Bloco de Notas do Nacional de Piscina Curta

João BastosDezembro 11, 201715min0

Bloco de Notas do Nacional de Piscina Curta

João BastosDezembro 11, 201715min0
A piscina do Fluvial Portuense recebeu a competição culminante do ciclo de piscina curta - os nacionais de juniores e seniores

Dezembro é sempre o mês em que ocorre o primeiro campeonato nacional individual da temporada. Os nacionais de piscina curta deste ano tiveram muitos resultados dignos de registo


Os campeonatos nacionais de juniores e seniores de Piscina Curta decorreram de 8 a 10 de Dezembro na cidade do Porto, na piscina do Fluvial Portuense, uns nacionais que produziram 22 novos recordes nacionais, 8 dos quais absolutos. Foram, portanto, uns nacionais mais prolíferos que os do ano passado que renderam 8 recordes nacionais – 1 absoluto – e ao nível dos nacionais de 2015 (disputados na mesma piscina), onde foram estabelecidos 25 novos máximos, 9 dos quais absolutos.

Do bloco de partida ao bloco de notas do Fair Play, fique com os destaques da competição:

✅ O Nascimento de um recordista

Miguel Nascimento, assim como outros nadadores que estarão presentes durante esta semana nos Europeus de Piscina Curta, a representar Portugal, veio a estes nacionais para aferir sobre o seu estado de forma e, a julgar pelo que produziu nestes nacionais, bons resultados virão de Copenhaga, da sua responsabilidade.

O nadador do Benfica tem andado nos últimos anos muito perto de vários recordes nacionais individuais, mas até estes campeonatos ainda não tinha nenhum. Pois bem, como quem espera sempre alcança e, no caso de Nascimento, a espera não resultou em desespero, Miguel Nascimento é agora bi-recordista nacional, e em ambos os recordes, por larga margem.

Primeiramente, bateu um novo record nacional dos 800 metros livres, com o tempo de 7:46.18, melhorando a anterior melhor marca que estava na posse do seu ex-colega de equipa, Rafael Gil, e que era de 7:49.89. No segundo dia de nacionais, um dia antes do record dos 400 metros livres completar 8 anos, Miguel retirou-lhe mais de 2 segundos. O benfiquista nadou em 3:42.91, superando os 3:45.58 de Fábio Pereira.

Com estas marcas, Nascimento posicionou-se no 15º posto do ranking europeu desta época nos 400 livres e no 10º lugar nos 800 livres, mas estas são duas provas que Miguel não nadará em Copenhaga (os 800 nem estão no programa), mas nitidamente a intenção do nadador e do seu treinador, ao nadar provas com estas características, era perceber que resposta poderá ser esperada nos 200 mariposa. Agora que já tomou gosto aos recordes nacionais, mais se poderão esperar durante esta semana.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ Diana, a estilista

À semelhança do seu colega de equipa, Diana Durães também foi ao Porto tomar o pulso ao seu momento de forma antes de partir para a Dinamarca. A nadadora é a nossa representante melhor posicionada na start list, com o 6º melhor tempo de entrada nos 800 metros livres, para além do 9º lugar nos 400 livres, aspirando à final de qualquer uma das provas.

A estes campeonatos veio nadar os 200 e 400 estilos (nos europeus nadará os 100 estilos).

A primeira das duas que nadou foram os 400 estilos e, admiravelmente, ficou a apenas 2 segundos do record nacional de Victoria Kaminskaya, melhorando mais de 5 segundos ao seu próprio record pessoal, percorrendo os 400 metros em 4:39.23. Reforçamos o “admiravelmente” porque, até à data, nesta prova ninguém conseguiu chegar perto de Kaminskaya (Diana já era a 2ª melhor portuguesa de sempre, mas com 7 segundos de distância para Victoria).

Se nos 400 houve uma ameaça, nos 200 Diana fez aquilo que os americanos chamariam “Rain on my parade”, no caso a parada de Victoria. Com as duas em prova, previa-se um confronto épico. Assim foi e com o desfecho mais imprevisível: para Diana a vitória e com record nacional de 2:12.24, superando os 2:12.37 da sua companheira de selecção; para Victoria o azar da desclassificação por perder a posição dorsal na viragem de costas para bruços – uma infracção que tem sido recorrente nas provas a nível interno.

Para os adeptos da modalidade – e na ausência de Tamila Holub nas provas nacionais, logo a ausência das acesas disputas nas provas de livres com Diana Durães – perspectiva-se mais uma apaixonante rivalidade no sector feminino e nas provas de estilos.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ Raquel chegou, nadou e venceu

Raquel Pereira está agora a cumprir o seu primeiro ano de sénior, ela que sempre foi a nadadora de maior referência da sua idade, tem nesta época o teste de fogo de competir directamente com as nadadoras mais velhas.

E nesse teste, Raquel tirou nota máxima nestes nacionais. Foi mesmo a nadadora sénior mais medalhada dos campeonatos, com 3 ouros individuais, aos quais juntou mais 4 ouros em estafetas e mais uma prata nos 50 metros bruços.

Foi ainda a segunda nadadora mais pontuada da competição, com o tempo que realizou na prova de 200 metros bruços.

E é precisamente esse tempo que maior destaque merece. Raquel pulverizou autenticamente o seu record pessoal (2:26.47) e o record nacional, que tinha sido estabelecido há menos de um mês (outro que pertencia a Victoria Kaminskaya). 2:23.46 é o fabuloso novo record nacional dos 200 metros bruços femininos, uma marca que certamente a levaria a Copenhaga, caso a convocatória fosse feita depois destes nacionais.

Victoria Kaminskaya assistiu, da pista do lado, fugir mais um dos seus recordes, mas leva para Copenhaga este incentivo extra: recuperar os máximos nacionais dos 200 bruços e 200 estilos.

O grande objectivo da época para Raquel deverá ser os Europeus de Piscina Longa, que decorrem em Glasgow, em Agosto de 2018. Para lá estar precisa de fazer 2:29.51 em piscina longa. Pela amostra, nem parece grande desafio.

Também nos 100 bruços esteve a um nível muito elevado, levando a melhor sobre Ana Rodrigues e ficando a escassos 2 décimos de segundo do último record que resiste de Diana Gomes (Ana Rodrigues bateu o dos 50 metros nestes nacionais). 1:07.37 foi o tempo agora feito pela nadadora do Algés.

A outra vitória individual veio nos 100 estilos, uma das provas mais renhidas dos campeonatos (que foi a última prova individual que se nadou). Raquel venceu com 1:02.36, Inês Fernandes ficou em 2º com 1:02.38 e Ana Rodrigues em 3º com 1:02.91.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ Rita sub-2:10

No dia 17 de Fevereiro de 1989, pela primeira vez uma nadadora portuguesa nadava 200 costas abaixo de 2:20. Nesse dia, o record nacional ficou fixado em 2:18.9. Logo no ano seguinte, no dia 23 de Fevereiro, a mesma nadadora nadava pela primeira vez os 200 costas abaixo de 2:15, fixando-o em 2:14.53.

Essa nadadora era Ana Barros, mãe de Rita Frischknecht, a nadadora que agora – a 8 de Dezembro de 2017 – se tornou na primeira nadadora portuguesa a nadar 200 costas abaixo de 2:10, batendo o seu próprio record nacional, que estava fixado em 2:10.55, retirando-lhe mais de 1 segundo, estabelecendo o máximo nacional em 2:09.12.

Apenas 6 meses depois de ter batido o seu próprio record, Rita volta a baixar este máximo, uma boa notícia para uma prova que chegou a ter o seu record inalterado durante 21 anos!

A nadadora do Algés esteve em evidência nestes campeonatos, não só nos 200 costas, mas também nos 200 livres ao nadar em 2:00.29, ficando muito próxima de se tornar na 2ª nadadora portuguesa a baixar dos 2 minutos. Tornou-se, sim, a 3ª portuguesa mais rápida de sempre na prova (ainda está Marta Marinho entre Rita e Diana).

Rita ainda teve participação directa em mais um record nacional absoluto, do qual falaremos mais à frente.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ O bis de Ana Rodrigues

Não é por acaso que na nossa rubrica Super Sprint já tínhamos referido por duas vezes as marcas que Ana Rodrigues estava a realizar esta época, como bons indicadores do que podia fazer nestes nacionais, sobretudo nas distâncias mais curtas, e estes campeonatos vieram confirmá-la como a melhor sprinter portuguesa da actualidade, apesar de ter vencido tantas provas de 50 metros como Inês Fernandes, a diferença entre as duas é que a nadadora do Sanjoanense logrou sair do Porto com recordes nacionais, dois na mesma prova, na sua prova: os 50 metros bruços.

Logo nas eliminatórias não se conteve e marcou 31.37, superando a marca de 31.43 que pertencia a Diana Gomes, mas certamente sentia que era um bom dia para se tornar na primeira nadadora portuguesa a descer dos 31 segundos…e assim foi. No início da jornada da tarde do dia 10 de Dezembro, Ana Rodrigues venceu os 50 metros bruços com 30.80, cumprindo o desiderato que o tempo da manhã indicara ser possível.

Também nos 50 livres levou a melhor (quer nos 50 bruços, quer nos 50 livres venceu com mais de 1 segundo de vantagem) e venceu com novo record pessoal de 25.07. O record nacional de Patrícia Conceição de 24.94 ainda não caiu mas está mais à mercê da velocista do Sanjoanense.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ Os triplos vencedores

No final das contas, foi o benfiquista Luiz Pereira o nadador que mais ouros levou para casa (7), mas 5 deles foram nas estafetas, onde o Benfica ganhou todas as estafetas seniores que havia para ganhar e onde o brasileiro teve um papel fundamental.

Mas em termos individuais foram os seniores Tomás Veloso (CNAC) e Francisco Santos (Sporting) e os juniores do Braga, José Paulo Lopes e Rafael Simões que conseguiram o maior número de ouros individuais, todos com três.

Tomás Veloso venceu os 100 bruços, os 200 e os 400 estilos, com particular destaque para a vitória nos 400 estilos sobre Gabriel Lopes.

Francisco Santos fez o pleno nas provas de costas, no escalão sénior. Venceu os 50, os 100 e os 200 metros costas.

José Paulo Lopes levou a melhor nos 400 metros livres, 1500 metros livres e 200 metros estilos, com grandes melhorias dos seus recordes pessoais, sobretudo nos 200 estilos e nos 400 livres.

Rafael Simões estreou-se a representar o Braga em provas nacionais com a tripla de bruços, no escalão de juniores. Venceu os 50, 100 e 200 metros bruços.

Os dois bracarenses participaram na estafeta 4×100 estilos que estabeleceu novo record nacional júnior com 3:50.30. De resto, as estafetas juniores no sector masculino estiveram bem animadas com o Benfica a estabelecer recordes nacionais da categoria em outras duas estafetas – 4×50 livres com 1:35.32 e os 4×100 livres com 3:29.40.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ Inês Fernandes e Luísa Machado, as mais vitoriosas

Pelo segundo ano consecutivo, a sportinguista Inês Fernandes foi a nadadora sénior que mais provas individuais venceu. Chegou em primeiro lugar nos 50 e 100 costas, 50 e 100 mariposa. No ano passado ainda fora vencedora dos 100 estilos, mas como relatámos atrás, por dois centésimos ficou com a prata, desta vez.

O tempo dos 100 mariposa merece particular referência já que pela primeira vez baixou da icónica barreira do minuto, tornando-se na segunda melhor portuguesa de sempre e na primeira perseguidora de Sara Oliveira e do seu record nacional de 58.31. Inês nadou em 59.45, com Ana Catarina Monteiro a vir abaixo dos 60 segundos, também pela primeira vez (59.65). Assim, passaram a ser 5 as nadadoras portuguesas que já baixaram do minuto nos 100 mariposa. Para além das três já citadas, também Sara Cruz e Victoria Kaminskaya pertencem ao lote do sub-1 minuto aos 100 mariposa.

Quanto à nadadora da SFUAP, Luísa Machado, venceu 5 provas, todas elas individuais, ou seja, tudo o que nadou, venceu!

Venceu os 100 e 200 bruços, os 100, 200 e 400 estilos.

Os 100 bruços femininos, no escalão de juniores, foi uma prova particularmente animada. Luísa venceu com 1:12.17, com uma diferença inferior a 1 segundo até à 5ª classificada.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ Record #5 para Ana Sofia Sousa

A nadadora do Clube de Natação do Litoral Alentejano, Ana Sofia Sousa, continua em altas e juntou mais dois recordes nacionais à sua conta pessoal. Desta vez não foi nos 200 livres, onde ela até foi surpreendida por Letícia André que acabou por vencer a prova, mas sim nos 100 e nos 400 metros livres, como já tínhamos antecipado aqui que era bem provável. Ana Sofia nadou os 400 livres em 4:13.53, batendo os 4:15.43 de Tamila Holub, o anterior record nacional júnior-16 anos.

Na prova mais curta, baixou o record nacional logo nas eliminatórias. O tempo a bater era de 56.78 de Maria Carolina Rosa e Ana Sofia nadou em 56.72. Na final, venceu a prova mas não melhorou a marca, nadando em 56.82.

Sobe assim para 5 o número de recordes que a nadadora do CNLA já bateu este ano, depois dos 200 livres (vezes três), sendo a nadadora em Portugal que mais recordes já bateu esta época.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ Angélica é a 6ª melhor do Mundo…

…e é em piscina!

A nadadora do Fluvial Portuense, Angélica André, marcou logo na primeira final dos campeonatos o melhor tempo da Tabela FINA. Foi na prova de 1500 metros livres, onde marcou um novo record nacional sénior com o tempo de 16:18.04. É certo que a nível mundial, esta não é uma prova que tenha sido muito nadada esta época (e em piscina curta), mas um dado como este não pode deixar de ser relevado. Com esta marca, Angélica André está rankeada no número 6 do mundo, atrás de Sarah Köhler, Jessica Ashwood (únicas abaixo de 16), Madeleine Gough, Simona Quadarella e Martina Elhenicka.

Angélica teve uns nacionais memoráveis. Para além da excelente marca aos 1500 metros, ainda fez outro excelente tempo nos 400 metros livres (4:13.20), passando a ser a terceira melhor portuguesa de sempre, apenas atrás de Diana Durães e Tamila Holub.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ A cereja no topo do bolo

A equipa feminina do Algés teve uns nacionais de grande nível. Em seniores foi a mais medalhada e mais titulada, em juniores foi a mais medalhada e a segunda mais titulada. No número de recordes nacionais absolutos igualou com o Benfica (3 contra 3) e um deles foi colectivo, coroando toda a equipa.

Nos 4×200 metros livres as algesinas estiveram irrepreensíveis e marcaram 8:09.45, baixando o anterior máximo nacional em mais de 4 segundos!

Rita Frischknecht, Madalena Azevedo, Francisca Azevedo e Raquel Pereira foram as autoras da proeza, dando uma grande mostra de força e evidenciando que dificilmente não revalidarão o título de campeãs da primeira divisão em Março.

Foto: Luís Filipe Nunes

✅ Rivais de Lisboa repartem títulos

Nas contas finais do medalheiro, Sporting e Benfica destacaram-se como os vencedores dos dois escalões em compita.

O Sporting foi a equipa mais medalhada em seniores, com 11 ouros, num total de 27 medalhas e o Benfica foi a melhor equipa no escalão de juniores com 10 ouros, num total de 23 medalhas.

Havendo apenas um vencedor do medalheiro, terá de ser o Benfica, uma vez que em seniores ficou com o 2º lugar do medalheiro, com o mesmo número de ouros que o Sporting, ao passo que os juniores sportinguistas se quedaram pelo 11º lugar do ranking.

Foto: Luís Filipe Nunes

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