SR Aotearoa 2020 2ª Jor: Crusaders reentram como saíram… a demolir!

Francisco IsaacJunho 22, 20208min0

SR Aotearoa 2020 2ª Jor: Crusaders reentram como saíram… a demolir!

Francisco IsaacJunho 22, 20208min0
Os Blues garantiram uma vitória em casa dos Chiefs e atingiram o número histórico de 5 vitórias consecutivas numa só época, mas o destaque vai para os Crusaders que superaram os Hurricanes em Wellington

2ª jornada, com mais público ainda na bancada e com os Hurricanes e Chiefs a averbarem a sua segunda derrota em dois jogos, permitindo que os seus rivais disparem na tabela classificativa. Se os Blues tomaram o controlo do 1º lugar do Super Rugby Aotearoa, já os Crusaders mostraram que estão na competição para fazer o costume: derrubar os seus adversários, com maior ou menos dificuldade/facilidade. Em dois jogos caóticos por razões diferentes, as equipas que ganharam foram justos vencedores pelas mais variadas razões e contamos tudo nesta análise.

OS UP’S DA SEMANA: O CRUSADER-CINISMO DÁ FRUTOS E A MURALHA BLUE(S) CONTINUA

Não há muito por onde fugir e inventar, os Crusaders simplesmente foram muito superiores aos Hurricanes no que toca a dar continuidade e à velocidade de jogo, no conseguir dar expressão às acções de equipa em termos de manobra de ataque como mostra a diferença de ensaios entre as duas franquias neozelandesas: 5-1, para os tricampeões em título. Scott Robertson sabia que a equipa da casa levava um jogo de avanço em termos de adaptação às novas regras no breakdown e a saída do placador, mas também tinha noção que os ‘canes mantinham as mesmas dificuldades já apresentadas nesta temporada, especialmente nos problemas ao tentar criar de uma segunda cortina defensiva minimamente competente – Will Jordan e Sevu Reece exploraram até ao limite as quebras-de-linha conquistadas – ou na falta de aptidão em conseguir dar resposta após os alinhamentos.

Perante estes erros “naturais” dos Hurricanes, os Crusaders trataram de acelerar o seu jogo sempre que puderam aproveitando a excelente condução de jogo de Richie Mo’unga – mais estático mas era a forma de agarrar Laumape e Aso no centro de jogo -, a fisicalidade intensa e de alta reposição de Jack Goodhue (Havili mal entrou notou-se uma diferença total na vitalidade de jogo a partir dos centros) e os detalhes extraordinários de um três-de-trás que promete deflagrar “incêndios” nesta competição.

Dos 5 ensaios da equipa de Christchurch, 3 dos quais nasceram de erros dos Hurricanes que rapidamente os visitantes trataram de transformar em pontos, impondo uma eficácia desconcertante que forçava a formação de Wellington a dar o dobro para tentar se aproximar do resultado – no máximo só conseguiram empatar o marcador. Mas foi sempre um jogo de quase um sentido só a nível de bola nas mãos, de lógica e inteligência no encontrar espaço no contacto e de conseguir apresentar (e executar) as melhores ideias…

Os ‘saders são a equipa mais inteligente e cínica de todo o Super Rugby e a forma como os Hurricanes tiveram algum medo de arriscar em jogar ao alinhamento ou a formação-ordenada nos últimos 15/10 metros (optaram por quase sempre ir aos postes) foi como convidar os super-favoritos à conquista do Aotearoa a assumirem o jogo quase por completo.

Mais a norte, e num dia antes, os Blues voltaram a somar mais uma vitória nesta temporada, conseguindo o recorde de 5 conquistas consecutivas fora de casa numa só temporada, um marco nunca antes alcançado em toda a história da franquia de Auckland.

Os Chiefs de Warren Gatland voltaram a revelar problemas no dar gatilho às acções no ataque, mas esse é um down da semana e não up… voltemos então aos Blues. Se a primeira-parte foi algo caótico no que toca a montar fases consecutivas de progressão no terreno de jogo, já a segunda foi diferente quando Beauden Barrett assumiu o papel de abertura – Otere Black teve um jogo menos auspicioso do que à uma semana atrás -, oferecendo outra rapidez de movimentos e uma lucidez e genialidade que alteram por completo a toada de jogo.

Mesmo assim, os Blues foram mais efectivos em diferentes parâmetros, em especial na defesa onde forçaram 10 erros de handling ou perda de bola no ruck por parte dos Chiefs, aplicando uma placagem agressiva que era rapidamente assistida de forma a forçar uma precipitação da linha de ataque da equipa de Warren Gatland, que não teve o espaço suficiente para conseguir criar boas quebras-de-linha ou inventar aqueles offloads perigosos – Lienert-Brown e Tupaea praticamente não tiveram participação no jogo.

A franquia de Auckland foi assumindo um jogo paciente, de recepção e devolução de pontapé, de perseguição intensa e de tentar recuperar a bola o mais rápido possível, numa ponto do terreno mais perigoso para os Chiefs. O estilo de jogo actual da franquia liderada por Leon McDonald assimila-se quase ao que os Crusaders de Scott Robertson gostam de fazer e será interessante se surgirá alguma mutação no futuro na manobra ofensiva dos Blues.

OS DOWN’S DA SEMANA: CRUDEN SEM ESPAÇO PARA BRILHAR E A FALTA DE BRILHO DOS CANES

Podíamos falar que Beauden Barrett tem de jogar a 10 – ter um dos melhores jogadores do Mundo fora do jogo durante uma boa parte do tempo é um erro crasso, como se viu pela diferença de qualidade de jogo a partir do segundo em que o All Black passou para abertura – ou de como Mitchell Drummond confere outro equilibrio à estratégia dos Crusaders, mas voltamos a falar de quem perdeu… Chiefs e Hurricanes.

No caso da equipa de Hamilton, o problema esteve mais uma vez no dar expressão à quantidade de metros somada durante os 80 minutos, tendo batido os Blues por uma margem de 109 (401-292) e igualdo nas quebras-de-linha, com 4 situações e com apenas menos um defesa batido (18-19), sem esquecer que tiveram mais território e posse de bola. Ou seja, será que estes dados significam que os Chiefs tiveram mais oportunidades para chegar ao ensaio e simplesmente não conseguiram? Não é bem assim.

Efectivamente correram mais, tentaram encontrar espaços e possibilidades de penetrar na linha de defesa mas, na maioria das ocasiões, ocorreu tudo a 25 metros da área de validação dos Blues, sendo vísiveis as dificuldades para Aaron Cruden e Damian McKenzie criarem um jogo ofensivo minimamente de ensaio iminente na maioria do tempo.

Não é que Cruden e/ou McKenzie tenham estado mal, porque até mostraram aqueles pormenores e detalhes que conferem a partícula Super ao Super Rugby, mas faltou-lhes espaço e capacidade para darem outro “oxigénio” aos Chiefs, surgindo por vezes um jogo demasiado atabalhoado e sem uma noção clara de como quebrar com a excelente defesa dos Blues.

Em Wellington, os Hurricanes voltaram a apresentar os mesmos problemas que na ronda inaugural do Super Rugby Aotearoa: falta de brilho. Veja-se que os erros não foram só no alinhamento (4 perdidos em 12) ou no handling (6 avants, um dos quais daria certamente ensaio caso o passe de Booth para Laumape tivesse sido de qualidade), mas principalmente no dar sentido ao jogo, de serem geniais nas movimentações a partir das linhas atrasadas, na tentativa de fazer uma série de passes e fazes bem esboçados que criassem os problemas defensivos necessários aos Crusaders para que se dessem ensaios.

Em 80 minutos, e em 9 penalidades conquistadas depois do meio-campo (15 no total), os Hurricanes optaram por ir 6 vezes aos postes quando podiam perfeitamente ter tentado o alinhamento e arriscar a chegar à área de validação. Faltou risco, ousadia e ambição a uma franquia que está a ressentir-se em demasia pela saída de Beauden Barrett (Garden-Bachop é um bom chutador, mas não tem a qualidade necessária para levar os Hurricanes a lutar pelo título de campeão) e lesão de Jordie Barrett (Tiatia fez um bom jogo, mas o mais novo dos irmãos Barrett é mais ambicioso, para o bem e mal), abrindo-se assim um mar de dúvidas para os ‘canes.

OS ASES DA JORNADA: BEAUDEN BARRETT, WILL JORDAN, SOTUTU E REECE

Beauden Barrett foi fundamental na primeira-parte para garantir uma boa reciclagem do jogo ao pé estratégico e na segunda pela verticalidade que conferiu a partir da posição de médio-de-abertura, conseguindo somar os seus primeiros pontos pelos Blues.

Sotutu voltou a ser enorme tanto no ataque – o ensaio foi uma boa fase de conquista junto dos postes, mas é um pormenor normal – como na defesa, erguendo-se como um placador altamente implacável que procura constantemente por recuperar a sua posição e tentar chegar à oval.

Da espectacular armada dos Crusaders o que dizer do trio-de-trás? George Bridge teve mais um bom jogo, mas foram Sevu Reece e Will Jordan a roubar as atenções, com uma série de quebras-de-linha decisivas (5 no total) e uma constante capacidade para fugir aos adversários (9), especialmente o ponta que é detentor de um handoff explosivo.

Jordan foi inegavelmente excelente no dar corpo à estratégia de jogo tanto no jogo ao pé ou no contra-ataque, escolhendo caprichosamente bem os locais para atacar e ferir a defesa contrária, sempre munido daquele estilo irrequieto e mágico.

OS NÚMEROS DA JORNADA

Mais pontos marcados: Jackson Garden-Bachop (Hurricanes) – 20 pontos
Mais ensaios marcados: Vários
Mais quebras-de-linha: Will Jordan (Crusaders) – 3
Mais placagens: Dalton Papalii (Blues ) – 15
Mais turnovers: Hoskins Sotutu (Blues) – 3
Mais defesas batidos: Will Jordan (Crusaders) – 8
Melhor da Jornada: Hoskins Sotutu (Blues)


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