Identidades ou Como fazer fortuna em tempo de guerra

Fair PlayNovembro 14, 20174min0

Identidades ou Como fazer fortuna em tempo de guerra

Fair PlayNovembro 14, 20174min0
O rugby português deve encontrar o seu próprio modelo de rugby e as sua próprias identidades. Luís propõe uma reflexão sobre o estado da modalidade

Por norma não é o original que mais lucra com um conceito; a sua vantagem é, sem dúvida, ser o primeiro, mas a concepção da ideia encontra-se à partida condicionada pelo desconhecido, já que o limite da mesma é o próprio criador – sem termos de comparação ela nasce (e morre) na genialidade de quem a imagina, nas suas insuficiências e nos seus conhecimentos.

São vários os casos: a Motorola com o seu famoso “tijolo” entretanto ultrapassada pelo iPhone (e outros anteriormente), o primeiro híbrido desenvolvido no princípio dos anos 70 nos EUA mas que teve no Japão no fim dos anos 90 (Toyota Prius e Honda Insight) a sua primeira produção em massa e domínio de mercado desde então, WebCrawler como primeiro motor de pesquisa na net sendo o Google (fundado quatro anos depois) o nome maior hoje em dia, muitos os exemplos de ideias nascidas de uns mas desenvolvidas a um nível global por outros.

O mesmo se aplica ao Rugby, desporto nascido em Inglaterra e que tem como expoente máximo a Nova Zelândia, onde um conceito de jogo é transversal a escolas, selecção nacional, regiões, clubes e, até, sociedade: faz parte de todos e todos trabalham para o elevar.

Usando a maior ferramenta humana que temos (copiar), foram várias as tentativas de emular o sistema kiwi, sempre sem sucesso – porque o que vemos de produto final não é mais que o somatório de todas as peças ocultas e que não existem no nosso quotidiano: todos queremos jogar como neozelandeses, mas nenhum de nós vive lá…

O conceito de cópia está certo, apenas a forma está errada: não é o estilo de jogo que se deve procurar imitar mas sim o modelo de partilha de conhecimento – porque é aí que estamos a milhares de milhas de diferença.

Cada equipa procura, naturalmente, desenvolver as suas valências técnicas e tácticas, os seus conceitos, mais-valias que os diferencia de todos os outros: é na junção de todas essas mais-valias, aliados a um modelo individual comum a todos que se pode construir uma identidade nacional. Com um leque alargado de conhecimento e troca de informação, treinadores e jogadores terão um aumento exponencial de qualidade.

É um assunto importante para mim, uma identidade. Vivemos de muitos (demasiados) individualismos no rugby português, tanto dentro como fora de campo. Que existam é natural e nem a troca de informações vai fazer com que desapareçam, mas mesmo com partilha eles podem continuar a existir – se as minhas falhas e qualidades são conhecidas de todos, isso obriga-me a desenvolver o meu próprio conhecimento, lutar por melhorar, sair da zona de conforto, tornar problemas em soluções e pensar fora da caixa: tudo o que pedimos aos jogadores mas, muitas vezes, não nos preocupamos em fazer.

Diz a lenda que, no seguimento da derrota de Napoleão em Waterloo, Nathan Rothschild proferiu a célebre frase,

“comprem quando há sangue na rua, mesmo que este seja o vosso”.

Numa altura de indefinição e falta de ideias, nunca uma visão tão distanciada, fria e calculista foi tão certa: está em causa, numa altura de enorme incerteza, o futuro do rugby português – temos de ser, então, frios, calculistas e honestos. Se vamos voltar atrás e desenvolver o rugby via clubes, então temos de desenvolver os próprios dos clubes, sejam eles os nossos ou os dos outros; se o meu clube quer crescer, então todos os outros clubes têm de crescer comigo.

Há sangue na rua – saibamos nós diferenciar o que é supérfluo do importante, rapidamente; o futuro do melhor desporto do mundo está em causa.

Foto: Luís Cabelo Fotografia

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