7 ilações do Mundial de Estafetas 2019

Pedro PiresMaio 16, 20198min0

7 ilações do Mundial de Estafetas 2019

Pedro PiresMaio 16, 20198min0
O Mundial de Estafetas teve de tudo: Surpresas, novidades, boas recepções e muito mais! Acompanhaste a maior prova da especialidade?

No passado fim-de-semana, decorreu em Yokohama, no Japão, mais uma edição do Mundial de Estafetas. Pela primeira vez em 4 edições, o evento não aconteceu em Nassau, nas Bahamas, que por razões financeiras não pôde acolher a competição. Entre uma série de grandes surpresas, existiram algumas provas que seguiram o guião previsto, havendo lugar a algumas boas experiências também.

– Os EUA foram a força dominante. Mas não tão dominante quanto esperado.

Os norte-americanos eram os grandes favoritos e foram a nação que conquistou mais provas, com um total de 5 (4×100 femininos; 4×200 masculinos; todos os 3 eventos mistos). Ainda assim não foram os vencedores em provas em que também eram os maiores favoritos (os dois eventos de 4×400 ou os 4×100 masculinos, por exemplo) e existiram os habituais problemas nas transmissões, com direito a duas desqualificações.

De qualquer forma, foi uma participação positiva, mostrando-se o seu poderio, sendo uma das nações que mais a sério levou esta competição.

Aleia Hobbs finalizou com glória os 4×100 (Foto: IAAF)

2 – Enormes surpresas

É denominador comum dizer que eventos de estafetas são dos mais difíceis de prever e mais uma vez isso foi regra. Na prova de 4×100 dos homens, foi surpreendente vermos os EUA a não vencer com uma equipa composta por Justin Gatlin, Noah Lyles, Mike Rodgers e Isiah Young, mas mais surpreendente ainda foi ver que a vitória não foi para os britânicos que tinham também uma forte seleção, indo para…os brasileiros! O Brasil tem feito um importante trabalho nas estafetas, ainda assim poucos poderiam antever este desfecho.

Outra prova bastante emocionante, no masculino, foram os 4×400, onde Trinidad & Tobago (que já trazia uma forte seleção) acabou mesmo por surpreender os norte-americanos já sobre a meta, levando a vitória.

O mesmo sucedeu no feminino, com a equipa da Polónia a mostrar, mais uma vez, que têm tudo totalmente afinado, embora não fosse expectável que vencessem a este nível mundial. Já nos 4×200, foi a França que venceu uma prova, em que todo o favoritismo pertencia à Jamaica por ter trazido os seus maiores pesos pesados para este evento (Elaine Thompson, McPherson, Fraser-Pryce e Shericka Jackson).

– Por onde a Jamaica?

O final do ponto anterior serve de introdução para falarmos da prestação da equipa jamaicana. A Jamaica tem um peso tão grande no panorama da velocidade mundial que, mesmo tendo sido a equipa (em conjunto com o Japão) em segundo lugar por pontos na classificação, a sua prestação foi considerada pela imprensa nacional como desastrosa.

Além do favoritismo nos 4×200 femininos, que ficou reduzido a um 3º lugar com direito a algumas das piores transmissões que já vimos, tiveram um 2º lugar nos 4×100 femininos e nos 4×400 masculinos, por exemplo.

No entanto, 0 vitórias. Algo vai mal na velocidade jamaicana (já o tínhamos percebido nos Mundiais de Londres) e, embora existam algumas esperanças de Ouros para Doha, o panorama parece bem menos animador do que o foi em tempos não tão longínquos, onde chegaram a ser a clara força dominante em alguns dos eventos.

4 – A eficácia dos novos eventos

Existiram dois eventos adicionados nestes Mundiais e, numa nota pessoal, confesso que poucas expectativas existiam.

O evento de shuttle de barreiras (com dois atletas masculinos e femininos a correrem em direções opostas) e os 2x2x400 (dois atletas – um homem e uma mulher – a correrem dois percursos de 400 metros alternadamente) não pareciam, por si só, bastante atrativos, até porque parecia existir alguma falta de concorrência às fortes equipas norte-americanas.

Esse facto até se veio a revelar verdadeiro e os EUA venceram os dois eventos. No entanto, ambos os eventos resultaram em termos de emoção e trouxeram esperanças para o futuro. Os 2x2x400 ficaram marcados por diferentes estratégias (O Quénia optou por uma estratégia que se revelou…suicida) e o shuttle de barreiras foi muito mais entusiasmante do que se poderia pensar e, mais importante, parece que agradou tanto a atletas quanto ao público.

https://www.youtube.com/watch?v=euBWNkktQQE

Já o evento de 4×400 mistos, que se estreará em Mundiais ao ar livre em Doha e em Jogos Olímpicos em Tóquio, não foi tão entusiasmante como previamente já o foi, com estratégias muito similares entre as nações participantes (vitória, naturalmente, norte-americana), tornando-o um pouco monótono e repetitivo face às outras provas de 4×400.

– Ausências

Mais do que a ausência de algumas estrelas das nações participantes – EUA, Grã Bretanha, França, Trinidad & Tobago ou a Jamaica, no feminino, trouxeram selecções bastante fortes – notou-se a ausência de algumas nações. Os novos eventos não trouxeram muitas comitivas (8 no 2x2x400 e 7 nas barreiras), o que até pode ser explicado por serem estreias e alguns países não saber bem com o que contar.

Mais estranho foi ver ausências totais de comitivas como a portuguesa ou a dos nossos vizinhos espanhóis. De forma não oficial, pelos corredores, várias razões foram apontadas, como a necessidade das federações terem que fazer escolhas em função dos seus limitados orçamentos anuais, mas é uma estratégia que se pode revelar arriscada.

A maioria das nações que se apuram para os eventos de estafetas em Doha o fizeram através desta via e existe um número limitado de vagas reservadas por ranking. Daqui a pouco tempo poderemos avaliar até que ponto não foi um erro colossal a não participação nesta competição.

6 – Yokohama foi um boa anfitriã

Quem não é seguidor regular de Atletismo poderá ter olhado para as bancadas do estádio internacional de Yokohama (mais de 70.000 pessoas) e ter pensado que as mesmas estavam demasiado despidas.

A verdade é que, racionalmente, sabemos que, neste momento, provavelmente apenas dois países podem encher estádios de tal dimensão com Atletismo (a Grã-Bretanha e a Alemanha). Ok, provavelmente, o Quénia e a Jamaica também o poderão fazer, mas ainda estão por provar em termos de capacidade de organização em eventos seniores deste nível (sendo que um evento de estafetas no Quénia não seria certamente tão popular quanto um evento com longa distância envolvida).

A IAAF foi apanhada de surpresa pela decisão das Bahamas a meses da realização do evento e a decisão de entregar a Yokohama pode ter parecido racional um ano antes das Olimpíadas rumarem ali ao lado, a Tóquio. Mais de 20.000 pessoas (no segundo dia) e 15.000 (no primeiro) é um número que não envergonha ninguém e é mesmo a melhor assistência de sempre em Mundiais de Estafetas. Em termos de organização, poucos factores negativos foram apontados, tal como era esperado.

A vitória norte-americana nos 4×400 mistos, com o primeiro anel praticamente cheio (Foto: IAAF)

7 – Em Doha (quase) tudo será diferente

Parece um facto óbvio, mas muito se tem visto escrito na imprensa internacional sobre uma mudança de paradigma nas estafetas. É pouco provável. É verdade que dos eventos de Mundiais/Jogos Olímpicos (4×100, 4×400), os EUA apenas ganharam 2 em 5 (incluindo os 4×400 mistos) e todos os outros 3 vencedores foram de certa forma surpreendentes, como já dissemos, não sendo os “suspeitos do costume”.

Ainda assim, retirar daqui ilações para o que se vai passar em Setembro/Outubro parece precipitado. Primeiro, porque esta competição realizou-se numa fase tão prematura da temporada, o que se reflecte nos resultados e marcas – alguns argumentarão que se reflecte em todos, mas a verdade é que quem é a elite da elite não está tão habituado a ir…tão devagar – e, muito também, porque algumas das equipas irão estar muito melhor apetrechadas e com todas as suas estrelas no seu pico de forma por altura dos Mundiais de Doha.

Depois, convém lembrar que também não existirá uma tão grande dispersão de eventos (os 4×400 mistos, sim, poderão ter esse feito), sendo que as estrelas que aqui participaram nos 4×200 aumentarão elencos de 4×100 ou 4×400. Será tudo diferente.


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