Campeonato do Mundo Innsbruck 2018 – Sagan pode Vencer!

Diogo PiscoSetembro 29, 20186min3

Campeonato do Mundo Innsbruck 2018 – Sagan pode Vencer!

Diogo PiscoSetembro 29, 20186min3
Uma incerteza tão grande como a que existe sobre quem será o campeão do mundo. Pode ou não, o tricampeão mundial Peter Sagan, vencer o campeonato do mundo em Innsbruck?

Deixe-mo-nos de rodeios! A dúvida quanto a quem será o vencedor do campeonato do mundo de Innsbruck de 2018 é tão grande como a dúvida de que se será possível a Peter Sagan (Eslováquia) defender a camisola que lhe pertence à três anos.

Se colocarmos nos pratos de uma balança que pese esta dúvida, é bem provável que esta fique equilibrada. É caso para dizer que de um a lado está Sagan e do outro lado estão os outros todos.

Na verdade, sempre que se ouve um especialista afirmar que será muito difícil para Sagan revalidar o seu título este ano, nota-se que fica um sentimento de dúvida a pairar no ar. É também verdade que ainda ninguém teve a coragem de afirmar que é impossível que o eslovaco vença novamente este ano.

Sagan tem sido muito sóbrio e frontal a apontar os seus objetivos e a reconhecer os seus limites. Sempre que lhe perguntaram se haveria possibilidade de algum dia apontar à vitória de um aprova de três semanas, o ciclista respondeu que a sua fisionomia não é a de um trepador e que isso o afasta do que é necessário para vencer uma grande volta. O ciclista reconhece os seus limites e sabe que mesmo que alterá-se o seu treino por forma a adequar o seu corpo a esse objetivo, poderia não ter capacidade para tal e prefere continuar focado nos seus objetivos atuais e na sua forma original de correr.

Este é o mesmo Sagan que todos sabemos que não vai a uma prova para ganhar forma ou para treinar. Se está em competição é para tentar ganhar, mesmo que não esteja na sua melhor forma.

O exemplo disso está na Vuelta à España do presente ano. O ciclista tentou sempre estar na discussão das etapas ao sprint, entrando também na discussão da classificação por pontos e manteve-se até ao fim da competição. Outros na situação de Sagan teriam abandonado a meio para se focarem no campeonato mundial, mas esse não é o carácter do tricampeão mundial.

Recue-se agora até ao verão olímpico de 2016. No ciclismo de estrada o ambiente vivido era bastante semelhante ao dos dias de hoje. Entre os adeptos pairava a dúvida e especulação de quem iria vencer a medalha olímpica da prova de fundo. O percurso, era também um circuito apontado por todos os especialistas para puncheurs e trepadores. Na altura, como agora, havia a dúvida quanto às possibilidades de Peter Sagan vencer com tamanhas dificuldades montanhosas. Perante tal prognóstico o atual campeão do mundo decidiu ficar de fora e participar na prova de MTB.

Peter Sagan no circuito Olímpico de MTB do Rio de Janeiro. Fonte: Bryn Lennon/Getty Images

No final, Greg Van Avarmaet saiu do Rio de Janeiro com o ouro ao peito e Sagan foi pronto a dizer que com tal desfecho afinal o percurso não lhe era tão desfavorável como todos afirmavam.

Passando à conjetura de todos estes pontos. Desengane-se quem acha que Peter Sagan e a sua seleção não vão para vencer ao Mundial de Innsbruck. Dá para ver que o líder eslovaco perdeu algum volume, o que por consequência o deve ter deixado mais leve e mais capacitado para subir.

No total o percurso conta com 259,4 quilómetros com 4670 metros de desnível positivo acumulado. Antes de entrarem no circuito os ciclistas terão de enfrentar a subida de Gandenwald com os seus 2,6 quilómetros a 10,5% de inclinação média.

Altimetria do Campeonato do Mundo de ciclismo de estrada, Innsbruck 2018. Fonte: www.innsbruck-tirol2018.com

Já no circuito o pelotão terá de dar 6 voltas com a distância aproximada de 24 quilómetros, onde enfrentam uma subida de 7,9 quilómetros com inclinação média de 5,7% e rampas máximas de 10 %, antes de entrarem na volta final.

Na volta final, os ciclistas fazem a 7ª passagem pela subida do percurso percorrido até agora, para depois descerem e enfrentarem o tenebroso Höll. Uma parede com a distância de 2,8 quilómetros, com uma inclinação média brutal de 11,5% e rampas máximas de 28%. Depois serão 6 quilómetros para descer o que subiram em 2,8, uma descida que requer muita técnica, e mais 2 quilómetros a direito em direção à meta.

Os 12 quilómetros finais com o Höll e a descida final, com 10 sinais de perigo no livro de prova. Fonte: www.innsbruck-tirol2018.com

Parece muita montanha e muita inclinação para as características de Sagan. Mas também são muitas descidas, para um exímio descedor, e 2 quilómetros finais que podem permitir que alguém venha de trás e se lance para a vitória.

No Rio ficou provado que este tipo de subidas, que quando olhamos só aos números as direcionamos aos trepadores quando incluídas numa grande volta, neste tipo de corridas, na realidade adequam-se a outro tipo de ciclistas, mais talhados para provas de um dia e a corridas muito agressivas desde muito cedo.

A tática deverá passar por endurecer a corrida e atacar de longe, possívelmente na 6ª descida antes de entrarem na volta final, a fim de selecionar muito o grupo final. Depois é tentar que Sagan perca o menos tempo possível no Höll e possa discutir a corrida na descida final com dois ou três homens.

Um exímio descedor! Fonte: fieldofplay.com

Por outro lado, e menos provável, têm a tática de tentar fazer o líder passar com os favoritos a duríssima subida final e tirar proveito da sua ponta final. Existe sempre o risco de não conseguirem responder aos muitos ataques que deverão existir caso o grupo ainda seja numeroso no Höll.

Mesmo que não vença, qualquer movimento ou ataque de Sagan terá de ser respondido por quem queira vencer. Este ponto pode baralhar muito as contas e acabar por favorecer um companheiro da sua seleção. Como o próprio já afirmou  noutras corridas que sofreu de marcação cerrada, “eu posso não vencer , mas pelo menos escolho quem vence!”.

O Fair Play não está com isto a desmentir que o percurso seja mais adequado a puncheurs ou a trepadores. Muito menos a descredibilizar as dificuldades do percurso ou a dizer que Sagan é muito mais favorito que a longa lista de favoritos.

O Fair Play está a afirmar e a responder a uma dúvida que parece ser abordada com algum receio. Se Sagan pode vencer o seu quarto mundial consecutivo? Sim pode, caso contrário o tricampeão mundial nem iria a jogo.


3 comments

  • David Grenho

    Setembro 29, 2018 at 6:07 pm

    Atenção a nacionalidade… Jugoslavo????

    Reply

    • Diogo Pisco

      Setembro 29, 2018 at 6:48 pm

      Obrigado pela correção David. É uma daquelas confusões que acontecem no início da redação do artigo e que se arrastam até ao fim. Por mais que leias nunca reparas num erro tão evidente como este.

      E quanto artigo qual a tua opinião? Também achas que o Sagan pode vencer em Innsbruck?

      Reply

      • David Grenho

        Setembro 30, 2018 at 8:00 am

        Caro Diogo,
        Tenho algumas dúvidas que consiga lutar pela vitória.. julgo que a corrida irá ser atacada desde muito cedo e não creio que Sagan consiga manter-se na frente até a decisão final. Caso consiga chegar á subida final na frente não haverá ninguém que lutará mais que ele..
        Um abraço

        Reply

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