6 razões para Katinka Hosszu ser a dama de ferro
Katinka Hosszu é uma rainha da natação, cognominada de Dama de Ferro. O seu percurso no passado recente é único e irrepetível. O Fair Play elenca as 6 principais razões para a justeza da alcunha da húngara
Este não é um artigo sobre uma governante britânica ou um protesto anti-sexista sobre os heróis da Marvel. É um artigo sobre alguém que governa as piscinas de todo o mundo a seu belo prazer e a forma como o faz chega a parecer ficção.
Katinka Hosszu foi presença no top-10 mundial de 2016 para o Fair Play, e apesar de ter ficado fora do pódio (as performances nos Jogos Olímpicos pesaram bastante na escolha desse pódio), merece destaque especial.
De facto, quem gosta de natação tem de reconhecer e agradecer o que a nadadora magiar está a fazer com a sua carreira. É que não haverá em nenhuma modalidade, em nenhuma era, um atleta que compita tantas vezes e que ganhe tantas vezes.
Só em 2016 nadou 517 provas e conquistou 193 medalhas.

Só a foto acima já justificava o rótulo de Iron Lady, mas deixamos-lhe 6 razões (entre várias que podíamos apontar) que autenticam a marca:
1. Resiliência
Começamos como convém: pelo início.
Corria o ano de 2012, Katinka chegava aos seus terceiros Jogos Olímpicos e depois de Atenas (onde tinha apenas 15 anos) e de Pequim (onde teve uma participação discreta), partia para Londres com legítimas aspirações de medalha, sobretudo nos 400 metros estilos, onde era o terceiro melhor tempo do ano.
Quedou-se pelo amargo 4º lugar e o público húngaro não perdoou. Num país com uma forte tradição na natação, tornou-se inconcebível que uma nadadora que em três JO não ganhou nenhuma medalha, pensasse prosseguir a sua carreira.
Foi então que Hosszu operou uma mudança radical na sua vida e na sua carreira. Concluídos os estudos em psicologia na Universidade de Southern California, pôs termo à sua ligação com o prestigiado treinador Dave Salo (treinador de nadadores como Aaron Peirsol, Jason Lezak, Amanda Beard, Jessica Hardy ou Rebecca Soni) – e que depois do falhanço de Londres a aconselhou a “abrir um salão de beleza” – e passou a ser treinada pelo seu namorado, Shane Tusup, um ex-nadador que nunca tinha treinado ninguém.
Tusup decidiu que Hosszu iria cumprir um plano de “treino em competição” e a húngara passou a ser presença assídua em todas as provas onde havia prize money.
Foi ainda em 2012, numa etapa da taça do mundo, na China, que após vencer 5 provas em 2 dias, foi feita uma manchete de um jornal com a frase “A Dama de Ferro húngara“.
Foi apenas o prefácio do que viria a seguir…
2. Força mental
A relação entre nadador/treinador nem sempre é fácil. O facto da natação ser um desporto aquático, faz com que seja menos agressivo para músculos, ossos e articulações, levando a que qualquer nadador de alta competição passe cerca de 6 horas diárias a treinar, sem que isso represente maior risco de lesão.
Ou seja, um nadador de alta competição passa 1/4 do seu dia com o seu treinador.
Imagine-se uma nadadora que não tem mais nenhum colega de treino e que…é casada com o seu treinador. O que falta em potencial de desgaste nas articulações, sobra nas relações humanas.
Ainda para mais, Tusup não é conhecido pelo seu dócil temperamento:
Everyone seemed to enjoy watching the women's 2free except this guy. Calm down man. pic.twitter.com/MyS9x5a9Gt
— Josh Prenot (@JoshPrenot) December 13, 2015
Mas o que é certo é que a fórmula tem resultado e nos 4 anos de ligação desportiva e matrimonial, Katinka Hosszu passou de uma nadadora que podia um dia ganhar uma medalha olímpica, para a nadadora mais ganhadora da História da natação mundial.
3. Versatilidade
O antigo tri-campeão olímpico e actual comentador da NBC e da ESPN, Rowdy Gaines disse sobre Hosszu que “neste momento, ninguém pode argumentar que ela não é a nadadora mais versátil do mundo, considerando homens e mulheres”.
E quando falamos em versatilidade em relação a Hosszu não falamos só no facto dela nadar tudo, falamos no facto dela nadar tudo bem!
A sua capacidade de nadar qualquer prova do calendário de qualquer competição de natação em piscina não é evidente só agora, mas no ano de 2016 a húngara conseguiu uma certificação desta característica absolutamente notável.
Em Novembro, no campeonato austríaco de piscina curta, Katinka foi buscar o único record nacional de piscina curta da Hungria que lhe faltava: o dos 1500 metros livres.
Isso mesmo, Katinka Hosszu detém todos os recordes nacionais da Hungria em piscina curta.
Recordamos que não estamos a falar de um país onde a natação é um desporto sub-desenvolvido. Estamos a falar do país berço de grandes campeãs como Krisztina Egerszegi, Ágnes Kovács, Éva Risztov ou Zsuzsanna Jakabos. Confira a lista dos recordes nacionais da Hosszu (perdão…da Hungria) em piscina curta:

4. Resistência
Assim como o 26º elemento químico da tabela periódica que lhe dá a alcunha, uma das característica que melhor define a Dama de Ferro é a sua resistência.
Como já referimos, em 2016 a húngara nadou em média 1,42 provas por dia e sempre com um elevado rendimento.
O volume de provas nadadas aliado à sua resiliência, força mental e versatilidade (ver pontos 1, 2 e 3) tornou-a na primeira nadadora de sempre (considerando homens e mulheres) a atingir 1 milhão de dólares em prémios na Taça do Mundo.
Só em 2016, no conjunto das 9 etapas da Taça do Mundo, Katinka Hosszu nadou 112 vezes, ganhando 73 dessas vezes:

Há que considerar, ainda que todas as provas acima indicadas tinham eliminatórias e final, o que significa que, por exemplo em Doha, Katinka competiu 28 vezes em apenas dois dias.
E não foi só ao nível da Taça do Mundo (que é elevadíssimo, tendo em conta os prémios monetários em causa) que a Dama de Ferro fez isto. Nos campeonatos do mundo de piscina curta de Windsor nadou 11 provas e venceu 7.
Nos Jogos Olímpicos foi mais “comedida”…mas não muito. Estava inscrita em 5 provas, nadou 4 (abdicou dos 200 mariposa) e venceu 3. Só “falhou” nos 200 costas que ficou em 2º lugar, ultrapassada “em cima da parede” por Maya DiRado (6 centésimos separaram a americana da húngara).
5. Superação
A performance dos 200 costas provou que Hosszu é humana e ao 7º dia de JO, quebrou.
Mas o seu principal objectivo para o Rio estava cumprido…e bem cumprido, desde logo com o sensacional record do mundo dos 400 metros estilos batido com mais de dois segundos de vantagem para o anterior, que estava na posse de Ye Shiwen que, aquando do estabelecimento desse record, nos JO de Londres, nadou o parcial de crawl mais rápido do que o vencedor masculino da mesma prova, Ryan Lochte.
A prestação de Katinka Hosszu valeu do reputado portal de natação SwimSwam a distinção de melhor prova de 2016 à frente de grandes performances como os 800 livres de Ledecky ou os 100 bruços de Peaty, ambas nos Jogos do Rio.

6. É uma heroína da natação
Katinka Hosszu já tinha o currículo para ser uma das maiores referências de sempre da natação mundial, já tinha a alcunha para se tornar num ícone, o que faltava?
Uma série de banda desenhada onde ela é protagonista.
É isso mesmo, Iron Lady já não é só a designação da húngara. Tornou-se uma marca. Primeiro de material desportivo para natação e agora de banda desenhada.
A húngara é, de facto, uma inspiração e uma referência para muitos nadadores por todo o mundo. O seu percurso tem motivado um misto de incredulidade e suspeição. Mas o que é facto é que, não havendo desportista no mundo que ganhe mais provas do que Hosszu, também não haverá desportista no mundo que faça mais controlos anti-doping do que a Dama de Ferro.
Num mundo pós-Phelps, poder presenciar a carreira de Katinka Hosszu (ainda para mais, sendo concomitante no tempo com Katie Ledecky) é uma honra. A modalidade muito lhe deve pela notoriedade dos feitos incríveis que já alcançou e que – já garantiu – continuará a prosseguir, pelo menos, até Tóquio2020.
Katinka Hosszu é uma dama de ferro, é uma dama de ouro e é uma dama de diamante!
Veja o trailer da série ARCANUM onde a Iron Lady assume o papel de super heroína, desta vez fora das piscinas.
One comment
Pingback: Katie Ledecky, ou como chegar ao topo do mundo em apenas 20 anos