Seis Nações 2020 R4: Escócia derruba a França e deixa tudo para o fim!

Francisco IsaacMarço 8, 20209min0

Seis Nações 2020 R4: Escócia derruba a França e deixa tudo para o fim!

Francisco IsaacMarço 8, 20209min0
E continua tudo por definir na corrido ao título, já que nesta 6ª jornada a Inglaterra e França saíram dos seus jogos a vencer! Os destaques e a análise da penúltima rodada das Seis Nações aqui chega

(Artigo Actualizando com o Irlanda-Itália realizado a 24 de Outubro de 2020)

Uma 4ª ronda marcada por vermelhos e um resultado completamente inesperado, pois a Escócia não só derrotou os Les Bleus em Scotstun, como impediu a selecção de Fabien Galthié registar o ponto de bónus defensivo, significando que fica tudo adiado para a última ronda das Seis Nações! Como se deu a queda da candidata França?

IRLANDA REGRESSA MELHOR DO QUE QUANDO PAROU

Depois de meses de espera, as Seis Nações 2020 regressaram e o Irlanda-França da 4ª ronda da competição, acabou em 5 pontos conquistados pela equipa da casa que dá o salto para o 1º lugar na classificação ficando dependente (quase por completo) de si para levantar o troféu neste ano atípico para a sociedade mundial. O grande destaque vai para a excelência da Selecção do Trevo em todos os pontos do jogo, tendo sido capaz de montar uma defesa de erro quase zero com 132 placagens efectivas em 145 tentativas (91% de eficácia) destacando-se a capacidade para aguentar com a insistência “caótica” italiana dentro dos 22 metros, para além de um ataque que foi do mesmo nível tanto na opção pelo jogo fechado ou no abrir as linhas de ataque.

Com Bundee Aki, Jacon Stockdale e Hugo Keenan (estreia do antigo ponta da selecção de 7’s da Irlanda) em super forma, a equipa da casa dominou em todos os aspectos no ataque, com 600 metros de conquista de bola, 17 quebras-de-linha (recorde irlandês nas Seis Nações), 24 defesas batidos, 10 offloads, 7 ensaios e 20 tackle busts, imperando com total qualidade neste retorno aos jogos oficiais de Test Matches.

Andy Farrell lançou alguns estreantes e não saiu decepcionado, com Hugo Keenan a realizar uma exibição soberba à ponta, enquanto Caelan Dorris, Will Connors ou Dave Heffeman impuseram uma fisicalidade assombrosa e que fez esquecer os supostos “donos” das suas camisolas. Verdade que do outro lado estava uma Itália estranha, com pouca capacidade para ganhar metros na linha-de-vantagem ou sequer forçar uma quebra-de-linha, contudo o mérito é todo da Irlanda que parece estar mais compacta na placagem e cortina defensiva, rápida no sair do chão e voltar rapidamente à refrega, somando-se ainda a velocidade e confiança do contra-ataque mortal e letal como se viu no 2º ensaio de Hugo Keenan, com tudo a começar num turnover de Caelan Dorris nos 22 metros defensivos, seguindo-se uma rápida incisão no meio-campo da Itália e que acabou com um pontapé perfeitamente desenhado por Conor Murray.

No fim de tudo, parece que teremos um França-Irlanda de proporções titânicas, com ambas a necessitarem de uma boa vitória para ficarem com o título nas mãos, dependendo também do resultado da Inglaterra na visita à Itália!

DOMÍNIO INGLÊS COM DIREITO A FINAL EMOTIVO

Alguns dos dados e números podem não estar do lado da Inglaterra no final dos 80 minutos, mas quando é que a matemática dita quem é o vencedor ou mesmo a selecção dominante? A verdade é que os galeses só melhoraram nos últimos 10 de jogo, altura em que a selecção inglesa estava já com menos um – e passados alguns minutos menos dois – em virtude do amarelo de Ellis Genge, chegando à área de ensaio por duas ocasiões o que permitiu encurtar o resultado de 33-16 para 33-30, atenuando assim a diferença abismal de qualidade exibicional entre as rivais bretãs.

O ritmo da primeira metade do encontro foi sensacional, impondo um desgaste físico acentuado tanto à Inglaterra como ao País de Gales, sendo que os da casa mostraram-se mais “adeptos” de manter um ritmo elevado de jogo que muito se deve a Ben Youngs, o formação que tinha sido amplamente criticado por vários adeptos em jogos anteriores, pedindo mesmo a reforma antecipada do jogador dos Leicester Tigers do rugby internacional.

O nº9 foi insistindo em fazer mover os avançados, exigindo o melhor possível de Maro Itoje (outra grande prestação do segunda-linha), Mark Wilson, Thomas Curry (não é um n.º8 puro e duro, mas garante alguma estabilidade no apoio ao portador da bola ou no mexer da oval) e afins, o que permitiu dar outro espaço de manobra às linhas atrasadas, bem lideradas por George Ford e Manu Tuilagi, o centro que rubricou uma exibição espectacular em todas as medidas apesar de ter terminado com uma expulsão que lhe valerá 12 semanas de suspensão.

Eddie Jones sabia perfeitamente que Wayne Pivac não ia abdicar da tentativa de aplicar um rugby mexido, intenso e de bola na mão e que a única forma de sonegar a construção de uma plataforma de jogo ameaçadora para a área de validação inglesa era no aplicar de uma defesa extremamente imponente, ao exemplo do que foi contra a Irlanda na ronda anterior. Em 244 placagens efectuadas, a Inglaterra falhou umas meras 22 o que mostra o quão essencial foi este aspecto para impedir as quebras-de-linhas vindo de Hadleigh Parkes ou Nick Tompkins – registaram os dois um total de 3 quebras-de-linha, duas delas só realizadas nos últimos 8 minutos -, dando o “tónico” necessário para galgarem em direcção da vitória e do Triple Crown 2020.

ESCÓCIA BLOQUEIA BREAKDOWN PARA CHEGAR À SUA 2ª VITÓRIA NA COMPETIÇÃO

Inesperado e impensável o que se sucedeu em terras escocesas, com a selecção do Thistle a meter um travão nas aspirações da França em conquistar o Grand Slam num jogo que teve de tudo um pouco. O cartão vermelho mostrado a Mohammed Haouas aos 37 minutos foi o momento do início do fim do sonho dos gauleses em conquistarem algo que lhes foge desde 2010, mas já antes tinham sido dados sinais preocupantes, especialmente na concentração na hora de de sair com a bola do ruck ou na atitude de apoiar com eficácia o portador da bola, perdendo claramente a batalha do breakdown.

Os homens de Gregor Townsend foram autênticos predadores a atacar a bola no solo, como Grant Gilchrist, Nick Haining (o nº8 está a ser a maior revelação da Escócia e registou uns impressionantes 3 turnovers), Zander Fagerson, tendo estes em conjunto realizado 7 turnovers/penalidades, pondo fim a algumas boas oportunidades da França o que alterou constantemente o momentum de ambas as seleções durante o encontro.

A lesão de Romain Ntamack e a inoperância por parte de Dupont (a pior exibição do formação nesta edição da competição e notou-se claramente esse problema) foram dois dos maiores problemas para os gauleses que retornaram a um tipo de exibição bipolar típica dos últimos anos, transitando entre excelentes combinações entre unidades (Jalibert criou boas situações de ataque, com aquela expressão técnica do costume mas foi um problema completo na leitura defensiva) para transmissões de bola sem sentido e sem alvo especificado, o que facilitou o papel defensivo da Escócia na linha.

Sem Ntamack a dar as direcções correctas na organização colectiva, para além da fraca execução da estratégia no jogo ao pé, tornou-se difícil para os Les Bleus encontrarem um caminho claro para a área de ensaio e vitória, perdendo-se por completo quando ficaram reduzidos a 14 jogadores a 5 minutos do intervalo… mesmo que não houvesse a situação do encarnado, a Escócia teria uma oportunidade clara para fazer o 09-07 dando sinais claros de que algo não estava intrinsecamente bem com a França.

Fica tudo em aberto para o último encontro das Seis Nações, com os franceses forçados a conquistar uma vitória com ponto de bónus em terras irlandesas… possível?

ACÇÃO ERRADA, VERMELHO E PUNIÇÃO… JUSTA OU EXCESSIVA?

Manu Tuilagi deverá receber 12 semanas de suspensão de rugby internacional, só podendo regressar em Setembro enquanto que Mohammed Haouas, pilar da França, estará em vias de receber um castigo entre as 8 e 14 semanas por desferir um soco na visita a Scotstun. Castigos justos? Nem tanto. Tuilagi em 10 anos de carreira só recebeu a ordem de expulsão temporária por 7 ocasiões, sendo que o vermelho foi o primeiro da sua vida enquanto profissional e sénior na modalidade, dois factos que serão usados como atenuantes na altura do hearing junto das entidades competentes. O centro efectuou uma placagem alta, sem armar qualquer um dos braços – apesar de estar a ser apontado que o nº12 tentou agarrar com o braço esquerdo – e que acertou acima da linha dos ombros de George North, aceitando-se na altura a cor da cartolina mas não se pode dizer que o tempo nas sidelines seja admissível.

Haouas também recebeu o seu primeiro encarnado enquanto sénior, mas a sua acção foi sobretudo violenta, merecendo uma período de “baixa” de algumas semanas, sem cair no exagero. A comissão disciplinar das Six Nations tem tido sempre cuidado em manter o equilíbrio entre a penalização e a redenção, não permitindo que os atletas caíam num vórtice mental negativa devido às suas suspensões, especialmente a aqueles que não são reincidentes, abrindo caminho para um regresso rápido aos relvados sem ser demasiado acelerado. Quando as altas instâncias da modalidade mostram como se deve funcionar na hora de penalizar um atleta por uma acção menos boa, só deveria inspirar as federações e entidades nacionais a mostrar o mesmo tipo de comportamento, algo que por exemplo não acontece em Portugal, país onde tem existido uma espécie de bipolarismo na hora de decretar as suspensões e castigos a atletas ou clubes.

A World Rugby, apesar de ter visíveis problemas com a entidade que gere as Six Nations ou SANZAAR, apoia a forma como ambas as organizações trabalham no carácter disciplinar e seria fundamental que a entidade máxima da oval lusa intervissie em países como Portugal, Espanha e Roménia – falando do contexto europeu – em especial nos regulamentos disciplinares e não só, de modo a estarem mais de acordo com a mentalidade da modalidade e menos com as vontades próprias de um grupo selecto de pessoas.

REGISTOS DA 4ª RONDA

MVP da Ronda: Ben Youngs (Inglaterra) / Bundee Aki (Irlanda);
Placador da Ronda: Mark Wilson (Escócia) – 25 placagens (98% efectivas) e 1 turnover;
Melhor Marcador da Ronda: Jonathan Sexton (Irlanda) – 18 pontos (1 ensaio, 5 conversões e 1 penalidade)


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