3 destaques do pré-RWC 2019 II: o 1º sinal dos All Blacks e dos Les Bleus

Francisco IsaacAgosto 20, 20198min0

3 destaques do pré-RWC 2019 II: o 1º sinal dos All Blacks e dos Les Bleus

Francisco IsaacAgosto 20, 20198min0
Foi com estrondo que a Nova Zelândia derrotou a Austrália, mantendo a Bledisloe sob seu controlo e os Les Bleus mostraram o seu melhor rugby! A análise à semana 2 do pré-RWC 2019

Nova Zelândia deu uma lição de humildade à Austrália, Escócia desilude (profundamente) frente a uma França dominante e Gales assume-se como n.°1 mundial! Os destaques da semana 2 de preparação para o Mundial analisados no Fair Play!

REECE & BRIDGE: PARCERIA PARA O AGORA DOS ALL BLACKS?

Do sonho de recuperar a Bledisloe (que foge há décadas) para acordar no meio de um autêntico pesadelo em Eden Park, esta foi a “vida” dos Wallabies nos últimos dias. A selecção liderada por Michael Cheika foi totalmente arremessada para o lado por uma Nova Zelândia que quis limpar a má imagem das últimas semanas, surgindo com uma atitude defensiva não só eficiente mas também de uma inteligência total onde a 3a linha liderada por Kieran Read foi preponderante.

Tanto o n.°8 como Sam Cane e Ardie Savea (um falso nº6, já que inverteu os papéis com Read) foram autênticos predadores em redor do breakdown, recuperando consecutivas bolas do chão, para a frustração de Nic White pois o formação não teve nunca uma saída de jogo minimamente segura, sofrendo uma constante pressão que impediu outra fluidez de jogo dos australianos. Ainda houve um vislumbre nos primeiros 15 minutos da primeira parte dos Wallabies mas depois foi jogo totalmente dos bicampeões mundiais em título.

Se a melhoria geral do jogo neozelandês passou pela evolução na capacidade defensiva, é impossível fugir perante o impacto das novidades nas duas pontas onde surgiram inesperadamente Sevu Reece e George Bridge. Os camisolas 11 e 14 reeditaram uma parceria que foi de sucesso nos Crusaders, colocando uma pressão total na defesa contrária que não soube lidar perante a inteligência e artimanhas de Bridge ou a explosão física e instinto de Reece, usados como unidades de perfuração ou de apoio rápido que semearam um descontrolo defensivo à Austrália sem que fosse possível a Michael Cheika reagrupar e apostar noutra estratégia.

Pelos números ficamos a perceber o impacto directo no resultado de ambos: dois ensaios (o ensaio de estreia de Sevu Reece é uma espécie de caos organizado, com um pontapé quase à sorte com noção onde queria meter a oval), 1 assistência, 130 metros conquistados em 19 oportunidades, 6 quebras-de-linha, 9 defesas batidos e 3 offloads. Reece ainda podia ter ficado com mais 5 pontos caso o juiz de jogo tivesse permitido que a sua intercepção era legal, mas adveio de um avant em que a Austrália não retirou qualquer vantagem, isto já na parte final do encontro.

Ben Smith e Rieko Ioane pareceram algo descoordenados em Perth, abrindo a possibilidade de Steve Hansen em arriscar em dois “desconhecidos” do panorama de selecções, com tanto George Bridge (é o jogador de três-de-trás mais iluminado do rugby neozelandês nos últimos dois anos, com uma panóplia de estratégias e pormenores só ao nível de Ben Smith) e Sevu Reece a surgirem em força nos All Blacks, capacitando a equipa de mais duas soluções de qualidade para o Mundial que se avizinha.

ALLEZ BRUNEL, ALLEZ PENAUD, ALLEZ LES BLEUS

Se havia algumas dúvidas em relação à França, a vitória por 32-03 no passado fim-de-semana frente à Escócia ajuda a dissipar umas quantas questões a começar pela qualidade da estratégia de jogo e a expressão ofensiva.

Os 5 ensaios sem resposta vieram com total naturalidade pois foi a equipa que mais metros conquistou (640), conseguindo 15 quebras-de-linha, batendo bem o pé ou fugindo bem no contacto por 33 ocasiões, mostrando também uma apetência para apostar nos offloads, num risco bem calibrado e de um sabor de genialidade pura onde Maxime Medard, Gael Fickou, Wesley Fofana (é quase impossível de pará-lo na primeira placagem, demonstrando que é um elemento essencial quando está em forma) e o espectacular Damian Penaud a fazerem a diferença.

Em especial o número 14 merece uma atenção redobrada, pois não foi preciso marcar ensaios para ser visto como o melhor em campo, pois os 120 metros que abriu por entre a defesa da Escócia acabaram por ser letais, conseguindo assistir para dois ensaios (ambos de Médard, numa combinação de qualidade do três-de-trás gaulês) para além das cinco quebras-de-linha e 7 defesas batidos.

São essencialmente números é verdade, mas a forma como Penaud consegue montar uma linha de corrida voraz e agressiva permite aos Les Bleus entrarem para outra dimensão tanto no ataque como na defesa, munindo-se de um elemento que não só lê e compreende o jogo como tenta descobrir de forma rápida a melhor forma de explorar as fraquezas do contingente adversário.

Jacques Brunel tem conseguido montar um grupo sólido, de rugby expansivo, apostando numa redefinição do rugby champagne (procura do belo mas adaptando o guião aos actores que tem) onde tanto combina os veteranos como Louis Picamoles (começou do banco mas fez-se sentir desde logo), Wesley Fofana, Guilhem Guirado, Yoann Huget ou Camille Lopez, com a nova vaga como Gregory Alldritt (exactamente o tipo de nº8 que a França precisa para agora e futuro), Antoine Dupont, Damian Penaud, Thomas Ramos, Emerick Setiano ou Demba Demba para dar lugar então a um novo período interessante (e necessário) dos Les Bleus.

O NOVO ALVO A ABATER (OU NÃO) DO MUNDO DO RUGBY: PAÍS DE GALES

Warren Gatland conseguiu o inesperado e o impossível, já que levou o País de Gales ao 1º lugar do ranking oficial da World Rugby, dotando a equipa galesa de honras e glórias que a coloca como uma das melhores selecções do Mundo do Rugby no século XXI.

A Nova Zelândia desce do seu lugar imperial de forma surpreendente (o sistema de pontos do ranking da World Rugby vai de acordo com as vitórias e derrotas obtidas, dependendo de número de pontos ganhos ou perdidos em correlação com a posição da selecção adversária) e o País de Gales ascende depois de só ter averbado uma derrota nos últimos 7 jogos em 2019.

Apesar da ascensão ao primeiro lugar, não houve qualquer sinal de festejo perante esta marca uma vez que corre o rumor de que Warren Gatland não sente que este seja o posicionamento real e merecido do País de Gales, ainda por mais porque nunca conseguiu derrotar a Nova Zelândia. De qualquer modo, como é que os galeses ultrapassaram os All Blacks na tabela? Com uma vitória memorável frente à Inglaterra no Millenium em Cardiff.

Num jogo de muitos solavancos, com uns quantos pormenores de arbitragem pouco claros (não houve a mesma dualidade de critérios em diferentes parâmetros, a começar pelo jogar rápido que tanto Willie Heinz ou Ben Youngs queixaram-se) foram os galeses a sair do seu próprio estádio com uma vitória por 13-06, destacando-se os regressos de Dan Biggar na posição de médio-de-abertura titular (jogo de qualidade, sem deslumbrar, apesar de ter sido dos seus pés que começou o ensaio de George North) e Leigh Halfpenny (há 9 meses que não jogava pela sua selecção).

Uma vitória de raça e garra, com um contra-maul de espectacular qualidade que anulou por completo o comboio inglês, para além de uma atitude preponderante no contra-ruck e no roubar a bola no contacto foram apontamentos essenciais nesta conquista.

Se é justo ou não esta subida ao 1º lugar do ranking, depende de cada leitor e adepto do Mundo do Rugby. Veja-se que a Nova Zelândia foi a selecção de Tier1 que menos derrotas sofreu nos últimos 4 anos, com apenas seis reveses num total de 46 encontros (contamos os 2 empates como derrotas), enquanto que o País de Gales sofreu 15 derrotas e 1 empate de um total de 44 jogos no mesmo espaço de tempo. É justo ou não o 1º lugar?


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