Junho de 2019, um mês inesquecível para o Judo português

João CamachoJulho 4, 20197min0

Junho de 2019, um mês inesquecível para o Judo português

João CamachoJulho 4, 20197min0
O Judo Português volta a fazer história: depois da conquista das medalhas de Prata, na competição de equipas mistas dos Campeonatos da Europa/Jogos Europeus de Minsk 2019, a 13ª medalha em Campeonatos da Europa conquistada por Telma Monteiro!

Quando ficamos sem adjetivos para elogiar uma atleta

Telma Monteiro. Bom, estamos há mais de 15 anos a começar parágrafos, textos, crónicas, reflexões e notícias com este nome. Uma atleta que, no passado dia 22 de Junho, ganhou o Bronze na Categoria dos 57Kg dos Campeonatos da Europa, integrados nos Jogos Europeus de Minsk. Esta, que é a 13ª medalha em Campeonatos Europeus, colocou Telma como a segunda atleta mais medalhada, a nível Mundial, na história do Judo. É isto!

Aos 33 anos, Telma provou que “velhos são os trapos”. Com sacrifício, trabalho – muito trabalho – e com uma atitude humilde e determinada, é possível continuar a conquistar resultados de alto nível num desporto extremamente exigente como o Judo.

Para que o leitor tenha uma ideia, Telma tem uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, 4 medalhas de prata e uma de bronze em campeonatos do Mundo, e 5 medalhas de ouro, 1 de prata e 7 de bronze em Campeonatos da Europa. A tudo isto há que adicionar medalhas nas principais competições do circuito Mundial (Masters, Grand Slams e Grand Prix) e medalhas em Mundiais e Europeus no escalão de Juniores.

Telma está empenhada numa 5ª presença Olímpica, em Tóquio 2020. Será, certamente, um feito ímpar na história do desporto. Aproveitem jovens Judocas, não é todos os dias que podemos pisar o Tatami com uma atleta que é hoje um ícone, uma referência!

Tenho também de destacar Catarina Costa (48Kg) e Rochele Nunes (+78Kg), as duas atletas Portuguesas chegaram ao combate pela medalha de bronze, depois de uma prova de altíssimo nível, mas acabariam por perder, terminando em 5º lugar. Ficou evidente a enorme qualidade destas duas Judocas e que a consistência de resultados, com diversas medalhas no circuito Mundial de 2019, não é obra do “acaso”!

Telma Monteiro Minsk2019 Prata Equipas Mistas (Foto: Getty Images)

Campeonatos da Europa e Jogos Europeus de Minsk ficaram para a história do Judo e do desporto Português

Quando em 2001 Portugal se sagrou vice-campeão da Europa de equipas masculinas, numa “final four” que se disputou no Funchal, muitos questionaram se alguma vez Portugal teria capacidade de repetir o feito. Afinal, estamos a falar de uma das melhores gerações da história do Judo Português, que causou, ainda na fase de eliminatórias de acesso à “final four”, uma “bombástica” surpresa ao derrotar a poderosíssima Rússia. Na final, foi derrotada pela Itália (numa final muito equilibrada).

A equipa era constituída por Nuno Delgado, Pedro Soares, João Pina e Guilherme Bentes (por motivo de lesão acabaram por não combater na” final four”), Nuno Carvalho, João Neto, Diogo Lima, Vasco Branco, Renato Morais, António Costa, Miguel Tomé, João Espirito Santo. Um misto de experiência, atletas já com um vastíssimo currículo, e jovens talentos que mais tarde conquistaram importantes títulos.

O modelo competitivo mudou, com a introdução de uma competição mista, com 3 atletas femininos e 3 atletas masculinos, numa decisão cujo principal objetivo é o de promover a igualdade género. Com a liderança do Comité Olímpico Internacional (COI), este modelo de competição de equipas foi incluído no programa Olímpico dos Jogos de Tóquio.

O campeonato da Europa de Equipas, integrado nos Jogos Europeus de Minsk, que se realizou após a competição individual, ficará na história, com a brilhante conquista da prata, Vice-Campeã da Europa, por parte da equipa mista Portuguesa.

Apesar do sorteio ter colocado Portugal num grupo que perspetivava, na melhor das hipóteses, a disputa pelo Bronze, o facto é que a equipa Portuguesa se superou. Eliminou a forte equipa Espanhola na primeira ronda, depois, num emocionante encontro, nos quartos-de-final, derrotou, no combate de desempate, a favorita e forte equipa Francesa. Nas meias-finais eliminou a poderosa Holanda, tendo Telma assumido um papel fundamental na passagem à final, pois lutou praticamente 13 minutos, 4 de tempo de combate e 9 de golden score, para derrotar a atleta Holandesa Sanne Verhagen, com quem dias antes tinha disputado o bronze da categoria de 57Kg.

A final contra a equipa da Federação Russa foi agridoce, com um início demolidor por parte da equipa Portuguesa, que tomou a dianteira por 3 combates a 0, viu a Rússia empatar a 3 combates para cada equipa, mas com uma decisão no mínimio polémica que beneficiou a Rússia. O 6º combate do encontro, relativo à categoria masculina dos 73Kg, que colocava Jorge Fernandes frente ao Russo Musa Mogushkov, ficou marcado por uma queda do Russo, perto do final, em que, aparentemente, este terá apoiado a cabeça para evitar a projeção e vantagem do Português.

Este tipo de situação, que pode colocar em risco a integridade física do atleta que tenda fugir à projeção e respetiva vantagem, implica a atribuição imediata do Ippon, caso o atleta caia em ponte (apoio dos ombros/cabeça e de um ou dois pés), ou desqualificação imediata, hansoku-make, caso o atleta apoie a cabeça deliberadamente para fugir à projeção. Apesar do movimento ter sido sujeito a revisão, durante alguns minutos, pelo vídeo árbitro e árbitros supervisores, a equipa de arbitragem decidiu não dar a vantagem ou castigo, o que daria de imediato a vitória à equipa Portuguesa e o título Europeu.

Não querendo entrar no caminho fácil de culpar a arbitragem, apesar de ser difícil tirar a camisola de Judoca Português, a decisão mostra que não só no Futebol há decisões polémicas, em que as potências dominantes são, tendencialmente, protegidas. Fica o resultado, memorável que permite sonhar, quem sabe, com uma boa prestação na competição de equipas mistas dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

O grande desafio será a obrigatoriedade de todas as equipas apresentarem atletas que conseguiram a qualificação individual para os Jogos, que está a decorrer até ao final de Maio de 2020, e não é claro que Portugal consiga apresentar atletas em todas as categorias da competição de equipas mistas (57, 70 e +70 KG Femininos e 73,90 e +90Kg Masculinos).

Os heróis de Minsk foram todos os Portugueses, a equipa federativa, e, é obrigatório destacar, os heróis que estiveram nos tapetes da competição de Judo em Minsk: Joana Ramos (-52 kg), Mariana Esteves (-52 kg), Telma Monteiro (-57 kg), Bárbara Timo (-70 kg), Patrícia Sampaio (-78 kg), Rochele Nunes (+78 kg), Nuno Saraiva (-73 kg), Jorge Fernandes (-73 kg), Anri Egutidze (-81 kg), Tiago Rodrigues (-90 kg) e Jorge Fonseca (-100 kg), acompanhados pelos Treinadores Ana Hormigo, Pedro Soares e Go Tsunoda.

Parabéns todos!

Delegação Portuguesa Campeonatos Europa-Jogos Europeus JUDO Minsk2019 (Foto: Getty Images)

Final da Golden League 2019 em Lisboa

Continuamos nas provas de equipas e depois do feito histórico protagonizado pela equipa masculina do Sporting Clube de Portugal, quando no final de 2018 conquistou a mais importante competição de equipas de clubes do continente Europeu, a Liga dos Campeões de Judo, foi confirmado pela União Europeia de Judo a realização em Lisboa, em Novembro de 2019, da “final four” desta importante competição de 2019. Portugal apresentará a equipa Masculina, do Sporting Clube de Portugal, detentora do título, e a equipa feminina do Sport Lisboa e Benfica, liderada por Telma Monteiro. Será uma excelente oportunidade de ver ao vivo alguns dos melhores Judocas da atualidade em ação, numa competição sempre emocionante e imprevisível.

O Judo Português está, sem sombra de dúvida, com um conjunto de resultados internacionais de excelência, mas será que estão criadas as condições, internamente, para dar continuidade a este legado, …..?


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS