Seis Nações 2020: o que esperar da França de Fabien Galthié?

Francisco IsaacJaneiro 7, 20207min0

Seis Nações 2020: o que esperar da França de Fabien Galthié?

Francisco IsaacJaneiro 7, 20207min0
Com um novo timoneiro no comando, a França entra 2020 com a esperança de surpreender nas Seis Nações. O que vai adicionar Fabien Galthié aos Les Bleus?

Nos dias que correm, é normal os adeptos da oval ficarem altamente entusiasmados com a Inglaterra, Irlanda (mesmo com o desastre do Mundial e das Seis Nações de 2019, é impossível negar a qualidade das novas gerações de atletas da Selecção do Trevo) ou País de Gales, deixando a França arredada a um patamar de alguma diferença ou esquecimento devido aos últimos maus anos dos Les Bleus, onde o rugby caótico, cinzento e, em diversas ocasiões, inconsequente tem assolado uma selecção que ofereceu noutros tempos rugby champagne.

Felizmente, os franceses deram uma resposta à altura no Mundial de Rugby conseguindo o apuramento para os quartos-de-final depois de terem derrotado a Argentina na fase-de-grupos, com os jovens a assumir um lugar de importância naquilo que pode ser uma o entrar para uma era de renovação e conquistas. Romain Ntamack, Gergory Alldritt, Antoine Dupont, Pierre-Louis Barassi, Damian Penaud ou Camille Chat são só alguns dos nomes mais recentes a animar a França e em 2020 poderemos ter mais umas quantas estreias, conferindo um futuro promissor e animado aos gauleses.

Mas conseguirá o novo seleccionador Fabien Galthié dar sequência ao franco bom trabalho de Jacques Brunel, garantindo um processo estável e de crescimento aos atletas da França? Ou a urgência de obter vitórias vai ser uma constante ameaça a este desenvolvimento de um elenco que tem tudo para ser um candidato assumido à conquista do Mundial 2023? Muito depende da paciência e confiança do presidente da Federation Française de Rugby, Bernard Laporte, na renovada equipa técnica e o talento que transborda o rugby francês neste momento poderá ser o elemento decisivo para dar o tempo e espaço necessário de crescimento a um grupo de qualidade.

Olhemos então para as hipotéticas soluções disponíveis do novo seleccionador dos Les Bleus para este 2020 importante mas não decisivo do rugby francês.

A ESTRATÉGIA DOS TRÊS ABERTURAS PODE SER A CHAVE PARA UM CHAMPAGNE FRESCO?

A luta pela camisola número 10 da França vai ser titânica e aceitam-se apostas em quem vai agarrar a titularidade, pois Romain Ntamack tem séria concorrência pelo lugar a começar em Matthieu Jalibert e Anthony Belleau passando por Thomas Ramos, Louis Carbonel e Jules Plisson, tudo jogadores em grande forma nestes primeiros meses da temporada do Top14. Ntamack foi aposta de Brunel nas Seis Nações 2019 mas não alinhou inicialmente na camisola 10, entrando em campo como 2º centro uma posição nada estranha para o jovem internacional francês. A partir da 3ª ronda tudo mudou, com o abertura a ganhar o lugar e não mais largá-lo durante todo o ano de 2019, mostrando-se em grande forma durante o Mundial com 27 pontos marcados (percentagem de 81% nas conversões) e uma série de bons pormenores que conferiram uma continuidade ágil e acelerada ao rugby dos Les Bleus.

Contudo, nada garante que o polivalente 3/4 do Toulouse mantenha o seu lugar no XV da França, podendo até deslizar para centro o que abre uma vaga para Jalibert ou Belleau e caso isto aconteça há uma possibilidade interessante nas mãos de Galthié: jogar com três unidades de linhas atrasadas familiarizadas com a posição de abertura.

Há uma boa oportunidade de introduzir uma linha de 3/4’s com Jalibert/Belleau(10), Ntamack (13) e Ramos (15) – ou Belleau no lugar de 12 -, ou seja, aplicar a táctica de três movimentadores de jogo, optando por uma estratégia de maior risco mas que pode beneficiar seriamente a França na obtenção de jogadas de perigo e ensaios.

Para isto correr bem a avançada tem de estar a um nível defensivo muito similar ao da Inglaterra ou África do Sul, de constante incapacitação do ataque adversário seja através de placagens fisicamente agressivas, contra-ruck dinâmico e pressão intensa e sufocante, garantindo assim que uma linha de 3/4’s menos física mas mais técnica não saia prejudicada. Este é o maior problema da aplicação deste estratagema, mas é altura ideal para Galthié embarcar num revival do Rugby Champagne baseado numa estratégia que os All Blacks e Inglaterra tentaram implementar, mas que em certos jogos fracassou quase por completo. A opção por apresentar três movimentadores de bola “forçaria” a manutenção de Gäel Fickou como 12, enquanto Damian Penaud e Yoann Huget (a maior dúvida fica na atribuição da titularidade ao experiente ponta) ocupariam as alas, aproveitando assim o trabalho efectuado por Brunel.

A qualidade técnica de Ntamack

Portanto, a principal pergunta vai para o facto da França ter ou não um leque de avançados que encaixe nas características que se apontaram… e a resposta é, talvez. Um dos maiores problemas recentes dos Les Bleus foi a decrescente qualidade técnica e física apresentada no bloco avançado, com a 3ª linha a deixar a desejar no que toca ao trabalho no breakdown ou na cover tackle, enquanto que a 1ª linha revelou-se inconstante fazendo ora uma boa exibição nas fases estáticas mas uma má participação no jogo corrido ou acontecendo exactamente o oposto, criando sérias dificuldades ao staff técnico francês. Todavia, e felizmente para a França, os últimos dois anos têm sido bons na construção de uma avançada multifacetada com bons indíces de rendimento nas fases estáticas e uma participação explosiva no apoio ao ataque ou no estancar defensivo.

Jefferson Poirot, Camille Chat (e custa tirar Guirado das contas, mas é a altura ideal para lançar Chat como titular) e Rabah Slimani são a melhor solução para as camisolas 1,2 e 3, ficando na 2ª linha a questão se Vahaamahina acompanhará Iturria (ou se este vai para o lugar de asa fechado, possibilitando a introdução de Le Roux). Na 3ª linha, é sabido que Aldritt vai ser um dos nomes com Wencelsas Lauret e Charles Ollivon a ocupar o lugar de asas… ou poderá surgir aqui uma surpresa, com a introdução de uns quantos bicampeões mundiais de sub-20?

OS BICAMPEÕES SUB-20 QUE TÊM UMA (OU VÁRIAS) PALAVRA(S) A DIZER

Falamos claro está de Jordan Jospeh (número 8) e Killian Geraci (2ª linha), dois dos maiores talentos do rugby francês neste momento, para além de Arthur Vincent (centro), sendo estes três nomes consensuais para chegar já às Seis Nações deste ano. Recentemente já falámos em quem é Jordan Joseph, destacando o seu progresso tanto nos sub-20 da França como no Racing 92 (Rugby Youth Player: Jordan Joseph), e não há dúvidas que pode combinar com Aldritt e Ollivon na 3ª linha. Por sua vez, Geraci é um 2ª linha poderoso de 2 metros e 110 kilos que também se sagrou bicampeão mundial sub-20, exibindo-se em alta pelo Lyon e é o candidato mais forte a uma chamada para o grupo de trabalho francês da competição mais importante do ano.

E Arthur Vincent pode ser essencialmente o camisola 12 ou 13 que a França tanto anseia por, apresentando-se em grande forma pelo Montpellier nesta temporada como se podem ver pelos números: 12 jogos, 93 placagens (somente 13 falhadas), 1 ensaio, 4 assistências, 660 metros conquistados, 8 offloads completos, etc. Caso a equipa técnica francesa opte por só jogar com um abertura (Ntamack ou Belleau), seria de alto interesse colocar Fickou e Vincent a fazer parelha de centros de modo a construir já o futuro dos Les Bleus.

Outra indicação interessante é a possibilidade de Louis Carbonel, outro campeão sub-20, ganhar o lugar de abertura nas Seis Nações 2020, uma vez que tem sido titular no RC Toulon forçando a ida de Belleau para o lugar de 1º centro, um dado minimamente interessante e que altera desde já com algumas variáveis. Várias possibilidades e oportunidades para Fabien Galthié montar um grupo de excelsa qualidade que pode já ter uma palavra a dizer em mais uma edição da prova mais importante de rugby na Europa.

Arthur Vincent, a brutidão de um Rugby Champagne renovado?


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS