Seis Nações 2019: O eterno devir da Flor da Escócia

Helena AmorimJaneiro 10, 20199min0

Seis Nações 2019: O eterno devir da Flor da Escócia

Helena AmorimJaneiro 10, 20199min0
Os escoceses têm prometido uma revolução nas Seis Nações nos últimos anos, mas ainda não chegou. Será que a Flor da Escócia vai-se fazer sentir em 2019?

A Escócia tem sido a eterna selecção de futuro. Espera-se sempre mais qualquer coisa desta selecção e foi aos comandos de Vern Cotter que atingiu os valores mais altos em termos de reputação e competitividade, nos tempos mais recentes, depois dos êxitos dos anos 80 e 90.

Na sequência de um desastroso Mundial de 2011, onde os Escoceses ganharam marginalmente à Roménia e Geórgia, tendo perdido com Inglaterra e Argentina, ficando pela fase de grupos (nunca antes verificado), a federação contrata Vern Cotter, reputado treinador do Bay of Plenty, Crusaders e Clermont.

A equipa ganhou coesão, melhorou a mélêe e afinou os alinhamentos, tendo ganho ainda, linhas atrasadas. Com Vern Cotter nos comandos entre 2014 e 2017, a selecção conseguiu ser mais robusta nas prestações sem cometer tantos erros não forçados.

A REFORMULAÇÃO PÓS-MUNDIAL 2011 E O PRESENTE DA FLOR DA ESCÓCIA EM 2019

A boa prestação no Mundial de 2015, com uma base de jogadores do Glasgow Warriors, com vitórias frente a Samoa, Estados Unidos e Japão, apenas perdendo para a África do Sul na fase de grupos, foi bastante animador para as hostes. Nos quartos de final, cedeu frente à Austrália por 35-34, num embate muito disputado. A impressão geral que ficou desta selecção foi de uma equipa que quase chegou lá, mas desta feita com mais coesão.

Em Junho de 2017, Gregor Townsed toma conta dos destinos dos Escoceses, depois de uma brilhante prestação à frente dos Glasgow Warriors. A selecção tem conseguido manter altos níveis competitivos mas os mesmos erros não forçados e a indecisão perto da linha de ensaio continuam a constituir-se como problemas.

Na época que começou com os internacionais de outono de 2017 e continuou pelo 6 Nações e testes de verão (Canada, USA, Argentina) e outono de 2018, conseguem 7 vitórias em 12 jogos com Stuart Hogg a ter uma prestação fantástica no Seis Nações, ficando no topo da lista com mais metros ganhos e mais offloads; Barclay foi o rei dos turnovers; Gray foi o rei das placagens. Ficaram em terceiro lugar com 3 vitórias.

Ocorreram 10 estreias de jogadores em 2018, com destaques para Blair Kinghorn, Adam Hasting e George Horne, a conseguir números já impressionantes. Sean Maitland foi o top scorer com 5 ensaios.

No historial do Seis Nações, a Selecção do “Cardo”, conseguiu ganhar a competição nos por 15 vezes, tendo sido a última em 1999. Curiosamente a Irlanda, conta com 14 vitórias e se ganhar este ano, igualará assim os Escoceses. A Inglaterra segue destacada com 28 vitórias.

Nos anos recentes do 6 Nações, a Escócia tem oscilado muito e em 2015 fica em último com 0 pontos; em 2016 fica em 4º lugar com 2 vitórias e em 2017, repete o 4º lugar com 3 vitórias. No ano transacto, o primeiro 6 Nações sob Townsend, o 3º lugar e as 3 vitórias conseguidas foram muito importantes e para este ano, os mínimos exigíveis passam pela repetição de um 3º lugar e quiçá, uma intromissão nos 2 primeiros.

Esta última condição será muito difícil mas possível. Não será difícil de antever uma Irlanda capaz de resgatar o primeiro lugar, com Gales e Inglaterra numa fase mais instável (embora Gales tenha vindo a recuperar) e não se espera muitas surpresas pelas partes Italianas e Francesas.

Em 2018 a Escócia fez jogos muito disputados ganhando a França por 32-26, à Itália por 27-29 e a grande surpresa que foi a vitória frente à equipa de Eddie Jones por 25-13. Perdeu robustamente no jogo de abertura frente a Gales por 34-7 e foi de novo modesto no marcador, frente à Irlanda com um 28-8.

Desta feita, este ano de 2019, com 3 jogos em casa (Itália, na abertura; Irlanda e Gales) com deslocações fora na terceira e quinta jornadas (França e Inglaterra, respectivamente), a composição alinha-se para o sucesso.

Relativamente ao último seis Nações, sem dúvida que as mudanças na primeira linha são de referir, mas esta nova fornada de jogadores não parece ficar nada atrás de nomes como Alasdair Dickinson ou Ross Ford, pelo contrário! Embora a prestação na formação ordenada, hoje em dia, não seja tudo o que um pilar pode fazer e nesse sentido, há necessidade de um pouco de multi-tasking a nível de pilares. Os manos Gray foram separados mas ficou o mais capaz, Jonny; uma ou outra mudança pontual na 3ª linha e pouca variação nas linhas atrasadas.

Para o Mundial de 2019, a Escócia terá de defrontar na pool A, Samoa, Rússia, Japão e Irlanda, com a o jogo de estreia a ser frente aos Irlandeses no International Stadium de Yokohama.

Em termos de opções de jogadores, Finn Russell tem agora a competição muito aguerrida de Adam Hastings, que tem feito grande trabalho de abertura em Glasgow. As opções para as linhas atrasadas pautam-se por novidades interessantes como Nick Grigg, Byron McGuigan, Lee Jones, além dos incontornáveis Tommy Seymour, Stuart Hogg, Peter Horne e Sean Maitland. Nas avançadas, as novidades, Murray McCallum, Sam Skinner e boas promessas como Matt Fagerson, Jamie Ritchie e Magnus Bradbury dão uma frescura interessante. John Barclay, ausente desde Maio devido a uma ruptura no tendão de Aquiles tem feito muita falta no breakdown e espera-se que esteja em condições de regressar ainda para este Seis Nações.

George Turner estará afastado dos relvados por 10 semanas, sendo uma baixa em termos de substituição para a posição de talonador. Fraser Brown estará também indisponível por lesão até Fevereiro; Grant Stewart que assinou à pouco o seu primeiro contrato profissional com Glasgow já foi chamado para o Seis Nações.

PROBLEMAS INERENTES PODERÃO SER DECISIVOS?

A equipa de Gregor Townsend mantém um esquema de jogo parecido com o preconizado por Vern Cotter mas não há aquela dependência tão sentida dos contra-ataques de Stuart Hogg, havendo uma tentativa de mobilizar a equipa toda e não apenas meia dúzia de intervenientes. O que é facto, é que a Escócia continua a mostrar boas prestações, continua com os mesmos erros e continua a não “descolar”.

E a falta de certos elementos chave parece fazer sempre uma mossa considerável, veja-se a falta do John Barclay. Townsend fez grande mobilização de jogadores nos internacionais de Outono, garantindo que a condição física dos jogadores estivesse sempre elevada. Mas as exibições foram pouco memoráveis e os resultados foram duas vitórias e duas derrotas: vitória frente a Fiji por 54-17 e frente à Argentina por 14-9; derrotas frente a Gales por 21-10 e frente à África do Sul por 20-26.

A culpa de quem é?

Não será de um homem apenas,  mas a insistência num jogador que prima por opções conservadoras como o formação, talvez seja um indicador do que terá de mudar a curto prazo: Greig Laidlaw é um excelente formação com muitos pontos a surgirem dos pontapés de penalidade e conversões mas não deixa de ser muito conservador e talvez o maior entrave para a verdadeira mobilização de uma equipa, bem equilibrada entre avançados e linhas atrasadas.

A mêlée pode sempre melhorar mas não tem muito por onde; os alinhamentos também podem afinar-se; as formações espontâneas ainda permitem alguns contras mas a combatividade no chão é sempre muito elevada, principalmente com Barclay; Adam Hastings tem sido mais interessante que Finn Russell (Finn está muito bem no Racing mas perdeu gás na selecção), embora ainda tenha muito a aprender; os centros podem ser mais aguerridos na defesa (a questão Huw Jones a falhar duas placagens frente a Gales que deram 12 pontos é mais complexa do que parece, pois ele pode falhar duas placagens se tiver uma segunda linha de defesa,); os pontas não há muito por onde crescer, desde que a bola seja rápida a sair dos rucks e o ataque ao espaço seja coerente e as opções a defesa passará pelo incontornável Stuart Hogg (que faz milagres, “sozinho” naquela defesa).

Pontos essenciais: o “9” precisa de corresponder e ser o elo de ligação perfeito entre os 8 da frente e 6 de trás; a defesa precisa de ser mais incisiva e redundante; o jogo dos pilares tem de ser mais expansivo; precisam de aprender a ganhar jogos quando não conseguem bolas rápidas; o discernimento na definição final das jogadas precisa urgentemente de aparecer.

Os nomes seguintes são uma súmula dos últimos 7/8 encontros, com os jogadores a negrito, correspondendo escolha editorial para o 6 Nações e Mundial:

1-Allan Dell / Gordon Reid

2-Fraser Brown/ Stuart McInally

3-Willem Del /Simon Berghan /WP Nel

4-Grant Gilchrist / Ben Toolis /Sam Skinner

5- Jonny Gray /Grant Gilchrist

6-Jamie Ritchie /Ryan Wilson/John Barclay

7-Hamish Watson /Jamie Ritchie

8-Ryan Wilson/Matt Fagerson

9-Greig Laidlaw /Ali Price

10-Adam Hastings /Finn Russell

11- Blair Kinghorn/Sean Maitland /Lee Jones /Byron McGuigan

12-Finn Russell /Peter Horne/Alex Dunbar

13-Huw Jones /Alex Dunbar /Nick Grigg

14-Tommy Seymour /Sean Maitland

15- Stuart Hogg /Blair Kinghorn

Ainda, algumas curiosidades:

Presenças anteriores no Mundial: Todas as edições. Alcançou a meia-final no Mundial de 1991.

Primeiro jogo internacional: Escócia-Inglaterra (4-1 a 27 de Março de 1871).

Maior vitória: Escócia-Japão (100-8 a 13 de Novembro de 2004).

Maior derrota: Escócia-África do Sul (10-68 a 6 de Dezembro de 1997).


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