Reformulação das competições de rugby em Portugal I – Sub16 e Sub18

Fair PlayMarço 21, 20198min0

Reformulação das competições de rugby em Portugal I – Sub16 e Sub18

Fair PlayMarço 21, 20198min0
Luís Supico propõe mudanças para os escalões de formação do rugby português, de forma a encontrar um modelo mais sustentável. Concordas com a visão do treinador?

Se há coisa que diferencia os escalões de pré-competição (Sub16 e Sub18) dos de competição (Séniores e Challenge), é a constante mutação dos mesmos: sendo um escalão de aprendizagem, restringida pela idade, o que era num ano pode ser exactamente o oposto no outro (vários casos em que equipas que lutavam para não descer num ano passam a lutar pelo campeonato no outro, pelo simples facto de serem mais novos ou mais velhos por comparação com outras equipas). Só nesse ponto, estes campeonatos são já muito interessantes. Mas pode haver mais.

Para quem não conheço os escalões em causa, faço um pequeno resumo:

Todos os anos os dez melhores classificados (da época anterior) fazem uma primeira fase de qualificação (a uma volta) entre si, para determinar quem luta pelo campeonato (os cinco de cima) e quem luta para não descer de divisão (os cinco de baixo) – a denominada Série A. Na segunda fase e já divididos entre si, os cinco de cima jogam entre si a duas voltas (oito jogos para cada equipa) e o mesmo para os cinco de baixo, com o mesmo número de jogos; já a taça depende da classificação final (sorteio em serpentina, em que entram os seis melhores da Série B). No total, cada equipa (da Série A) faz no mínimo vinte e um jogos, tendo duas folgas garantidas na Segunda Fase (como são cinco equipas, cada uma descansa uma jornada por volta).

As equipas da Série B? A melhor da Série B joga com as duas piores equipas da Série A (todas do ano anterior) numa mini-liguilha em Setembro entre si para determinar quem vai jogar na Série A nessa temporada.

Logo à partida há um problema: é que não sabemos como vai ser o ano seguinte. Pode haver até o caso de uma equipa lutar para subir/não descer que não tem jogadores suficientes no ano seguinte, ou até (como foi o caso nos sub18 por duas vezes) o plantel do ano anterior descer de divisão e o plantel do ano seguinte, com imenso talento, estar obrigado a jogar na Série B (Montemor ganhou a taça de Portugal jogando na Série B, por exemplo).

Confuso sem dúvida e, pior ainda, não dá iguais hipóteses a todas as equipas.

Sou um firme apologista da regionalização no rugby – acredito que só com o crescimento local dos clubes é que haverá um aumento da competitividade a nível nacional. Não só haverá, nesse modelo, um maior interesse dos jogadores, dos pais, dos patrocinadores, como as depesas de deslocação serão menores.

Mas regionalização não implica um fim em si próprio: para se encontrar um campeão (que é o objectivo de uma competição), os melhores têm de jogar entre si e isso só se consegue havendo um campeonato nacional entre eles.

Duas visões incompatíveis? Não me parece, já que é possível fazer, de forma equilibrada, ambos…

Fazendo um apanhado dos clubes de sub16 e sub18 que jogaram Rugby de XV nos últimos anos, vemos que são muito equilibrados os números: cerca de 24 equipas por escalão, tirando ou pondo uma por ano e em que cerca de 90% das equipas apresentam equipas em ambos os escalões. Ou seja, não só há uma ideia clara de número de equipas, o que ajuda ao planeamento do calendário da época seguinte, como as deslocações são, por norma, para ambos escalões.

 

 

Sub-16 (Foto: Luís Supico)

Ora, se o objectivo é competitividade mas ao mesmo tempo crescimento local, a única maneira que temos de conciliar ambos é com uma fase de qualificação regional (neste caso, dividido em quatro grupos a uma volta), com passagem dos dois primeiros de cada grupo para uma fase final (Série A) para atribuição de campeão nacional (a duas voltas) – o que daria aos clubes em questão vinte e dois jogos, sem contar com taça.

Já as equipas que não se qualificassem para a fase final iriam ser divididas (na Série B) em três grupos com jogos a duas voltas (dez ou doze jogos, consoante o grupo) para qualificação da Taça de Portugal – ou seja, podem não estar a jogar para uma competição, mas já começam a jogar para a outra, sem pressão de terem de subir ou descer de divisão todos os anos. Destes três grupos irão sair oito equipas – as duas melhores de cada grupo e jogos entre o 3º classificado de cada grupo (mais o quarto do grupo com mais equipas). Ou seja, não só garante dez a doze jogos competitivos como irão entrar numa fase mais adiantada para jogar (de novo) com as melhores equipas do país, para atribuição da taça de Portugal.

Feitos os campeonatos e qualificações, os oito da Série B e os oito da Série A encontravam-se para fazer as fases a eliminar da taça (jogos a sortear e a uma mão só).

Foto: Luís Supico

Ou seja, na pior das hipóteses e considerando que uma equipa que faz a fase de qualificação (regional), final (nacional) e final da taça irá jogar vinte e seis jogos, com todas as outras equipas que jogam na Série A a jogar no mínimo vinte e três, sendo que da Série B irão jogar no máximo vinte e quatro jogos (todos regionais, excepto as fases a eliminar da taça) e no mínimo dezasseis jogos (não se qualificando para as eliminatórias da taça e jogando sempre nas Séries com menos equipas).

Por forma a poder provar a possibilidade de tal, comecei por fazer um ranking das equipas nas últimas três temporadas (não consegui arranjar da época passada, por isso fiz das três anteriores) e classifiquei por posição final de ambos os escalões – perfazendo uma posição global do clube nos últimos anos. Clubes que não apresentarem equipa dei um valor de 30, para não desvirtuar as contas e, em casos de equipas não classificadas para as fases finais, dei por vezes a mesma posição (por não haver maneira de as comparar).

Depois, dividi uma série em Norte / Centro (oito ou nove equipas, na sua maioria existindo em ambos os escalões) e três séries Lisboa / Sul, com distribuição em serpentina (segundo o ranking global dos últimos três anos), com a tentativa de nunca juntar mais que duas equipas demasiado distantes umas das outras (a amarelo a 100 Km de Lisboa, a cor-de-laranja as Alentejanas / Algarvias) e sempre a juntar o máximo possível de escalões sub18 e sub16 (o sorteio foi feito consoante os sub18, acertando depois sub16 soltos / trocados).

Quais as diferenças para hoje em dia? Quais as vantagens?

Em primeiro lugar, não há subidas e descidas. Uma equipa que é suficientemente boa tem tantas hipóteses de se qualificar como outra qualquer, todos os anos. Ou seja, automaticamente aumenta a competitividade e o nível das equipas mais fracas;

Em segundo lugar, as deslocações são menores no início e, para as equipas mais pequenas, acabam nunca por ser nacionais – isto é, Loulé ir a Arcos de Valdevez (por exemplo) só irá acontecer para um jogo a eliminar na taça;

Em terceiro lugar, garante competição a maioria do ano – quem não se qualifica para o campeonato está automaticamente a lutar pela taça de Portugal;

E finalmente porque abre caminho a novas equipas aparecerem, seja introduzindo-as nas séries já existentes (aumentando um jogo para cada equipa) ou até criando outro(s) grupo(s), mantendo o número de jogos e de qualificação iguais.

Apesar de ser um campeonato que funciona melhor que o dos Séniores (que tiveram demasiadas mudanças nos últimos tempos, o que vem perturbar tudo), a pré-competição tem de ter em conta não só a competitividade das melhores equipas mas principalmente o facto de serem escalões geracionais, com muitas mudanças de ano para ano.

Proposta de ranking (Foto: Luís Supico)

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