Será 2019 um ano atribulado para o Judo Português?

João CamachoFevereiro 18, 20196min0

Será 2019 um ano atribulado para o Judo Português?

João CamachoFevereiro 18, 20196min0
2019 não está a ser um ano fácil para o Judo Português mas há esperança para um futuro mais positivo. Como e para onde olhar? Ficam as nossas ideias e propostas!

No primeiro artigo que escrevi para a Fair Play, abordei a baixa participação nos Campeonatos Nacionais de Séniores, que fizeram soar os alarmes e levantaram um conjunto de questões sobre a sustentabilidade do Judo, e do alto rendimento, no médio-longo prazo. O modelo organizacional do Judo assenta na Federação Portuguesa de Judo (FPJ), cuja principal missão é promover e regulamentar a prática do Judo em Portugal.

Composta por 19 Associações de Clubes, a FPJ junta aproximadamente 12000 praticantes, distribuídos por mais de 270 clubes.

O ano de 2019 arrancou com duas associações distritais, Évora e Guarda, a suspenderem a atividade por, alegadamente, não estarem reunidas as condições para a promoção, regulamentação e gestão do Judo nestes distritos. A estas associações juntaram-se as associações da Ilha Terceira e de Braga, que foram excluídas de associadas da FPJ em consequência de procedimentos sancionatórios.

Neste artigo, não irei apresentar qualquer reflexão sobre a decisão, tanto de quem foi obrigado como de quem teve de suspender a atividade, mas é alarmante constatar que 4 associações simplesmente têm a sua atividade suspensa e as consequências que daí advêm na promoção e organização da modalidade.

A novela está no início e certamente 2019 será bastante animado no que respeita aos desenvolvimentos, para começar, a Associação de Judo da Ilha terceira interpôs uma providência cautelar para suspender a decisão da Federação…

Jornads da Juventude ADJS (Foto: Getty Images)

Há luz ao fundo do Túnel no Judo Português

Apesar do arranque “atribulado”, há luz ao fundo do túnel, e hoje vou destacar o trabalho que tem sido desenvolvido pela Associação Distrital de Judo de Setúbal (ADJS) e tenho, obviamente, a obrigação de mencionar que foi nesta associação onde iniciei a prática do Judo e onde me mantenho até hoje. Por isso, é muito provável que o texto transmita, subliminarmente, alguma vaidade e orgulho.

A direção da ADJS tomou a iniciativa de organizar um conjunto de competições todos os anos, as “Jornadas da Juventude”, onde é dada a oportunidade aos jovens, dos escalões etários de Benjamins (até ao 10 anos), Infantis (11 Anos) e Iniciados (12 anos), antes do escalão etário em que acontece oficialmente o início da carreira competitiva, Juvenis (13/14 Anos), de participarem numa prova de introdução à competição.

A incitativa, que envolve um vasto staff composto por atletas, familiares e amigos, de diversos clubes da região e dos clubes que participam no evento, contou com importantes patrocínios e apoios, como das câmaras municipais dos concelhos do Distrito de Setúbal que acolhem as provas, da Federação Portuguesa de Judo e de algumas empresas privadas.

A fórmula resulta e recomenda-se, e os resultados estão à vista, com uma adesão massiva tanto de clubes do continente com das regiões autónomas.

Estas “jornadas” são abertas a todos os clubes do País e mobilizam mais de 500 atletas destes escalões, o que é sem dúvida um enorme contributo para garantir a medio-longo prazo a sustentabilidade e promoção do Judo. Esperamos que o modelo seja replicado pelo país, o Judo agradece.

Circuito Mundial arrancou em Telavive

No que respeita à seleção principal e à qualificação Olímpica para Tóquio 2020, o circuito Mundial de 2019, que permite amealhar pontos para os rankings de qualificação Olímpica e Mundial, arrancou em Telavive.

O circuito Mundial visitou, pela primeira vez, esta cidade Israelita numa decisão considerada polémica mas sem dúvida ousada, pois o boicote dos países Árabes a esta etapa foi total. Eventos/competições realizadas em países Árabes, têm sido marcadas por sistemáticos entraves à participação dos atletas Israelitas, o que já originou uma tomada de posição forte por parte da Federação Internacional de Judo (FIJ), como a suspensão provisória do Grand Slam de Abu Dhabi, pois a organização recusou que os atletas Israelitas utilizassem os dorsais a identificar o seu país de origem.

Nas Competições em que atletas Árabes defrontam adversários Israelitas tem sido recorrente, por parte dos atletas de origem Árabe, a recusa em cumprimentar e mesmo defrontar os seus adversários Israelitas, situação que gerou muita polémica no último Grand Slam de Paris, que decorreu no início de Fevereiro, protagonizada pelo campeão do Mundo da categoria masculina dos -81Kg, o Iraniano Saeid Mollaei, que perdeu no combate dos quartos-de-final, de uma forma displicente (por muitos, eu incluído, propositada), para não defrontar o atleta Israelita Sagi Muki, nas Meias-finais desta emblemática etapa do circuito Mundial.

A “cereja no topo do bolo” foi uma lesão no combate do bronze, no momento da projeção que lhe deu a vitória, que o “impediu” de ir ao pódio, onde ficaria ao lado do atleta Israelita. Coincidência ou intencional?

No que respeita à participação Portuguesa, as duas primeiras provas do circuito Mundial ficaram marcadas pelas medalhas de Bronze de Rochele Nunes, na categoria de +78Kg do Grand Prix de Telavive, e de Barbara Timo, na categoria de -70Kg do Grand Slam de Paris.

As duas atletas, que recentemente adquiriram a nacionalidade Portuguesa, começaram em grande, com notáveis prestações e a mostrar muita qualidade, destacando que em Paris Barbara Timo derrotou a Brasileira Maria Portela, a atleta que é a primeira escolha da seleção Brasileira. As duas atletas amealharam preciosos pontos que permitiram uma enorme subida no ranking de qualificação Olímpica.

A aposta, até ao momento, está a revelar-se positiva e os defensores do modelo de naturalizar atletas que manifestem interesse e sejam fiéis à mudança (temos atletas que já representaram 3 países o que não é compreensível), ganha força mas, na minha opinião, este modelo deverá ser adotado em casos pontuais.

Os processos de naturalização de Rochele Nunes e Barbara Timo e consequente convocatória para a seleção Nacional, fez todo o sentido pois trata-se de duas atletas de enorme qualidade, que podem tornar-se referências e modelos para os jovens atletas, e estão a representar duas categorias de peso onde não temos rigorosamente nenhuma atleta a competir, no que respeita ao circuito Mundial.

No entanto, este é um modelo que jamais deverá condicionar uma estratégia a médio-longo prazo. O modelo a seguir passa, inevitavelmente, pela aposta na formação!


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