Entrada forte de Portugal na Superfinal

André CoroadoSetembro 4, 20208min0

Entrada forte de Portugal na Superfinal

André CoroadoSetembro 4, 20208min0
A Superfinal da Liga Europeia de Futebol de Praia já começou e a nossa selecção já venceu duas partidas na Nazaré. Saiba tudo sobre a análise à prestação da nossa selecção no Estádio do Viveiro Jordan Santos.

Já rola a bola no areal da Nazaré! A Superfinal da Liga Europeia de Futebol de Praia 2020 arrancou finalmente na passada 4ª feira, desta vez num formato reduzido que conta com apenas cinco das doze equipas integrantes da divisão A europeia. Em virtude das restrições impostas pelas respectivas federações, mais de metade das selecções ficaram impedidas de viajar, ficando a discussão do título europeu desta temporada reservada a Portugal, Suíça, Ucrânia, Alemanha e França, num formato de grupo único que conta hoje com o seu terceiro dia de competição.

Até ao momento, foram quatro as partidas disputadas na arena do Estádio do Viveiro Jordan Santos, tendo a selecção nacional protagonizado duas vitórias em outros tantos jogos. Portugal entrou de rompante diante da França, porventura a selecção mais débil em prova, vencendo sem dificuldades por 7-0. Já ontem, os pupilos de Mário Narciso enfrentaram um desafio mais difícil perante a Alemanha. Não obstante, após um 1º período equilibrado, em que os germânicos estiveram em vantagem, a maior qualidade da turma lusa acabaria por sobressair no 2º período, embalando para um sólido triunfo por 4-1.

Numa época atípica em que a escassez competitiva se reflecte inevitavelmente no nível performativo das equipas, Portugal conta ainda com uma adversidade acrescida, ao apresentar-se neste evento sem a sua principal figura de proa – o nazareno Jordan Santos,  actualmente considerado o melhor jogador do mundo. Infelizmente, uma lesão em fase avançada de tratamento não permitiu ao número 5 português estrear o novo estádio com o seu próprio nome na sua terra natal. Naturalmente, tal obriga o seleccionador Mário Narciso a alguns ajustes na equipa, dado que não pode contar com as dinâmicas do trio Jordan-Bê-Léo que tão determinantes se revelaram na conquista do campeonato do mundo no ano passado. Todavia, o plantel português está recheado de qualidade, tendo a resposta dos atletas sido exemplar nas duas primeiras partidas, o que augura boas perspectivas par uma competição onde a margem de erro é nula e os adversários que se seguem – Ucrânia e Suíça – são de primeira linha.

Fazendo alinhar de início o guardião Elinton Andrade, como tem sido apanágio dos últimos anos, a equipa técnica nacional apostou num quatro de campo formado por Coimbra, André Lourenço, Bê e Léo Martins, no qual vislumbramos a substituição de Jordan Santos por André Lourenço. O ex-jogador do GRAP Pousos, que constitui uma das principais novas figuras do panorama nacional, já tinha vindo a entrosar-se com os gémeos Martins ao serviço do Sporting de Braga no último Mundialito de Clubes em Fevereiro, tendo contribuído eficazmente para equilibrar a equipa portuguesa em campo e dar segurança para que a magia de Bê e Léo possa surtir efeito. Além disso, tal como Coimbra, o número 3 da equipas das quinas tem deixado o seu contributo na manobra ofensiva, que se reflecte em dois golos anotados até ao momento.

Como principais diferenças em relação ao modelo anteriormente implementado com Jordan, encontramos uma maior prevalência do sistema 2:2, mais prático para organizar jogo na ausência do melhor do mundo e com o condão de fazer cansar os adversários mais rapidamente. Apresenta, no entanto, a desvantagem de retirar alguma imprevisibilidade ao ataque e restringir um pouco a liberdade criativa de Léo e Bê Martins, sobretudo o último, que não tem tido as mesmas oportunidades para desequilibrar como habitualmente. No entanto, sempre que a equipa portuguesa se instala no meio-campo adversário e o jogo acelera sob a batuta dos irmãos Martins, o perigo ronda a baliza adversária e traduz-se, invariavelmente, em claras oportunidades de golo. Realçamos ainda os bons resultados produzidos pela inclusão de Belchior neste quarteto de campo, atendendo às dinâmicas que se tornam possíveis pelo primor técnico de Belchior e entrosamento de largos anos com os irmãos luso-brasileiros. No nosso entender, a estratégia poderá vir a dar frutos nos próximos jogos, atendendo à maior fluidez ofensiva que possibilita.

Bê Martins, André Lourenço e Léo Martins já levam um total de 6 golos no evento. [Foto: BSWW]

Por outro lado, o outro quarteto de campo, que tem jogado praticamente metade da duração dos jogos, faz-se constituir habitualmente por Torres, Belchior, Von e um outro jogador para a posição 4, normalmente Rúben Brilhante ou o estreante Rodrigo Pinhal. Por vezes, Tiago Batalha entra para fazer a posição 2 no lugar de Torres. Trata-se de uma herança da temporada passada, num quarteto que baseia a sua manobra no sistema 2:2 e tem vindo a aprimorar as suas armas ofensivas. Para já, a boa forma de Von e a pujança de Torres (crucial na reviravolta de ontem frente à Alemanha) têm contribuído para o sucesso desta receita, numa equipa onde Belchior se assume cada vez mais como o organizador de jogo por excelência. Rúben Brilhante, dotado de uma técnica fora do comum, tem também vindo a ganhar o seu espaço e a criar desequilíbrios interessantes, enquanto Rodrigo Pinhal tem revelado uma maturidade acima da média numa estreia, mostrando-se já integrado na equipa.

É certo que a produtividade ofensiva deste quarteto continua inferior a nível de golos à do conjunto inicial, mas em matéria de produtividade ofensiva as melhorias são claras. O jogo de ontem diante da Alemanha, por exemplo, foi pautado por uma clara infelicidade na finalização, sobretudo por parte de Von, mas também de Torres, com várias oportunidades negadas pelos ferros ou in extremis pelo guarda-redes germânico. No entanto, parece-nos que as rotinas cimentadas neste sistema de jogo podem possibilitar o aparecimento das armas dos jogadores, nomeadamente o pontapé de bicicleta de Von, que já temos visto surgir na Nazaré. Há margem para progredir, nomeadamente no que diz respeito ao maior envolvimento do jogador de posição 4 – já se observou algumas combinações de Rúben com Von ou Torres, mas há que dar espaço e tempo ao jovem jogador para que as jogadas possam surgir, assim como a Rodrigo. Tiago Batalha, por sua vez, tem aparecido com a vontade e a disponibilidade física de sempre, mantendo o equilíbrio da equipa tanto defensiva como ofensivamente.

Como nota final, realçamos ainda o bom resultado que a inclusão de André Lourenço neste quarteto de campo pode produzir. O trio formado por André, Rúben e Von já tinha vindo a ser ensaiado com êxito algumas vezes na época passada e ontem voltou a estar associado a um incremento na qualidade ofensiva, com várias oportunidades de golo criadas em poucos minutos no 3º período diante dos alemães. Ao mesmo tempo, a equipa manteve-se equilibrada graças à boa forma física e maturidade táctica dos executantes (aliadas à segurança de um 2 experiente como Torres ou Batalha). Na nossa opinião, parece-nos que a equipa não perde nada – antes pelo contrário – na troca de André Lourenço com Belchior nos dois quartetos de campo principais. Em todo o caso, é de salutar o desdobramento das possibilidades oferecidas pelos 12 jogadores do plantel nacional ao seleccionador Mário Narciso.

Defensivamente, Portugal tem dado provas de grande consistẽncia e solidariedade, tendo até ao momento concedido apenas um golo, numa grande penalidade convertida por Mutu para a Alemanha (Andrade defendeu a outra grande penalidade cedida por Portugal frente aos gauleses). É de facto notável a prestação de Elinton Andrade entre os postes, além do que tem proporcionado a nível de organização ofensiva, enquanto Petrony, solicitado no 3º período do embate frente à França, deu igualmente provas de estar numa forma invejável. Sendo certo que Ucrânia e Suíça dispõem de outro tipo de armas que expectavelmente irão causar maiores problemas, a prestação defensiva de Portugal surge como uma garantia fundamental numa prova em que qualquer passo em falso pode revelar-se fatal às aspirações lusitanas.

Hoje, Portugal está de folga, voltando a entrar em campo amanhã diante da Ucrânia (17h30), para depois defrontar a Suíça (17h30) no desafio final de Domingo. Para já, os lusos seguem na liderança da prova, com 6 pontos, seguidos da formação helvética com 3 pontos (menos um jogo) e da Ucrânia com 1 ponto (também com um jogo a menos), enquanto franceses e alemães permanecem sem pontuar no fundo da tabela classificativa. Até ao momento, a Suíça foi a outra formação que mais deslumbrou na Nazaré, batendo a França por claros 10-2, com Stankovic e Ott a imitarem Léo Martins ao apontarem um hattrick cada um. O único jogo equilibrado até ao momento foi a vitória de Ucrânia diante da Alemanha nas grandes penalidades, após um empate a 3 bolas no tempo regulamentar.

Tanto a Ucrânia como a Suíça são formações experientes, que venceram a Liga Europeia na última década e que certamente irão proporcionar bons espectáculos em duelos duros com Portugal nas últimas jornadas da prova. No entanto, acreditamos que Portugal dispõe dos meios para superar tais obstáculos e concretizar o grande objectivo da temporada: revalidar o título europeu que conquistou no ano passado, na Figueira da Foz.


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