Quem Manda na NBA?

João PortugalNovembro 16, 201710min0
Descubra as duas melhores equipas da NBA neste início de temporada. Os Celtics têm a série vitoriosa mais longa da presente época e uma defesa acima das demais. Os Warriors estão a caminho de bater todos os recordes ofensivos que possamos sequer imaginar que existam.

O primeiro mês de NBA trouxe-nos alguns arranques surpreendentes, Orlando, Detroit, Knicks ou Nuggets; os Houston Rockets estão a mostrar que são cada vez mais a principal ameaça no Oeste ao domínio de Golden State; OKC e Cleveland têm desiludido, mas há duas equipas que se destacam e actualmente dominam os dois lados do court: os Warriors em busca do melhor ataque de todos os tempos na fase regular e os Celtics com uma defesa que, de momento, não tem igual. Vamos tentar perceber o que as torna tão avassaladoras e no topo da pirâmide deste início de temporada.

Recuemos à primeira madrugada de jogos. Em menos de 5 minutos, Boston perdia Gordon Hayward para o resto da época, com a perna partida um pouco acima do tornozelo, eram suplantados pelos Cavs e iniciavam o ano derrotados pelo principal rival na Conferência Este e ficavam sem o melhor jogador. Este jogo acabou por nos enganar em dois sentidos, os Cavs têm muitos mais problemas do que mostraram nesta partida e os Celtics estão cheios de soluções e são liderados por um treinador soberbo.

Horas mais tarde, os Warriors recebiam os anéis de Campeão, disparavam para uma vantagem de 13 pontos à entrada do último período ante os Rockets e perdiam na Oracle Arena. Steve Kerr, treinador de Golden State, agarrou-se à deficiente condição física dos seus atletas para explicar o desaire.

Muito mudou entretanto, Boston vai numa série de 12 vitórias consecutivas e para além de Hayward, já esteve sem Al Horford e Kyrie Irving, ambos os casos devido a procedimentos anti-concussão. Kyrie acabou mesmo por fraturar um osso na face e vai jogar de máscara protectora. Como é que um plantel tão jovem, com tantas caras novas, deu a volta a um começo de 0-2 para 12-2? Irving vai ter argumentos para a sua primeira candidatura a MVP se os Celtics continuarem a dominar o Este desta forma, porém há um responsável ainda maior, o treinador Brad Stevens.

Stevens não é só um genial estratega, famoso pelo seu aproveitamento em jogadas após descontos de tempo, como é também um comunicador exemplar capaz de tirar o melhor dos seus atletas. O trabalho que ele e o seu staff fizeram com Irving defensivamente, em poucos meses, foi incrível e a prova do quão importante o coaching realmente é para alcançar o sucesso ao mais alto nível.

O base All-Star dos Celtics deixou de ser um patinho feio na defesa. Antes desta temporada, nunca tinha postado um defensive rating (pontos marcados pelo adversário por cada 100 posses de bola) abaixo de 104,5, quando está em court. Ao fim de 14 jogos, esse valor está nos 96,2 pontos por 100 posses, uma melhoria de 12,9 (!) em relação à época transacta. Irving até está no top5 em roubos de bola por jogo com 2 e com um mínimo de carreira em turnover ratio de 7,4 (percentagem de posses de bola que acabam em recuperação do adversário).

[Fonte: Dale Zanine-USA TODAY Sports]
Como é que isto foi conseguido? Tem claramente melhores colegas de equipa no que toca a defender, em relação a Cleveland; os Celtics seguem melhores esquemas defensivos e Kyrie Irving tem, finalmente, um treinador que o convenceu a esforçar-se quando a sua equipa não tem a bola. Ele, simplesmente, não estalou os dedos e aprendeu a defender.

Claro que a fantástica defesa dos Verdes não é a melhor da NBA apenas graças à transformação do seu base. Boston concede somente 94,8 pontos por 100 posses de bola, 3,9 pontos melhor que os Thunder, e depois mais nenhuma equipa está abaixo dos 100. Tudo isto porque eles são elite nos 3 pilares defensivos que considero mais importantes: ressaltos, percentagem de acerto adversária e turnovers.

Ao nível do ressalto, naturalmente que os defensivos têm maior preponderância já que retiram posses de bola ao adversário próximas do cesto, os Celtics captam os defensivos em 81,2% dos lançamentos falhados pelos seus oponentes (4ª melhor da NBA), e 53,1% de todos os ressaltos em disputa em cada partida (2ª marca da liga).

No capítulo dos turnovers, juntemos o facto de perderem a bola em apenas 14,7% das posses de bola (6ª melhor da liga) à realidade em que só 6,5 dos turnovers por jogo resultam em roubos de bola (1º da NBA), ou seja, na imediata possibilidade de contra-atacar.

Por último, todas as equipa estão a ter enormes dificuldades em marcar lançamentos de campo contra os pupilos de Brad Stevens. 42,6% apenas de acerto (2º) e na arma mais importante da liga no presente, os triplos, mantêm-se ao nível das melhores com 32,1% de acerto dos adversários (3º). Temia-se que a troca que levou Avery Bradley para Detroit, por Marcus Morris, pudesse afectar muito defensivamente o desempenho da equipa, já que Bradley é um dos melhores bases defensivos da liga, contudo a estrutura não abalou assim tanto.

Mesmo com uma baixa para o resto do ano de um elemento que tem excelentes atributos defensivos como Hayward, o plantel tem imensas soluções. A combinação de bases de Irving, Marcus Smart e Terry Rozier, as jovens wings Jaylen Brown e Jayson Tatum, e um dos melhores postes defensivos da actualidade, Al Horford. Quase todos os elementos do plantel são capazes de defender várias posições, realizar trocas defensivas após bloqueios, deslizar na ajuda em ataques ao cesto e mesmo assim chegar a tempo de contestar um triplo no canto. A melhor defesa da NBA é a grande candidata a chegar à Final no Este.

Fonte: Pinterest

Do outro lado dos Estados Unidos, a dominar as estatísticas no lado oposto do court, recuperando o registo avassalador que nos vêm habituando desde 2014, os Warriors estão no caminho certo para alcançarem o melhor ataque da história da NBA. Nada disto é surpreendente. É o segundo ano de Kevin Durant, mantiveram toda a estrutura ganhadora e melhoraram bastante o banco de suplentes. O verdadeiro poder de ser a melhor equipa da liga na actualidade é a capacidade para atrair um role player como Omri Casspi ao preço da chuva. Só por curiosidade, os Warriors são superiores ao adversário em 35 pontos por 100 posses de bola nos 99 minutos que o israelita já jogou e ele ainda não falhou um triplo.

Agora é aquela parte em que todos ficam espantados ou se fingem espantados pela brutalidade dos números do início de temporada de Golden State, que, recordo, perdeu 3 dos primeiros 7 jogos e teve o calendário mais complicado de todos os franchises até à data. O melhor Offensive rating de sempre, segundo o site Basketball Reference, é dos Lakers de 86/87, com 115,6 pontos marcados por 100 posses de bola. Há sites que apresentam resultados um pouco diferentes, o que não está relacionado com a capacidade ofensiva das equipas mas sim com a maneira de contar posses de bola que difere um pouco.

Qualquer que seja o comparativo, até ao momento os Warriors marcaram 116,6 pontos por 100 posses (segundo o site da NBA; 117,5 pelo BBallRef) e o mais assustador é que este número tem tendência a melhorar. Este valor é o culminar de todas as coisas brilhantes que estes rapazes fazem quando entram em campo, porém, só quando o desdobramos em muitos outros valores é que percebemos o quão especial é esta geração da NBA.

Conhecem o clube dos 50-40-90? Steve Nash, Dirk Nowitzki, Reggie Miller, Larry Bird e os dois Dubs, Curry e Durant, são alguns dos membros mais ilustres. É um restrito grupo composto pela combinação das percentagens de acerto de lançamentos, campo, triplos e lances livres. Eu sou a favor de uma mudança para duplos, triplos e lances livres, que é algo que vai sendo cada vez mais aceite entre a generalidade e dentro de pouco tempo deverá mudar.

Foquemo-nos no tradicional 50-40-90. Normalmente um ou outro jogador consegue este feito que, apesar de raro, com o evoluir da eficiência na liga, se tornará um pouco mais “fácil” de atingir. Pois bem, os Warriors podem tornar-se na primeira equipa a satisfazer as duas primeiras condições na equação!

Sejamos honestos, para um colectivo lançar acima de 90% da linha de lance livre vai ser preciso um grande milagre, já que nunca nenhuma passou dos 83%. Golden State está a lançar 52,1% de campo, 41,5% de 3pt e 82,8% de FT. Não só poderão ser os primeiros a conseguir o 50 e o 40, como podem ser pioneiros em alcançar os 83% em lances livres.

É este o ataque que manda na NBA?[Fonte: Noah Graham – Getty Images/ NBA.com]
Como é que os Dubs conseguem ser tão eficientes? A eFG% (effective field goal%, significa a % de acertos de campo, mas com uma média ponderada no facto de um triplo valer mais que um duplo) deles é 5,1% superior à segunda mais alta, dos Rockets (60,2% vs 55,1%). São os mais talentosos? Sim. Têm um coaching staff fabuloso? Verdade. Todavia, há algo que tem tanta importância quanto o talento do plantel.

A solidariedade entre eles, a noção de que muitas vezes o melhor lançamento disponível não é o que o “eu” posso executar agora, mas sim o do “meu colega” que se libertou do bloqueio no weak side (lado oposto da jogada) ou do “meu poste” que está abandonado debaixo da tabela. É por isso que os actuais Campeões assistiram em 70,5% dos lançamentos de campo concretizados o ano passado e esta época já o fizeram em 69,8% das posses de bola com sucesso. Não há qualquer equipa perto.

A grande pergunta que fica é, será que Steph Curry terá a utilização necessária para conseguir o seu terceiro MVP? Para já digo que não. Com Kawhi Leonard de fora da equação por lesão, os Cavs com dificuldades em conseguirem sequer entrar no top8 do Este, James Harden deve conseguir o seu merecidíssimo galardão. Só deixei esta pergunta no ar porque cada vez mais parece que Curry está ao nível que mostrou em 2016 quando foi MVP por unanimidade. E não, não me esqueci dos dois Dark Horses, Giannis Antetokounmpo e Kristaps Porzingis.

Curry continua a ser o jogador com maior poder gravitacional na NBA, que não é mais do que a capacidade de atrair até si defensores em excesso, principalmente em contra-ataque, deixando o resto do court à mercê dos seus colegas. Lidera a liga em Net rating (23,5!) e Offensive rating (122,6), mas só tem jogado 32 minutos por partida, insuficiente para MVP.

Para terminar e porque esta deve ser a diferença mais ridícula entre os Warriors e os outros, os Dubs marcam 27,6 pontos em contra-ataque por encontro. A equipa que mais se aproxima são os Denver Nuggets com 15,2. De facto, a diferença entre 1º e 2º (12,4) é superior ao valor entre os Nuggets e os Portland Trail Blazers(11,6), que são quem menos marca em transição na NBA, somente 4,6 por partida. Fica aqui mais uma prova para o poder gravitacional de Steph Curry.


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