David contra Golias, ou como Teddy Riner perdeu a invencibilidade

João CamachoFevereiro 12, 20206min0

David contra Golias, ou como Teddy Riner perdeu a invencibilidade

João CamachoFevereiro 12, 20206min0
No Grand Prix de Paris Teddy Riner perdeu a invencibilidade e a portuguesa Rochele Nunes conquistou a medalha de bronze! Os destaques e a análise de mais um grande evento do judo internacional

David contra Golias

Ao fim de 154 combates vitoriosos consecutivos e quase 10 anos de invencibilidade na categoria masculina de super pesados, +100Kg, o colosso Teddy Riner foi derrotado, e logo em casa, na capital francesa, na mais prestigiante e emblemática etapa do circuito Mundial, o Grand Slam de Paris.

O primeiro artigo de 2020 é dedicado às duas primeiras etapas do circuito de 2020. Uma entrada a todo o gás, com o período de qualificação para os Jogos Olímpicos a decorrer e literalmente ao rubro, recordo que o apuramento terminará no final de Maio, nos Masters que decorrerão em Doha, Qatar.

O mundo do desporto ficou em choque quando o Japonês Kokoro Kageura, de 24 anos de idade e que, em abono da verdade, não era, à data desta etapa, a primeira escolha da equipa técnica do Japão, conseguiu derrotar o colosso Francês Teddy Tiner, por muitos considerado o melhor Judoca da história, duas vezes campeão Olímpico (Londres 2012 e no Rio de Janeiro 2016), 10 vezes campeão do Mundo, e com muitos resultados de enorme relevância. Teddy viria a cair nas eliminatórias do Grand Slam de Paris ao perder o combate por Wasari, no golden score, num contra ataque, deixando a multidão, que faz questão de marcar presença em peso nesta competição, num silêncio ensurdecedor.

Esta derrota, sem dúvida inesperada, mostra que a obsessão e determinação dos Japoneses em preparar um atleta para derrotar o Francês está a ter resultados. É sabido que Teddy tem sido estudado ao pormenor, mas ainda faltam mais de 5 meses para os Jogos Olímpicos de Tóquio e Teddy prometeu muito trabalho e suor para renovar o seu título Olímpico. Aguardamos, com entusiasmo, novos capítulos nesta novela!

Rochele Nunes

A Luso Brasileira é a atleta Portuguesa do momento. Depois de conquistar a medalha de bronze na prova que abriu o calendário de 2020, o Grand Prix de Telavive, acabou também de bronze ao peito no Grand Slam de Paris. Rochele consolida a sua posição no ranking de qualificação e tem praticamente garantida a presença em Tóquio.

A sua consistência é evidente, 7 pódios em pouco mais de um ano, no circuito Mundial. Rochele optou pela naturalização, no final de 2018, sabia-se que era uma talentosa atleta, mas que estava tapada e não era a primeira, ou mesmo a segunda escolha da equipa técnica do Brasil, tal como Barbara Timo que se viria a tornar Vice-Campeã do Mundo da categoria feminina dos 70Kg, nos Campeonatos do Mundo de Tóquio de 2019, por Portugal. Rochele é uma atleta com uma grande atitude, trabalhadora, humilde e que num dia bom tem condições para chegar ao pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Será importante continuar a marcar presença no circuito e a somar pódios de maneira a que possa chegar a Tóquio com o estatuto de cabeça de serie e, assim, evitar as principais figuras desta categoria de peso antes dos quartos-de-final da competição.

Também temos de destacar, para não variar, a fabulosa Telma Monteiro, e, sinceramente, já não há adjetivos para caracterizar esta Super Campeã, que, com dois 5º Lugares (lutou pela medalha de bronze) nestas duas etapas, prova que está num bom momento de forma, e que “está aqui!”. A sua consistência mostra que está a trabalhar muito bem, focada no seu principal objetivo que é a 5ª presença nuns Jogos Olímpicos e com legitimas aspirações a voltar ao pódio, apesar de estar na categoria de peso mais competitiva do Judo Feminino.

Para terminar, Patricia Sampaio, ao conquistar o Bronze no Grand Prix de Telavive, mostra uma consistência de resultados de exceção, demonstrando que a transição para o escalão sénior foi bastante natural, o que era expectável face ao que fez o ano passado.

O balanço da participação Portuguesa nestas duas etapas é francamente positivo, no Grand Slam Paris tivemos 4 atletas Portugueses nas meias-finais e em Telavive tivemos 2 atletas nesta fase avançada do quadro competitivo.

Foto: IJF

Open Europeu de Odivelas

Decorreu nos dias 1 e 2 de Fevereiro, no Multiusos de Odivelas, o European Open Feminino, que de dois em dois anos visita o nosso país. Destaco que mais uma vez foi elogiada a excelente organização da Federação Portuguesa de Judo, em parceria com a União Europeia de Judo.

Trata-se de uma prova do circuito Europeu, mais acessível que as etapas do circuito Mundial, onde as principais e mais mediáticas figuras do Judo ocasionalmente marcam presença. Portugal apresentou 17 atletas, algumas ainda do escalão etário de Juniores e, em abono da verdade, os resultados não são animadores, honrosa exceção para a jovem Joana Crisóstomo que chegou à luta pelo bronze na categoria dos 70Kg.

Ficou evidente que existe um fosso entre a primeira linha do Judo Português e o grupo de atletas que se segue. Há que analisar os resultados ao pormenor e desde já identificar o que terá de ser feito – e há muito a fazer – e que passará, obrigatoriamente, pela articulação da Federação, com associações e clubes, pois os Jogos Olímpicos de Paris “estão aí à porta”…

Código moral de um Judoca e desportista

Anri Egutidze, que o ano passado esteve na ribalta devido a um episódio caricato e que se tornou viral, quando levou o seu telemóvel para um combate, o que acabou por lhe valer a desqualificação, foi agora protagonista de um comportamento altamente condenável, ao recusar cumprimentar o adversário com quem lutou pela medalha de bronze no Grand Slam de Paris, o experiente e medalhado olímpico de Londres 2012, Antoine Valois-Fortier do Canadá.

Anri retratou-se, e bem, deste lamentável episódio, pedindo desculpa, ao atleta pessoalmente, e nas redes sociais. Escrevi aqui, no artigo de 2 de Junho de 2019, a injustiça dos comentários e das críticas ao atleta Português, destacando o potencial enorme e as condições que tem de chegar ao pódio de uns campeonatos do Mundo, ou mesmo dos Jogos Olímpicos. Estas atitudes irrefletidas são lamentáveis e valeram, para além de um monumental coro de assobios dos mais de 15.000 espectadores que enchiam a Accor Arena de Paris, um puxão de orelhas da Federação Internacional de Judo. Anri terá que se focar na sua maturidade, concentrar nos objetivos e acreditar que pode efetivamente chegar longe, na certeza de que lhe basta trabalhar arduamente e com a humildade de um campeão porque tem talento de sobra e condições físicas de exceção para chegar longe.

Foto: IJF


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