Basquetebol Feminino – Igualdade de géneros e a realidade portuguesa

Tiago MagalhãesAgosto 9, 20185min0

Basquetebol Feminino – Igualdade de géneros e a realidade portuguesa

Tiago MagalhãesAgosto 9, 20185min0
As questões éticas sobre a igualdade de géneros estão na base de muito problemas sociais na actualidade e nem por cá fugimos a isso. Em Portugal, como está a modalidade nestes aspectos tão preponderantes? Vem conhecer a realidade do basquetebol feminino em Portugal.

Vivemos cada vez mais numa sociedade de tensão acumulada sobre vários tópicos que por vezes parecem triviais mas que na verdade fazem toda a diferença. Um dos temas mais abordados na actualidade está na contínua luta pela igualdade de géneros e o desporto não é uma excepção.

Esta indignação tem sido demonstrada de forma bastante acentuada pelas jogadoras da WNBA esta temporada, com vários protestos e declarações, quer aos media quer nas suas redes sociais pessoais, numa tentativa de maior equilíbrio salarial em relação aos seus companheiros de profissão da NBA.

Tomando como exemplo os salários descritos pela WNBA para esta temporada, a média desta Liga está nos 71,635 mil dólares anuais sendo que o contrato máximo assinado por uma jogadora neste momento está nos 101 mil dólares anuais.

Comparando os dados anteriores com os da NBA, a versão masculina da mesma competição, temos uma enorme disparidade já que o contrato mínimo na NBA singra-se nos 582,180 dólares anuais. Quase nem seria preciso falar sobre contratos máximos, já que estes vigoram nas casas dos mais de 30 milhões de dólares anuais para algumas das super estrelas.

É claro que a visibilidade das duas competições é totalmente dispare sendo que a NBA é das Ligas mais acompanhadas em todo o mundo em todas as modalidades, mas esta temporada a WNBA tem vindo a subir mais de 4% a nível de share televisivo o que já é um dado extremamente significativo.

A grande luta das atletas da WNBA está numa remuneração não equiparada mas sim adequada à realidade em que estão inseridas e que lhes faça que não tenham que competir durante o ano inteiro, já que a nível de contratos lucrativos as melhores jogadoras acabam por rumar à Europa no fim da temporada da Liga americana.

Maya Moore, Candace Parker, Diana Taurasi, entre outras jogadoras, podem receber mais de 800 mil euros por uma temporada na EuroLeague. Estas atletas de topo da modalidade acabam por representar várias “powerhouses” do basquetebol europeu feminino como por exemplo UMC Ekaterinburg , Dinamo Kursk, Nadezhda, etc. Quem as pode criticar por aceitar estes acordos bem mais chorudos?

Porém, esta realidade não é apenas aquela que vemos na TV.

Por cá no burgo…

Portugal, um país que não é de todo de topo da modalidade a nível mundial, nem sequer a nível europeu, está neste momento a viver anos prósperos de gerações com excelentes jogadoras no feminino e com os melhores resultados de sempre na Europa no que conta a selecções de formação.

Pela primeira vez tivemos selecções de sub 16, sub 18 e sub 20 a competir na melhor divisão europeia, a divisão A. Pela primeira vez tivemos uma selecção de sub 17 a jogar um Campeonato do Mundo de basquetebol e a ter uma prestação digna de realçar mas sobretudo temos uma liga que é competitiva e onde despoletam atletas de renome.

O nosso país já não é só a inesquecível Ticha Penicheiro nas Sacramento Monarchs.

O nosso país é o pavilhão de Congresso de Matosinhos com mais de 3500 pessoas a ver uma final de um Europeu de Sub16 feminino, é Laura Ferreira a jogar frequentemente nas TV’s norte americanas e a destacar-se, é um conjunto enorme de atletas talentosas espalhadas nos campeonatos europeus actuando como verdadeiras profissionais mas é sobretudo uma nova geração com emergência de se mostrar a que se juntam atletas que nunca saíram de cá mas que elevaram na última década o basquetebol feminino a um nível nunca antes pensado.

As “Bernardecos“, as “Faustinos“, as “Lopes“, as “Andrades” e tantas outras que neste país passam por desconhecidas mas que na verdade são a alma da modalidade em conjunto com clubes de renome e instituições que apesar de todas as dificuldades continuam a prevalecer em conjunto com a FPB.

A nível monetário?

Na verdade, nós por cá, ainda nem nessa luta nos encontramos.

Continuarão a existir viagens em camionetas alugadas para pontos remotos do país, continuarão a existir atletas que estudam, trabalham e mesmo assim actuam ao mais alto nível no basquetebol, continuarão a existir pessoas que abdicam de salários por amor à modalidade e outras que terão de tomar opções em que o talento desportivo se perde mas que grandes mulheres para o futuro se formam.

As suas vozes não são suficientemente forte para ser ouvidas, as suas redes sociais não prosperam uma identidade que mantêm definida em cada temporada que competem e o nosso basquetebol é humilde mas em franca evolução.

O que são problemas de “igualdade” para uns em outros países, para nós apenas constam como problemas de semântica, isto porque as lutas delas, para já, são outras, bem mais reais e infelizmente parecem intermináveis.

Fotografia – Tony Cruz Jr

 


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS