A progressão dos 10 melhores clubes da natação portuguesa

João BastosSetembro 30, 201714min0
O Sporting voltou a liderar o ranking do rendimento na Taça de Portugal de Natação. O Fair Play analisa o desempenho das 10 melhores equipas

Com a divulgação do ranking da Taça de Portugal, o Fair Play faz uma análise aos 10 melhores clubes em 2016/2017, na classificação do rendimento


Já são conhecidos os vencedores da Taça de Portugal. Pelo segundo ano consecutivo o Sporting foi o melhor clube no critério do rendimento, num ranking que ficou assim ordenado:

  1. Sporting Clube de Portugal: 2273 pontos;
  2. Sport Algés e Dafundo: 1961 pontos;
  3. Sport Lisboa e Benfica: 1444 pontos;
  4. Sociedade Filarmónica União Artística Piedense: 1022 pontos;
  5. Clube de Futebol “Os Belenenses”: 981 pontos;
  6. Futebol Clube do Porto: 875 pontos;
  7. Sporting Clube de Braga: 839 pontos;
  8. Estrelas de São João de Brito: 791 pontos;
  9. Clube Galitos de Aveiro: 520 pontos;
  10. Associação Lousanense de Natação: 452 pontos.

Quem tem rendido mais?

A classificação do rendimento da época 2016/2017 não apresentou muitas surpresas. No top-10 só houve uma nova entrada (e consequentemente uma saída) em relação à época anterior. O Louzan Natação chegou aos 10 melhores, operando uma troca de representantes da Associação de Natação de Coimbra, visto que foi o Náutico de Coimbra saiu do top-10, caindo para o 11º lugar. De resto, foi a primeira vez que o CNAC não figurou entre os 10 melhores na classificação do rendimento da Taça de Portugal, algo que, depois do avultado número de nadadores que o Náutico viu sair este ano para outros clubes, será difícil de corrigir já nesta época 2017/2018.

Mas olhemos à progressão das 10 melhores equipas de 2016/2017:

Fonte: FPN

1. Sporting

O Sporting voltou a ser o melhor clube português, depois de também ter liderado a classificação em 2015/2016. O clube lisboeta alicerçou a sua vitória conseguida este ano, sobretudo, nos recordes nacionais que obteve durante a época, já que nos três campeonatos nacionais que pontuam para a Taça de Portugal, apenas liderou o medalheiro naquele que dá menos pontos – Nacional Juniores e Seniores de Piscina Curta.

Se forem considerados os últimos 5 anos, é justo afirmar que globalmente o Sporting foi a melhor equipa portuguesa. Venceu a Taça por três vezes (2013/2014, 2015/2016 e 2016/2017), foi segundo em 2012/2013 e terceiro em 2014/2015, sendo a sua pior classificação em 5 anos.

Este resultado reflecte as classificações que o clube tem conseguido nos Campeonatos Nacionais de Clubes, onde a equipa masculina vence há 6 anos consecutivos e a equipa feminina é terceira classificada há 3, sendo os sportinguistas os principais candidatos à vitória nos nacionais de clubes unificados que passarão a vigorar a partir desta época.

Foto: Luís Filipe Nunes

2. Algés

O Algés tem sido cronicamente a segunda melhor equipa nacional. Há três anos que fica no segundo lugar da Taça de Portugal – rendimento, ameaçando cada vez mais o primeiro lugar do Sporting, já que a sua subida na hierarquia da natação portuguesa tem sido constante e consistente (4º em 2012/2013, 3º em 2013/2014, 2º em 2014/2015, 2015/2016 e 2016/2017).

O Algés não foi o melhor no medalheiro de nenhum dos três nacionais que pontuavam para a Taça, mas à semelhança do Sporting, os pontos dos recordes nacionais tiveram um peso importante na sua classificação final.

Este ano, o Algés sagrou-se campeão nacional da 1ª divisão de clubes femininos e campeão nacional da 2ª divisão masculina, sendo, previsivelmente, a mais forte concorrente do Sporting ao título de campeã nacional de clubes em 2017/2018.

Foto: Sport Algés e Dafundo

3. Benfica

Não é surpreendente para ninguém que o Benfica seja das equipas com maior progressão na classificação do rendimento da Taça de Portugal. Na época em que o clube da Luz se reforçou com nomes como Miguel Nascimento, Diana Durães ou Rafael Gil, o Benfica fechou o pódio da classificação da Taça de Portugal.

Considerando o quiquénio 2012-2017, o SLB passou de 26º em 2012/2013 para 3º em 2016/2017.

Nesta época foi mesmo o melhor clube nos Nacionais de Juniores e Seniores de Piscina Longa, em Coimbra, o que contribuiu bastante para a sua classificação. No Open de Portugal não contou com Miguel e Diana (presentes nos Mundiais de Budapeste) que certamente dariam mais pontos aos Benfica, mas não os suficientes para ultrapassar o Algés que ficou 517 pontos à frente.

Este ano o Benfica viu chegar o treinador Ricardo Santos e alguns nadadores importantes para a continuidade da evolução do clube no panorama nacional, como Guilherme Dias, João Gil, Letícia André ou Filipa Serrano. Será suficiente para o título da primeira divisão?

Foto: Luís Filipe Nunes

4. União Piedense

No últimos 5 anos viu-se a SFUAP em quebra e logo a seguir em ascenção. Este ano foi 4º classificada no ranking do rendimento da Taça de Portugal, fazendo a sua melhor posição dos últimos 5 anos. Em 2015/2016 tinha sido 6ª classificada e em 2014/2015 obteve a sua pior classificação (21º lugar). Nos anos anteriores foi 11º (2013/2014) e 8º (2012/2013).

Com a saída de Ricardo Santos e a chegada de Gustavo Fortuna, a SFUAP enfrenta nesta época uma prova de fogo: conseguir manter ou até melhorar esta tendência de progressão no ranking das melhores equipas nacionais. A tarefa não será fácil, já que não saiu apenas o treinador. Um punhado de nadadores importantes deixaram a equipa da Cova da Piedade. Nada que não tivesse acontecido também no passado. Não foi por isso que a SFUAP interrompeu a sua trajectória ascendente.

A SFUAP foi a equipa mais homogénea nos nacionais de clubes com o naipe masculino a alcançar a mesma posição do colectivo feminino na primeira divisão: o 5º lugar.

Foto: SFUAP – nadadores

5. Belenenses

Os azuis completaram o quinteto da Associação de Natação de Lisboa que dominou a época 2016/2017. Mais um dado a comprovar o perfil que tínhamos traçado sobre a ANL neste artigo. Tem sido notável a pujança dos clubes de Lisboa depois de um período pior para os clubes da capital (há 7 anos, clubes como Benfica e Estrelas não tinham expressão, o Algés tinha a equipa feminina na 3ª divisão, o Sporting a equipa masculina na 2ª divisão, a Amadora estava a iniciar a sua fase descendente, assim como…os Belenenses).

Definitivamente, este ano o clube do Restelo mostrou estar de volta à sua posição de outrora. Não só por ter subido com ambas as equipas à primeira divisão, por intermédio do 2º lugar na 2ª divisão dos homens e das mulheres, mas também por ter sido o 5º clube mais pontuado na Taça de Portugal.

Uma evolução notável, já que em 2013/2014 os Belenenses tinham sido apenas 56ºs classificados. Melhoraram para o 6º lugar em 2014/2015, foram 8ºs em 2015/2016 e esta época conseguem a sua melhor classificação de sempre na Taça de Portugal.

Foto: Luís Filipe Nunes

6. Porto

No sentido inverso, os alarmes começam a soar (apenas ao de leve – no artigo sobre a formação explicaremos porquê) no reino do dragão.

O FCP obteve a sua pior classificação de sempre na Taça de Portugal – rendimento. O Porto que nos últimos 5 anos até venceu duas edições (2012/2013 e 2014/2015) e ficou em segundo em 2013/2014 com a menor diferença de sempre para o primeiro classificado (20 pontos), este ano quedou-se pelo 6º lugar.

No ano em que a equipa feminina quebrou a sequência de oito vitórias consecutivas na 1ª divisão, perdendo para o Algés, e a equipa masculina se classificou em 6º lugar, escapando por pouco à despromoção, os azuis e brancos quererão dar outra imagem de si na presente época.

E têm argumentos para isso, nomeadamente uma equipa com excelentes nadadores juvenis que em 2017/2018 já serão protagonistas do principal clube da cidade Invicta.

Foto: Luís Filipe Nunes

7. Braga

O Braga é uma equipa onde as principais referências são muito jovens. A figura máxima é Tamila Holub, bem secundada pelos internacionais Jorge Silva e José Lopes. A juventude das referências da equipa traduz-se na progressão na classificação do rendimento na Taça de Portugal, ano após ano.

Em 2013/2014 a equipa minhota era apenas a 14ª nos critérios do rendimento. Em 2014/2015 (quando os três nadadores citados já pontuavam para este ranking) passou logo a ser 5ª classificada, posição que manteve em 2015/2016. Este ano baixou duas posições, mas mantém-se firme no top-10.

Com o alargamento da 1ª divisão a 12 clubes, a equipa masculina que tinha sido 3ª classificada na 2ª divisão em 2016/2017 foi repescada. Como é natural, o seu objectivo óbvio é a manutenção, mas numa equipa em evolução como é esta do Braga, não será surpreendente se o conseguir de forma bem tranquila.

Foto: Luís Cameira

8. Estrelas

O clube de Alvalade é mais um a provar o bom momento das equipas de Lisboa. Apesar de em 2016/2017 não ter contado nos seus quadros com nadadores como Miguel Nascimento (mudou-se para o Benfica) ou Pedro Diogo Oliveira (retirou-se), conseguiu manter-se no top-10.

Os títulos e os recordes nacionais de Victoria Kaminskaya foram fundamentais para o desempenho do clube na Taça de Portugal, que ainda assim caiu 4 posições em relação às épocas de 2015/2016 e 2014/2015. Porém, tendo em conta que em 2012/2013 e 2013/2014 fora 15º, o 8º lugar desta época foi bastante satisfatório.

Os galácticos foram a terceira melhor equipa na 1ª divisão masculina e a segunda melhor equipa feminina da 4ª divisão.

Tendo em conta as exigências do novo modelo dos nacionais de clubes e o curto plantel da equipa do Estrelas (que perdeu António Carriço e ganhou António Pinto), prevê-se que a tarefa em termos colectivos será complicada para a equipa de Júlio Borja, mas uma equipa que conta com Victoria Kaminskaya arrisca-se sempre a ser top-10 da Taça de Portugal.

Foto: Facebook Estrelas SJB

9. Galitos de Aveiro

Se o Estrelas tem Victoria Kaminskaya, os Galitos tem Diogo Carvalho. Apesar de esta ter sido uma das raras épocas em que Diogo não bateu nenhum record nacional individual, foi o nadador que mais contribuiu para a classificação dos Galitos de Aveiro na Taça de Portugal – rendimento.

E assim tem sido nos últimos largos anos. Particularmente nos últimos 5, esta é a segunda melhor classificação do CGA, depois de ter sido 7º em 2015/2016. Ou seja, pelo segundo ano consecutivo, o clube aveirense está no top-10 dos melhores do país.

O Galitos foi duplamente repescado para a 1ª divisão, isto porque as senhoras tinham descido para a segunda divisão em 2016/2017 e os homens tinham sido 4ºs classificados na 2ª. Com o alargamento da primeira divisão a 12 clubes, Diogo & Cia. vão estar a nadar entre os melhores clubes em 2017/2018.

Foto: Galitos Natação

10. Louzan

Esta é, sem dúvida, a presença mais inesperada neste top-10. Em primeiro lugar porque foi o único clube que não estava entre os 10 melhores em 2015/2016 e depois porque é um clube muito curto em número de nadadores. De tal forma que não tem participado nos Nacionais de Clubes.

Este resultado deve-se exclusivamente a Gabriel Lopes, o único nadador acima de juvenil a representar o clube da Lousã em campeonatos nacionais e que, mesmo estando ausente do Open de Portugal e dos nacionais de Piscina Curta, com os seus 3 títulos e 5 pódios nos nacionais de Coimbra e ainda o seu record nacional sénior e absoluto dos 100 costas a acrescer às suas presenças na selecção nacional,  a ALN afirma-se como um dos 10 melhores clubes no rendimento em Portugal.

Este é um clube que apenas começou a pontuar para a Taça de Portugal em 2013/2014, quando foi 26º classificado. No ano seguinte foi 29º e a partir daí foi sempre a subir. Até onde chegará esta jovem e pequena equipa?

Foto: Facebook Louzan Natação

Na lista dos 10 clubes mais pontuados da época 2016/2017 não se pode considerar que haja grandes surpresas, já que está muito parecido com o top-10 de 2015/2016, mas quando abordarmos a classificação da formação na Taça de Portugal, teremos de reflectir sobre a progressão aparentemente interrompida de algumas equipas que há anos são referências na formação mas não têm atingido o nível correspondente no índice do rendimento.

Para além do já referido CNAC, outras equipas como Famalicão, Aquático Pacense ou Bairro dos Anjos já poderiam figurar neste top.

Por outro lado, equipas como Fluvial Portuense, Marinha Grande ou Colégio de Monte Maior são grandes candidatos a entrar neste top-10 na próxima época. É certamente com estes clubes que os 10 aqui listados se terão de preocupar.

Voltando à representação territorial, verifica-se que 60% dos 10 melhores clubes em 2016/2017 são da Associação de Natação de Lisboa, 10% da ANNP, 10% da ANMinho, 10% da ANCNP e 10% da ANC. Se a análise incidir sobre os 20 melhores clubes, o cenário passa a ser o seguinte:

  • ANL: 35% dos clubes;
  • ANNP: 20% dos clubes;
  • ANC: 15% dos clubes;
  • ANDL: 10% dos clubes;
  • ANM: 5% dos clubes;
  • ANCNP: 5% dos clubes;
  • ARNN: 5% dos clubes;
  • ANALG: 5% dos clubes;

Como vimos, nos últimos 5 anos a natação nacional tem sido dominada por três grandes: Sporting, Porto e Algés. No entanto, o Benfica surge com vontade e capacidade para desafiar esta lógica imperante, o que coloca várias questões:

Conseguirá o Sporting manter-se no topo?

Será o Algés capaz de subir o degrau que lhe falta rumo à Taça?

Está o Porto em crise?

O Benfica conseguirá triunfar na Taça de Portugal? Ou à semelhança do Estrelas, depois de estar perto dos big-3, começará a baixar na tabela?

Até onde poderão ir as equipas em ascenção: Belenenses, SFUAP, Braga e Louzan?

E o Galitos, que tem mostrado que é mais do que Diogo Carvalho?

Para responder a todas estas questões, está já aí o começo da nova época. Motivos de interesse não faltam!


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