Alfa-Portugal “atropela” o Canadá – o “grubber” do World Rugby Trophy 19′

Francisco IsaacJulho 14, 20198min0

Alfa-Portugal “atropela” o Canadá – o “grubber” do World Rugby Trophy 19′

Francisco IsaacJulho 14, 20198min0
Os jovens lobos sub-20 voltaram a rubricar nova exibição de extrema qualidade e derrubaram "facilmente" o Canadá por 49-21. A análise do Fair Play ao 2º jogo da fase-de-grupos do World Rugby Trophy

Depois de uma vitória histórica frente a Hong Kong na 1ª jornada do Mundial “B” sub-20, os jovens atletas portugueses decidiram rubricar mais uma exibição carismática e genial vergando o Canadá por 49-21, deixando tudo em aberto para o 3º e último jogo da fase-de-grupos, que terá quase um “sabor” a final.

A análise do jogo frente ao Canadá no “grubber” do Fair Play!

IDEIAS SIMPLES, EXECUÇÃO DE EXCELÊNCIA E UMA VELOCIDADE INENARRÁVEL – 7 PONTOS

Foi extraordinária a forma como Portugal montou a sua estratégia ofensiva, com um plano de ataque que ia dando leves “estocadas” no Canadá no jogo curto (um apoio de qualidade, sem entrar em pânico e em exageros de número de jogadores) para depois imprimir uma sequência altamente veloz e explosiva, com Raffaele Storti, Rodrigo Marta, Francisco Salgado a imporem esse ritmo desenfreado que tirou o Canadá da sua zona de conforto.

Foi essencial a forma como Portugal acreditou que o plano de ataque apostado em velocidade alta, dinamismos sempre intensos e um ritmo desenfreado fosse dar frutos, que chegaram 10 minutos após o início da segunda parte. O adversário deixou de ter “pulmão” para apresentar uma segunda cortina defensiva de qualidade ou conseguir recuperar rapidamente do chão e acompanhar as transições ofensivas dos lobos sub-20, acabando o Canadá por consentir demasiado espaço e folgas ao ponto que foi impossível não sofrer uma cadência de pontos constantes.

A excelência com que Joaquim Félix (os pormenores técnicos, tanto do offload ou trabalho de corrida são de aplaudir) presentou o jogo na posição de formação (Portugal tem o luxo de possuir dois nº9s da mesma qualidade e nível, sendo um dos pormenores mais interessantes deste conjunto de Luís Pissarra) foi decisiva na manutenção do jogo frenético, impondo sempre um passe de fino recorte, a somar à estupenda visão de jogo e capacidade de gerir a bola sem hesitações ou demoras.

O primeiro ensaio da equipa das Quinas é um mero exemplo da capacidade de como obliterar as linhas adversárias quando se coloca em exercício os básicos do rugby aliados à capacidade física: bola em constante movimento, linha-de-vantagem sempre ultrapassada (nem que seja por um centímetro), avançados a criar processos claros, seguindo-se um pormenor decisivo do nº10 para uma entrada em rompante e sem parar de Storti.

A força bruta do Canadá acabou por ceder perante um Portugal supostamente menos “grande” em estrutura física, mas que soube utilizar bem as suas qualidades para derrubar a defesa contrária. Destaque para como Jerónimo Portela tem brindado as cores nacionais na função de médio-de-abertura, não só sendo um “moinho” de ataque de ponta como um placador dotado, formando uma dupla de médios de elevado nível quer com Pedro Lucas ou Joaquim Félix.

UMA FORMAÇÃO-ORDENADA QUE NÃO PÁRA DE MELHORAR – 6 PONTOS

Tem sido um elemento característico nos últimos 4 anos das selecções nacionais de formação e no World Rugby Trophy 2019 volta não só a estar no seu melhor como deu sérios passos na sua evolução… falamos claro da formação-ordenada, aquele pormenor de um jogo de rugby que durante largos anos foi penoso para as selecções nacionais.

Olhando bem para os packs avançados titulares que alinharam neste 2º jogo, o Canadá possuía uma ligeira vantagem em termos de “kilos” e “centímetros”, vantagem essa que no final de contas verificou-se não só fraca como indiferente.

O trabalho do 5 da frente foi essencial, conquistando algumas penalidades e assumindo-se como um “castigo” constante para os adversários da América do Norte, que por melhor encaixe que fizessem não conseguiam manobrar ou sequer apresentar uma contra-resposta de qualidade, sendo constantemente engolidos pelo poder do 1º embate oferecido por David Costa (o pilar formado no GD Direito é um caso sério, já que o workrate que apresenta é de um patamar muito superior ao habitual, para além de conseguir impor uma fisicalidade inteligente e de saber envolver-se bem em todos os processos quer defensivos ou ofensivos), Rodrigo Bento, Duarte Conde (na linha do que é o irmão mais velho, José Conde) e de uma apoio certeiro e ágil da 2ª linha (Helano Alberto foi uma descoberta importante das selecções nacionais).

Os alinhamentos correram melhor, demonstrando outra singularidade das últimas 4 ou 5 gerações que passaram pelas selecções de formação: a capacidade de aprendizagem, evolução e melhoramento no espaço de 2/3 dias. Não esquecer que um dos ensaios de Portugal veio precisamente de uma bela conquista no ar para se seguir um imparável maul até à área de ensaio.

Avançadas que falham num primeiro jogo podem ter a tendência de ficar “presos” por esses erros e entrar para um segundo encontro debaixo de um nervosismo perigoso, todavia no caso dos actuais sub-20 nada foi a situação verificada, e a firmeza com que trabalharam na introdução de bola e captação no ar foi demonstrativa de como se melhorou sem entrar em grandes correrias (90% dos alinhamentos conquistados).

Avançados duros, rápidos, inteligentes e eficientes na maioria dos departamentos de jogo, é uma marca dos sub-20 de Portugal e contra o Canadá foi exactamente isso que se viu (o 2º ensaio de Rafaelle Storti é antecedido por uma série de boas jogadas, mas o trabalho de apoio de José Roque foi essencial para manter a posse de bola já em território bem avançado, numa alusão aos aspectos que apontávamos).

POUCAS PENALIDADES E PLACAGEM NOS TRINCOS, FOI ISTO O PEDIDO? – 5 PONTOS

Portugal sofreu três ensaios frente ao Canadá e é natural que o seleccionador Nacional, Luís Pissarra vá pedir melhorias aos seus jogadores no departamento defensivo na procura de uma “muralha” intransponível, especialmente nos momentos mais críticos dos jogos. Contudo, esta actual selecção de sub-20 tem sido dotada tanto no que toca à placagem individual, como à comunicação colectiva defensiva, à reposição de unidades depois de uma situação de placagem ou disputa de breakdown e à criação de um processo de defesa solidário que os torna numa séria dor de cabeça para quem está do outro lado.

O Canadá marcou o primeiro ensaio do jogo e esteve na frente do encontro durante alguns minutos, mas nunca conseguiu ser dominante quer na luta no contacto ou na posse de bola, apesar de terem tido duas ocasiões para chegar à área de validação numa altura “perigosa” para Portugal.

Veja-se por exemplo o que se passou aos 32 minutos de jogo: um avant dentro de uma formação-ordenada portuguesa nos últimos 5 metros parecia prometer aos canadianos um possível encurtar no resultado, só que não foi bem assim. A selecção da América do Norte colocou a oval a rodar e ao fim de quatro minutos a bater acabou por perder o controlo da posse de bola, oferecendo novamente um turnover aos comandados de Luís Pissarra.

É verdade que os Lobos sub-20 pela forma como controlam a oval no ataque não têm de sofrer com o cisma de estar sempre em modo-defesa, porém sempre que lhes é pedido para se apresentarem na placagem não há nenhum jogador que vire as costas à luta, apresentando ainda uma lucidez total na forma como saem do eixo do ruck para dar espaço aos “lutadores” de saque de bola.

Será uma repetição contra o Tonga?

PONTUAÇÃO FINAL: 18 PONTOS

Pontos Positivos: formação-ordenada e alinhamentos foram alimentando o ataque de forma constante; linhas atrasadas imprimiram sempre um jogo veloz, altamente rápido e com olhos para um trabalho no contacto de calibre; detalhes técnicos de excelência, explorando bem a forma deficitária como o Canadá tentava parar as unidades ofensivas portuguesas; placagem foi eficiente, eficaz e inteligente, apesar do algum espaço concedido ao nº15 canadiano na primeira-parte; par de médios criaram uma ligação perfeita tanto na condução de jogo como gestão da posse de bola, forçando erros do adversário; pontapés bem montados tanto por Jerónimo Portela como por Simão Bento; elevadíssimo controlo da bola no contacto e um apoio sempre bem articulado e veloz;

Pontos Negativos: espaço concedido ao Canadá à ponta em raros momentos do jogo; algumas permeabilidade nas saídas do Canadá nas primeiras formações-ordenadas;

XV TITULAR COM SUPLENTES (1 A 15 COM MARCADORES)

David Costa, Rodrigo Bento (5), Duarte Conde, Helano Alberto, Martim Belo, Manuel Maia, Manuel Pinto, José Roque, Joaquim Félix, Jerónimo Portela (3+3+3+2+2+2+2+2), Francisco Salgado, José Câmara, Rodrigo Marta (5), Raffaele Storti (5+5) e Simão Bento

Suplentes: Márcio Pinheiro, António Cunha, Frederico Simões, André Gouveia (5), José Madeira, Sebastião Silva, Pedro Lucas, Tomás Lamboglia, João Vieira, José dos Santos e Francisco Rosa (5)


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