José Azevedo. “O objetivo passa por vencer uma grande volta”

Davide NevesNovembro 17, 20176min0
José Azevedo, 44 anos. Natural de Vila do Conde e diretor-geral de uma das equipas mais poderosas do mundo. É ele o próximo entrevistado do Fair Play.

Depois de uma época que finalizou com um pódio numa grande volta (Zakarin fez 3º na Vuelta), o Fair Play esteve à conversa com José Azevedo, diretor-geral da Katusha-Alpecin. O português, depois de uma carreira cheia de sucessos, abraçou a nova carreira de diretor imediatamente a seguir ao terminus da sua carreira como ciclista. Senhoras e senhores, José Azevedo.

José, desde já muito obrigado pela oportunidade de o entrevistar. A minha primeira pergunta é muito simples: sente saudades de competir, passados 9 anos desde o seu fim de carreira como ciclista profissional?

JA: Desde que terminei a minha carreira em 2008 nunca senti em nenhum momento vontade de competir novamente.

Como foi a transição de ciclista para diretor de uma equipa de ciclismo?

JA: Foi uma transição fácil devido á motivação com que iniciei a minha carreira como director desportivo. No entanto o facto de ter na equipa ciclistas que tinham sido anteriormente meus colegas de equipa por vezes era estranho no entanto desde inicio que me aconselharam que para poder fazer bem a minha função tinha que deixar de pensar como ciclista.

O Benfica foi a última equipa da sua longa carreira, depois de mais uma participação na Volta a França, pela Discovery, onde envergou o dorsal nº1. Na altura, o Benfica tinha um jovem ciclista, de seu nome Rui Alberto Faria da Costa, a despontar no pelotão nacional. Viu como naturalidade a ascensão de Rui Costa a nº1 nacional e a um dos melhores do mundo, em 2013?

JA: Desde as categorias mais jovens que o Rui sempre se afirmou como sendo um dos melhore no seu escalão, via-se que tinha um grande potencial e depois de passar a profissional teve uma evolução que o levou ao topo do ciclismo mundial.

Azevedo como chefe de fila do Benfica.
(Foto: Jornal de Notícias)
Aproveitando o tema “Benfica”, veria com bons olhos o regresso do Benfica ao ciclismo nacional, depois dos regressos de Sporting e FC Porto?

JA: Sem dúvida, penso que era benéfico, desde que fosse um projeto bem organizado.

Em 2001, estava na equipa espanhola O.N.C.E, e terminou em quinto lugar no Giro d’ Italia. Qual é  a melhor recordação que guarda desse ano?

JA: Logicamente que o 5º lugar no Giro é o melhor resultado mas felizmente tenho muitos boas recordações desse ano. Por exemplo o 5º lugar no Paris-Nice.

 Em 2002, e depois em 2004, fez 6º e 5º lugar, respetivamente, no Le Tour de France. Nessa equipa de 2004, o chefe de fila era Lance Armstrong. Como era correr ao lado do norte-americano
JA: Motivante, era o nosso líder e eu trabalhava para chegar ao Tour a 100% e poder cumprir com aquilo que me era pedido.
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José Azevedo, pela Discovery, na Volta a França.
Consegue resumir, em cinco palavras, a Team Katusha-Alpecin?

JA: Uma equipa super competitiva e profissional.

Ocupa o cargo de diretor geral da Katusha há dois anos. Para a próxima época, a equipa perdeu Alexander Kristoff, mas ganhou o Marcel Kittel. A alteração do sprinter permite à equipa focar-se noutros objetivos?

JA: Sim, permite, pois são dois ciclistas de características diferentes.

O Tiago Machado, com quem nós já falámos, e o José Gonçalves compoêm a presença lusa na Katusha. Como é trabalhar com estes dois ciclistas portugueses?

JA: São 2 excelentes profissionais e com os quais estamos satisfeitos, daí termos renovado os seus contratos para os manter na equipa.

Gostou da brincadeira do bigode do Tiago Machado, no Tour?

JA: ​​​​​​​Foi uma aposta que penso que nem o Tiago esperava o resultado e ter de cumprir com o prometido.

Qual será o principal objetivo da Katusha-Alpecin para o ano de 2018? 

JA: Ganhar o máximo de corridas possível.

Ilnur Zakarin continua a ser o chefe de fila da Katusha. Estará algo mais “especial” reservado para ele, depois do 5º lugar no Giro e do pódio na Vuelta?

JA: Logicamente que agora o objectivo passa por vencer uma grande volta.

Portugal apresenta um contingente elevado de ciclistas no escalão máximo do ciclismo, com o Rui Costa, o José Mendes, o Nélson Oliveira, o Tiago Machado, o José Gonçalves, o André Cardoso, o Rúben Guerreiro, entre outros. Acha que Portugal pode voltar a sonhar com nova vitória lusa numa prova World Tour?

JA: Claro que sim, alguns já venceram e neste lote estão ciclistas com capacidades de vencer no WT (n.d.r: World Tour).

A nível sub-23 também há enorme talento, com os irmãos Ivo e Rui Oliveira, o Rúben Guerreiro ou o João Almeida, que tem ganho algumas provas lá fora. Existe potencial para ambicionar, com a geração atual e com as próximas que começam a despontar, com novo campeão mundial, depois do Rui Costa? ​​​​​​​

JA: Temos que ser realistas e objetivos, neste momento o importante é que esta nova geração de jovens tenha oportunidades e continue a trabalhar. A qualidade existe.

Qual é a sua opinião relativamente à ideia de incluir Portugal na Volta a Espanha, num futuro próximo? Não digo que seja completamente anexada, mas não daria maior visibilidade ao nosso país?

JA: Acho que seria importante para o ciclismo português e para Portugal pela visibilidade que daria

Por fim, e fazendo jus ao nome do nosso ‘site’, acha que existe Fair Play no ciclismo?

JA: Penso que é um dos desportos com um maior nível de fair-play.


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