SC Salgueiros no principal escalão do futebol português, contudo, parte do encanto do emblema portuense findou eternamente com o fim do “velhinho” Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro.

Fonte: Fernando Timóteo (Global Imagens)

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