A XFL voltou mas será que desta vez é para ficar?

Miguel Veloso MartinsFevereiro 16, 20209min0

A XFL voltou mas será que desta vez é para ficar?

Miguel Veloso MartinsFevereiro 16, 20209min0
Depois de 19 anos, a XFL está de volta e desta vez parece ter tudo para ter sucesso. Depois de inúmeras tentativas falhadas de trazer futebol americano de volta aos primeiros meses do ano, será desta que vamos ter uma alternativa para a NFL na offseason?

Em 2000, o lendário dono e CEO da WWE, Vince McMahon, em parceria com a rede televisiva NBC anunciaram que iriam lançar uma nova liga de futebol americano profissional. À semelhança de muitas outras ligas alternativas, esta nova liga iria competir logo depois da Super Bowl. Algum tempo antes deste anúncio, McMahon tinha tentado comprar a Canadian Football League, sendo que tal proposta foi de imediato rejeitada pela liga e as suas equipas. Após esta rejeição, o líder da WWE começou a desenvolver uma liga totalmente sua, na qual não definiria regras (bem, teria algumas, mas com certeza menos que a NFL), e em que o futebol americano seria “a sério”, violento e rápido. 

McMahon nomeou-a como XFL (todos assumimos que isto quer dizer “Xtreme Football League”, mas não existe qualquer anúncio oficial que o confirme), tendo-se tornado o maior falhanço da sua carreira. A XFL começou a sua temporada em 2001 com números recorde, mas os espectadores rapidamente descobriram que a liga não era mais do que um spin-off da WWE. A XFL estava repleta de drama fabricado, storylines forçadas e artifícios que não serviam para muito mais do que fazer o espectador rir de vergonha alheia.

Afinal tudo o que o público queria era ver bom futebol americano como nos velhos tempos da USFL, mas a XFL tinha tudo menos bom futebol. Com pouco tempo de preparação, grande parte dos atletas não estavam prontos para o desgaste de um jogo profissional.

No final da temporada, a XFL fechou as portas e não voltamos a ver futebol americano depois da Super Bowl até 2019, quando nasce a AAF (Alliance of American Football). A AAF parecia promissora com grandes nomes a promover a competição e financiamento estável, segundo os fundadores da liga. Todas as promessas foram em vão, sendo que a AAF terminou antes da nona semana da temporada. Em 2018, o mesmo ano em que AAF foi fundada, Vince McMahon anunciou que estaria também a tentar ressuscitar a XFL. Este prometeu que a nova XFL não iria cometer os mesmos erros da sua versão anterior, tentando trazer bom futebol americano de volta aos primeiros meses do ano.

 

O investimento de Vince McMahon e a passagem de liderança

Posso dizer que algo que me deixa confortável com a possibilidade se tornar uma liga de sucesso é Vince McMahon. Sim, McMahon criou uma abominação em 2001, mas desta vez parece estar a seguir todos os passos para criar uma competição sustentável e que respeita os jogadores e os adeptos. McMahon investiu 500 milhões de dólares na nova versão da XFL, definitivamente muito mais do que a sua antecessora extinta AAF.

Desde o anúncio das duas ligas (AAF e XFL), era claro que a liga de McMahon estaria muito mais preparada para as adversidades financeiras de começar uma nova competição. Isto não garante que a XFL terá sucesso financeiro a longo termo, mas pelo menos garante que a liga terá tempo suficiente para alcançar esse sucesso.

Outra decisão acertada de Vince McMahon que tem gerado enorme interesse e louvor da comunidade foi a contratação de Oliver Luck como comissário da liga e Jeffrey Pollack como presidente e COO. Oliver Luck é conhecido pelo seu trabalho como comissário na extinta NFL Europe e como executivo para NCAA, entre outras funções executivas no mundo desportivo. Jeffrey Pollack é um dos consultores com maior influência na história dos desportos americanos. Pollack serviu como consultor para a NBA depois do lockout de 1998, ajudando David Stern a relançar a liga depois do lockout. O consultor também trabalhou como comissário nas maiores competições de poker do mundo e como consultor e assessor para os San Diego Chargers na sua mudança para Los Angeles.

Vince McMahon passou as chaves da liga para profissionais com experiência e conhecimento suficiente para não cometer os mesmos erros das outras ligas que falharam no passado. Com o anúncio destas contratações, soubemos de imediato que não se tratava de mais uma liga que iria morrer pouco tempo depois do seu lançamento. McMahon está a criar as bases para uma XFL que poderá sobreviver e evoluir.

 

As novas regras

Quando Oliver Luck anunciou que a liga teria novas regras e inovações, ninguém ficou surpreendido. A XFL de 2001 também teve a sua dose de regras rebuscadas que morreram com a competição. A única inovação da versão extinta da XFL que sobreviveu foi a sky-cam, mais tarde adoptada pela NFL. No entanto, desta vez as regras parecem fazer sentido e garantir um jogo mais rápido e dinâmico. Seguem alguns exemplos:

A XFL decidiu que o futuro do futebol americano não devia ter pontapés em extra-points. Em vez dos pontapés aos postes, depois de um touchdown o ataque continua em campo e tem três opções. Tentar marcar um touchdown da linha de duas jardas ganhando um ponto. Tentar marcar da linha de cinco jardas e ganhar dois pontos. Ou tentar fazer touchdown da linha de dez jardas ganhando três pontos. Esta foi uma decisão controversa sem dúvida, mas esta mudança cria oportunidades para novas estratégias e mais comebacks.

Na liga de Luck e McMahon, se houver um empate as equipas devem jogar um prolongamento muito diferente do jogado na NFL, CFL ou NCAA. Este novo overtime é muito semelhante ao dos penaltis no futebol. Cada equipa deverá alinhar na linha de cinco jardas alternadamente com o objetivo de marcar touchdown (que neste caso vale dois pontos). Cada ataque terá cinco rondas para tentar marcar, no final a equipa com mais pontos vence.

Houveram também algumas alterações no relógio de jogo em comparação à NFL. Na principal liga americana as equipas têm 40 segundos para iniciar uma jogada. Para tornar o jogo mais rápido para os espectadores, a XFL mudou o play clock para 25 segundos e removeu um timeout por metade do jogo. Isto faz com que os jogos durem menos de três horas.

 

O retorno da XFL

A primeira temporada da nova XFL tem oito equipas divididas em duas divisões. Na Divisão Este: DC Defenders, New York Guardians, St. Louis BattleHawks e Tampa Bay Vipers. E na Divisão Oeste: Dallas Renegades, Houston Roughnecks, Los Angeles Wildcats e Seattle Dragons. Com exceção de St. Louis, todas estas cidades já têm equipas na NFL. Esta é uma estratégia muito diferente da usada na AAF, que apenas incluía franchises em cidades onde a NFL não estava presente (com exceção de Atlanta). 

A XFL tem recebido muito apoio por esta decisão, apesar da equipa com maior número de adeptos (antes do início da temporada) ser St. Louis, uma cidade que perdeu a sua equipa da NFL para Los Angeles há poucos anos. Na minha opinião, a liga deverá expandir para cidades com estádios da MLS (com algumas exceções, claro), estádios mais pequenos que conseguem responder ao interesse pela XFL de forma adequada e que criarão uma melhor atmosfera. Será de esperar vermos novas equipas em San Antonio, Orlando, San Diego e Chicago nos próximos anos.

Depois de 19 anos, a XFL voltou melhor do que nunca. A primeira semana da XFL foi um sucesso, a temporada começou no Audi Field, casa dos DC Defenders, com lotação esgotada (17.163) e uma atmosfera fenomenal. Em Houston, o TDECU Stadium teve apenas as bancadas mais próximas do campo abertas ao público, atraindo 17815 fãs ao estádio. O mesmo ocorreu em Nova Iorque, com 17.634 fãs a encher as bancadas inferiores do MetLife Stadium. A casa dos Dallas Renegades, o Globe Life Park, um estádio adaptado para futebol americano após os Texas Rangers (basebol) se terem mudado para outro estádio, teve também um número respeitável de adeptos (17.206).

Ontem (15/02) vimos o Centurylink Field em Seattle com o estádio mais cheio da XFL. Com mais de 30 mil adeptos, o primeiro jogo em casa dos Seattle Dragons foi um sucesso e já é um exemplo para o resto da liga. Ao contrário de Nova Iorque, Seattle provou que é possível encher um grande estádio da NFL com vida depois da Super Bowl.

No segundo jogo em casa dos Defenders, houveram menos adeptos no estádio em Washington DC, algo que já era esperado. A primeira semana da liga garantia trazer adeptos para o estádio pelo simples facto de ser um produto novo e apelativo. O número de fãs no Audi Field esta semana foi de qualquer maneira positivo, sendo que, vimos mais pessoas a chegar ao estádio enquanto decorria o primeiro quarto. 

Cabe à XFL criar interesse e entusiasmo pelo seu produto. Sendo que, acredito que a liga vai conseguir aos poucos captar mais fãs ao longo do tempo pois, ao contrário da NFL, ainda não existe qualquer relação dos adeptos com as equipas ou os jogadores. A XFL tem apenas duas semanas de vida e ainda há muito a aprender sobre conquistar uma audiência.

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