North vs South: destaques do All-Star Game do Super Rugby Aotearoa

Francisco IsaacSetembro 5, 202011min0

North vs South: destaques do All-Star Game do Super Rugby Aotearoa

Francisco IsaacSetembro 5, 202011min0
Um jogo incrível, com quase 80 pontos no total acabou com vitória do South frente ao North, na reedição de um jogo histórico com mais de cem anos de história! Os destaques explicados neste artigo

Como não gostar do rugby neozelandês, depois de um jogo que termina com um ensaio extraordinário que deu a reviravolta final no marcador a favor da Ilha do Sul e com os melhores jogadores do Super Rugby Aotearoa (só Marino Mikaele-Tu’u, Lachlan Boshier e Duplessis Kirifi podem ter razão de queixa no que toca à convocatória final) a entregarem-se a um jogo de excelente qualidade!

Neste artigo de encerramento da temporada do Super Rugby modo kiwi, destacamos os embates mais interessantes, os jogadores que ganharam pontos na corrida pela camisola dos All Blacks, quem pode ver o seu nome a ser riscado, as surpresas mais interessantes, entre outros pontos de interesse! Vamos então perceber do que se tratou este North vs South 2020.

RAIO-X DE BEAUDEN BARRETT VS RICHIE MO’UNGA

Não tendo direito aos stats da OPTA (por estranho que pareça nenhum dos principais websites de acompanhamento de jogos ofereceu dados estatísticos), foi necessário rever o encontro por três vezes de modo a perceber as causas-efeitos do impacto tanto de Beauden Barrett e Richie Mo’unga na forma de jogar de cada uma das suas equipas.

Começando pelo abertura da equipa do Norte, o papel desempenhado por Beauden Barrett foi de grande qualidade, conferindo uma letalidade a cada nova movimentação dos nortenhos, encontrando em Damian McKenzie o parceiro perfeito para o crime, ou seja, ambos combinaram excelentemente bem tanto no que toca a explorar com velocidade e inteligência as algumas debilidades defensivas dos seus adversários (a nível de placagem e de cobertura, os atletas da ilha do Sul foram mais compactos, sem terem necessidade de serem mais físicos no que toca ao choque) ou de inventar saídas de ataque quando era menos provável se passar isso, com contra-ataques iniciados dentro dos seus próprios 22 metros. No jogo ao pé foi perfeito, tendo mesmo assistido Rieko Ioane para o 1º ensaio do Norte através de um gruber venenoso e inteligente que apanhou a defesa contrária desprevenida.

No que toca ao trabalho defensivo, Beauden Barrett foi superior a Mo’unga, pois o abertura do Sul nunca teve grande espaço para jogar e fazer o que mais gosta com a bola nas mãos, sendo que o atleta dos Blues completou 7 placagens efectivas em 7 possíveis. Inteligente no jogo à mão, Barrett foi essencial para dar outra genialidade e profundidade à Ilha do Norte, tendo beneficiado da grande exibição de Rieko Ioane no par de centros.

Mo’unga por sua vez não teve um jogo extraordinário e é só ver que só uma por vez o Sul marcou um ensaio (o de Tyrel Lomax na 2ª parte) que adveio de uma jogada geral de equipa. Como é que o 10 dos Crusaders teve tão poucas ocasiões para brilhar e dar outros contornos ofensivos a uma linha de 3/4’s que costuma jogar consigo? Opção táctica.

O staff técnico dos sulistas optou por procurar uma estratégia baseada no pontapé e recuperação, no conquistar de penalidades sob o adversário no breakdown (no total os do Norte cometeram 7 faltas por bola presa no chão, com mais 8 por fora-de-jogo, somando-se ainda mais 3 na formação-ordenada e ainda 4 por resposta ilícita ao maul) e avançar no terreno através das fases-estáticas. No final de contas, a estratégia resultou, não há dúvidas, mas Richie Mo’unga em termos de embelezamento de jogo saiu por baixo e acabou mesmo por realizar uma exibição cinzenta (o Rugby Pass, um dos maiores e mais polémicos sites de rugby do Mundo, sustenta esta análise). Com Jordie Barrett como chutador oficial, o papel de Mo’unga foi só de construtor de jogo e de delinear constantemente um plano eficiente na saída de defesa e de manter os seus colegas calmos e pacientes.

Indo à questão final que importa… foi Beauden Barrett melhor ou Mo’unga superiorizou-se claramente? Neste encontro, Beauden Barrett acaba por sair por cima tanto no patamar individual – duas quebras-de-linha, uma intercepção, uma assistência para ensaio, 50 metros conquistados, 2 offloads, 1 avant e 100% de eficácia na placagem contra zero quebras-de-linha, zero intercepções, uma assistência para ensaio, 10 metros conquistados, 2 avants e 84% de eficácia na placagem – como colectivo, pois claramente o Norte teve melhores jogadas do encontro e mal o nº10 saiu a equipa ressentiu-se por completo, enquanto o Sul conseguiu até estar melhor com Josh Ioane (excelente exibição) em campo naqueles minutos finais.

Se tiverem dúvidas enquanto aos números, convidamos a reverem o jogo, podendo fazê-lo através da Sporttv ou caso tenham interesse entrem em contacto com o autor ou o Fair Play e tentaremos arranjar uma solução para visionarem o encontro!

A BATALHA PELA CAMISOLA MAIS COBIÇADA DO MUNDO: QUEM SAIU A GANHAR?

Codie Taylor, Caleb Clarke, Will Jordan, Rieko Ioane, Hoskins Sotutu, Tom Christie e Josh Ioane. Expliquemos o porquê de cada um destes jogadores terem ganho vários pontos na luta pela titularidade, afirmação ou franca possibilidade de serem chamados para os All Blacks em 2020.

Codie Taylor. O talonador foi extraordinário em quase tudo o que fez, tendo só falhado três introduções no alinhamento (um parâmetro a melhorar mas que não é de todo preocupante), mas conduziu a formação-ordenada como um líder e foi sempre um perigo para a defesa contrária, assistindo até Jordie Barrett para o ensaio com um offload digno de registo, que ninguém esperava. Fisicamente está num patamar elevado, mantendo o mesmo nível durante todo o tempo que joga.

Caleb Clarke. Foi o melhor ponta do encontro, mesmo sem marcar qualquer ensaio. Conquistou praticamente 100 metros, responsável por três quebras-de-linha e acima de tudo foi sempre visto como uma ameaça, alternando velocidade e intensidade à medida que era necessário. Seguro na recepção dos pontapés, interventivo nas saídas de ataque – exactamente como Sevu Reece – e um poço de força como se pede e quer de um atleta fadado para ser um All Black.

Will Jordan. À ponta passa praticamente ao lado de todo o encontro, ficando mais à espera dos erros dos adversários do que receber propriamente um passe de um colega da sua equipa. Foi talvez o jogo mais prejudicado pela estratégia do Sul, quando positivamente é um jogador mais desequilibrador que Jordie Barrett com a oval em seu poder. Contudo, ainda conseguiu chegar à linha de ensaio por duas ocasiões, um à conta de um erro de palmatória de Clarke e o final que deu a vitória à sua equipa. Pouco mais se viu de um dos futuros grandes nomes dos All Blacks.

Rieko Ioane. Quem afirmava que Rieko Ioane nunca poderia ser um centro completo, então agora deverá estar a duvidar dos seus poderes de análise, pois o centro foi fulcral no dar continuidade às loucuras de Beauden Barrett e Damian McKenzie, combinando com perfeição com os colegas que lhe surgiam ao seu redor. Acabou o encontro com dois ensaios, 60 metros conquistados, 3 tackle busts, 2 offloads, 4 quebras-de-linha e muito mais.

Hoskins Sotutu. Está seriamente a candidatar-se ao lugar de nº8 dos All Blacks, seja agora ou para o futuro e tudo graças à forma monstruosa como se aplica a cada missão, querendo ser o primeiro a chegar à placagem, a ganhar o turnover, a impôr uma dimensão física no contacto, expondo-se constantemente. Foi um predador Apex da formação do Norte e se ainda havia alguma dúvida em relação ao seu talento, ficou totalmente dissipada com outra exibição de magnitude alta.

Tom Christie. Callum Grace, Dalton Papalii ou Dillon Hunt podem ter mais adeptos e seguidores, mas é díficil não rever em Tom Christie algumas das características mais essenciais de um jogador formatado para dominar a 3ª linha dos All Blacks. Realizou três turnovers, um deles essencial pois a equipa contrária estava a poucos metros da sua área de validação, resolvendo um problema que parecia impossível de superar naquele momento. Um enforcer intenso, pujante e físico que promete lutar pela camisola de asa na Nova Zelândia já este ano.

Josh Ioane. Se Beauden Barrett e Richie Mo’unga são o presente-futuro dos All Blacks, não há dúvidas que o futuro pode vir a estar totalmente entregue a Josh Ioane, um 3/4’s polivalente que faz a diferença seja no jogo ao pé ou à mão, coordenando com autoridade a sua equipa e nunca se escondendo no trabalho defensivo. A vitória do Sul em 2020 ficará para sempre lembrada devido a aquele pontapé perfeito para as mãos de Will Jordan e 2020 tem mesmo de ser o ano da sua estreia na selecção neozelandesa.

REDENÇÃO PARA… AKIRA IOANE

Espezinhado, insultado e rechaçado para o lixo por uma boa parte dos adeptos e comentadores neozelandeses, o ano de 2020 pode não ter começado bem para Akira Ioane (convocado apenas em 2 dos 7 jogos dos Blues no Super Rugby geral) mas parece ter levantado com sucesso a partir do Super Rugby Aotearoa. Ganhou outra destreza, começou a ser um defesa astuto e um placador comprometido, envolveu-se com outra velocidade no ataque e raramente erra nas suas funções quer de enforcer como nº6 ou de tanque a nº8.

Se no ínicio da sua carreira como sénior existiam várias vozes a pedir que lhe fosse dada uma franca oportunidade para se destacar no rugby neozelandês, após esta época é necessário começar a validar o trabalho individual que Akira Ioane levou a cabo, sendo agora mais jogador, atleta e líder do que era nas épocas anteriores. Este Norte vs Sul tinha esse factor oculto de quem poderia ser realmente a opção para a camisola nº6… se o incrível Shannon Frizell ou o pesadão Akira Ioane. No final do encontro, foi o atleta dos Auckland Blues a mostrar que queria mais, aparecendo no encontro com lucidez, denotando-se uma mobilidade totalmente desequilibradora que fez a diferença em alguns movimentos dos nortenhos.

Q&A RELÂMPAGO

Quem jogou melhor como 15: Damian McKenzie ou Jordie Barrett? DMac, sem margem para erro! Sim, Jordie Barrett conseguiu um ensaio, mas quantas vezes furou a linha de defesa do North? Nenhuma. Já o pequeno e genial defesa nortenho fez algumas quebras-de-linha e ainda assistiu para dois ensaios que encheram o campo em todas as medidas… ah e não falhou um pontapé à frente dos postes, na batalha dos chutadores!

Quem foi a equipa mais faltosa… e porquê? O Norte cometeu 22 penalidades no total, contra 11 do adversário, efectuando assim o dobro. Pior ainda, quatro dessas penalidades resultaram em ensaios dos sulistas o que deixa um sabor amargo na boca dos nortenhos. Em relação ao porquê, bem a forma impaciente como saíam da linha de defesa foi uma das razões, com Asafo Aumua (por três ocasiões o talonador foi apanhado à frente da linha legal) por exemplo a querer ser mais rápido que tudo e todos, só que acabou por penalizar a sua própria equipa. Faltou alguma voz de comando de Patrick Tuipulotu e TJ Perenara neste aspecto.

TJ Perenara, Aaron Smith ou Brad Webber? Aaron Smith, a seguir TJ Perenara e talvez venha Brad Webber no fim. O formação dos Highlanders entrou na 2ª parte e foi melhor em todos os sectores, com aquela voz irritante e que tenta empurrar a equipa para outro nível de confiança, sendo o nº9 em melhor forma na Nova Zelândia.

Este é um jogo para se repetir? Pegando nas palavras de Ardie Savea, claro que sim e que seja a triplicar. Isto é, que para a próxima edição seja não em formato de um único jogo, mas sim em três de modo a ganhar outra sustentabilidade no futuro. Não há dúvidas que é um produto comercialmente muito apetitoso e que tem a capacidade para dar outra forma aos convocados dos All Blacks.

Samuel Whitelock devia ser o capitão dos All Blacks? Se essa pergunta já podia ter sido respondida pela forma como Whitelock guiou os Crusaders nas sombras (o capitão era Codie Taylor), então depois deste encontro de All-Stars ficou ainda mais clara essa situação. É quem detém a voz mais forte, apaixonante, inteligente e sábia do elenco que vai estar no The Rugby Championship em 2020 e devia merecer de novo essa confiança.

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