2020, o ano da mulher no Judo?

João CamachoMarço 26, 20196min0

2020, o ano da mulher no Judo?

João CamachoMarço 26, 20196min0
Telma Monteiro, Rochele Nunes, Patrícia Sampaio são tudo nomes fortes do Judo feminino português. Como será o ano de 2020 para as nossas judocas? Uma análise por João Camacho

A qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, que terão início a 24 de Julho de 2020, está a decorrer e irá, pela primeira vez na história deste desporto, qualificar um mesmo número de mulheres e homens para aquela que é a prova mais importante na carreira de um judoca. Numa decisão focada em melhorar a paridade entre o género feminino e masculino, o Comité Olímpico Internacional (COI) aprovou, em 2017, um programa que irá colocar em marcha esta iniciativa.

No Judo, esta decisão significa um decréscimo da presença de atletas masculinos de 22 para 18 e um acréscimo de atletas femininos de 14 para 18, isto por categoria de peso. O Judo teve a sua introdução no programa Olímpico nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, numa competição exclusiva para o género masculino.

O Judo feminino foi introduzido no programa Olímpico, oficialmente, nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, depois de ter sido modalidade de apresentação nos Jogos de Seul, em 1988.

Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos de Verão, a Federação Internacional de Judo (FIJ) é uma das 6 Federações que apresentará em Tóquio um igual número de atletas femininos e masculinos. Será também introduzida, pela primeira vez, uma competição de equipas mistas, com 3 atletas femininas (das categorias de -57Kg, -70Kg e +70Kg) e 3 atletas masculinos (-73Kg, -90Kg e + 90Kg).

A nível global, a participação feminina nos Jogos Olímpicos está a crescer, totalizando 44,2% em Londres (2012), 45,6% no Rio de Janeiro (2016) e com uma estimativa de 48.8% em Tóquio (2020).

Em Portugal há um longo caminho a percorrer, num total de 12.573 praticantes federados em 2017, 9.468 são do género masculino e 3.105 do feminino, representado aproximadamente 25% do total de praticantes.

Temos uma grande disparidade que torna evidente a necessidade de medidas que promovam o Judo feminino. A Federação Portuguesa de Judo (FPJ), consciente deste desafio, tem vindo a implementar algumas medidas, como a oferta do seguro desportivo obrigatório a todas as praticantes do género feminino, mas é evidente que é necessário mais trabalho ao nível da divulgação e promoção do Judo, tendo a FPJ a responsabilidade de definir um programa estratégico com a estrutura associativa, clubes, treinadores e entidades como o Instituo Português da Juventude (IPDJ).

2019 Ano de afirmação de Patricia Sampaio?

O ano de 2019 começou a todo o gás, com o Circuito Mundial a arrancar em pleno, com 6 etapas até ao final do mês de Março. A cereja no topo do bolo serão os Campeonatos do Mundo que decorrerão, como evento de teste dos Jogos Olímpicos, a partir de 25 de Agosto em Tóquio.

O primeiro trimestre permitiu ver diversos atletas Portugueses em ação, com especial destaque para a equipa feminina que tem conquistado um conjunto de classificações relevantes.

Hoje vamos destacar Patricia Sampaio, atleta do escalão Júnior, que já conquistou duas medalhas de bronze em Campeonatos do Mundo de Juniores e é a atual Campeã da Europa deste escalão, e que já conquista importantes resultados no escalão principal de Seniores.

Patrícia Sampaio (Foto: FPJ)

Patricia Sampaio foi medalha de Bronze no Grand Prix de Marraquexe, que decorreu entre os dias 8 e 10 de Março. Depois do brilhante 5º Lugar na prova inaugural do circuito de 2019, o Grand Prix de Telavive, Patricia Sampaio assume a sua candidatura a uma das vagas de qualificação Olímpica desta categoria, apesar da forte concorrência interna da experiente Yahima Ramirez, atleta de Rio Maior, que esteve presente nos Jogos Olímpicos de Londres e que conquistou uma medalha de bronze no Europeu de 2008, em Lisboa.

Patricia Sampaio pratica Judo em Tomar, na Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, onde é orientada pelo treinador, e irmão, Igor Sampaio. Desde o escalão de formação de Cadetes, que Patricia revelou ser um enorme talento, tendo inclusive conquistado o título de Vice-Campeã da Europa. É uma atleta muito focada e dedicada, e vê o seu esforço a ser recompensado com um conjunto de resultados sólidos, consistentes e que perspetivam uma grande carreira nesta exigente modalidade desportiva.

A gestão do seu percurso tem sido muito bem planeada e tanto o seu treinador, como o treinador Nacional que a acompanha desde o escalão de cadetes, Marco Morais, mostram como é possível articular o trabalho no clube com o trabalho na seleção. Um evidente caso de sucesso a replicar, se possível!

A questão que fica no ar, e que todos colocam, é se Patricia Sampaio será a sucessora de Telma Monteiro, no que respeita a um percurso fabuloso, repleto de momentos altos e que agora está na fase final da sua carreira. Telma, que trabalha para a sua 5ª participação Olímpica, é uma das atletas mais medalhadas a nível Mundial, na história deste desporto.

Um percurso com 5 medalhas em Campeonatos do Mundo, 4 títulos de Vice-campeã do Mundo, 12 medalhas em Europeus, com 5 títulos de Campeã da Europa, e a medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, entre muitas outras conquistas foi diversas vezes líder do ranking Mundial. Tudo isto coloca Patricia, bem como as restantes Judocas Portuguesas, sobre alguma pressão, acredito que boa pressão, porque é fundamental ter referências, mostrar que é possível chegar ao topo, e Telma mostrou a todos que é possível!

Até Tóquio 2020 temos pouco mais de um ano, relembrando que a qualificação Olímpica termina no final de Maio de 2020. Portugal tem atualmente 6 atletas dentro da qualificação (Catarina Costa nos 48Kg, Joana Ramos nos 52Kg, Telma Monteiro nos 57Kg, Barbara Timo nos 70Kg, Patricia Sampaio nos -78Kg e Rochele Nunes nos +78Kg), em 7 possíveis, o que caso se concretize, será sem dúvida histórico!

Ainda há um caminho a percorrer e a qualificação vai agora entrar em ebulição, com alguns do mais sonantes nomes a entrar em ação no circuito, e muito pode mudar num ano; lesões, prestações menos conseguidas, elevado nível da competições do circuito terão, certamente, impacto no ranking, mas por aquilo que temos visto, Tóquio 2020 poderá ser o ano das Judocas Portuguesas!

Prometo que no próximo artigo irei analisar a equipa masculina, afinal, temos de fomentar a igualdade género!

Telma Monteiro (Foto: Lusa)

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