A queda (in)esperada dos “poderosos”: FC Arouca e Académica de Coimbra

Francisco IsaacNovembro 5, 20186min0
Se Vítor Oliveira é realmente o Imperador da Ledman LigaPro, Arouca e Académica são as desilusões. A Briosa, em especial, está em zona de descida. A crise pode ir até que ponto?

Ao fim de 8 jornadas da Ledman LigaPro (9 para alguns emblemas, por antecipação de ronda) já há alguns dados curiosos e outros nem tanto:

– O Paços de Ferreira é a defesa menos batida da Europa com apenas 2 golos consentidos em 8 jogos, com Ricardo Ribeiro sem qualquer golo consentido esta temporada (o guardião ex-Académica falhou uma jornada por lesão);

– O campeão do Campeonato de Portugal, Mafra, está a ser das melhores surpresas nos campeonatos europeus com um 4º lugar e 15 pontos conquistados em 24 possíveis;

– O campeão de 2015/2016, FC Porto “B” está na última posição motivado pelo plantel parco em opções, excessivamente jovem (é o que tem a média de idades mais baixa, de 21 anos) e um treinador que não tem o brilhantismo dos anteriores;

– O SL Benfica “B” está em alta com as revelações Florentino, João Félix, Jota e Willock a terem garantido, para já, o 2º lugar da classificação;

– Os 21 golos do GD Estoril-Praia fazem-no do melhor ataque de Portugal, com a vitória ante a Académica a ficar na retina (7-2);

– A Académica de Coimbra e FC Arouca apresentam os piores registos em divisões profissionais nos últimos 15 anos, ocupando o penúltimo e antepenúltimo lugar da Ledman LigaPro;

E é deste último pressuposto que abordamos o facto mais preocupante e também surpreendente de até então: a Académica e Arouca estão não só a um passo do abismo, como deverão ter posto já um fim nos objectivos de lutar pela subida. Os treinadores que começaram a época a liderar ambos os emblemas já foram demitidos, com Carlos Pinto e Miguel Leal vítimas dos maus resultados e exibições de má qualidade.

EM COIMBRA NEM REI NEM ROQUE

O caso de Carlos Pinto já foi discutido no Fair Play (pode ver tudo neste artigo: Académica de Coimbra) e o de Miguel também foi ligeiramente abordado, mas fundamentalmente há que perceber um facto que os une: do fracasso estrutural fornecido pelas direcções.

A Académica de Coimbra está numa profunda crise financeira que já forçou a Briosa a penhorar e a perder grande parte do seu património, depois de anos de uma gestão deficitária levada a cabo por José Eduardo Simões.

Com um plantel envelhecido, sendo até o que apresenta a maior média de idades com 28 anos, e a falta de qualidade dos reforços obtidos (Peçanha já não consegue fazer aquelas saídas fulminantes nem ter a mesma presença na área por exemplo) como ingredientes finais, o desastre perpetuou-se e nem Carlos Pinto, o treinador que levou o CD Santa Clara à Liga NOS, conseguiu fazer uma revolução total no emblema conimbricense.

As saídas de Ricardo Ribeiro, Chiquinho, Luisinho, Zé Tiago nunca foram bem colmatadas, para além do facto de José Castro não contar e de João Real, Nelson Pedroso ou Fernando Alexandre de já não terem a capacidade física para carregar a equipa às “costas”, somando-se erros e falhas atrás de erros e falhas.

A falta de soluções e revitalização da SAD da Académica tem retirado poder de liderança e decisão à Briosa e não se vislumbram bons tempos para um clube perdido no presente,

A classificação à 8ª jornada reflecte exactamente o estado actual da Académica de Coimbra e até a aposta num treinador que desde 2012 não liderava uma equipa prova a falta de lógica e futuro de um clube perdido no meio da sua convulsão interna.

O capitular da Académica em casa

CONSEQUÊNCIAS DE MUDAR O 11 TITULAR EM AROUCA

O Arouca, por sua vez, teve a grande oportunidade de voltar à Primeira Liga na temporada passada, mas fracassou no objectivo no final de temporada rubricando algumas das exibições mais medíocres da temporada, quando precisava exactamente do oposto. De qualquer forma, a direcção liderada por Carlos Pinho manteve a confiança em Miguel Leal para a nova temporada.

Infelizmente, para o treinador o arranque de época foi de baixa rotação e ao fim de algumas rondas foi despedido, deixando o Arouca no último lugar da classificação. Quim Machado assumiu o lugar a 27 de Setembro e nos dois encontros que orientou o clube somou 4 pontos, mais um em comparação com os seis jogos que Miguel Leal disputou na condição de técnico-principal.

Não existindo graves problemas financeiros no emblema aroucense, a questão maior vem na falta de profundidade de opções no plantel e de jogadores que consigam dar cartas no emblema do centro de Portugal. Foi das equipas que mais sofreu com saídas, já que nove titulares puseram um fim na sua ligação ao clube: Aleksandar Palocevic, Nuno Valente, Lúcio Maranhão, Nuno Coelho, Rafael Bracali, Nelsinho, Vítor Costa, Barnes Osei, Roberto e Jubal.

Esta total mexida destruiu por completo o equilíbrio que Miguel Leal tinha conseguido edificar na época passada e foi o treinador a pagar a “conta” da falta de visão da direcção do clube. As várias saídas foram a custo-zero ou fim de empréstimo, o que prova a total falta de princípios de sustentabilidade e segurança no Arouca, tendo modificado profundamente o plantel de uma época para outra.

Com um futebol pouco claro, sem ligação entre secções, em que a escassez de golos e uma defesa pouco dinâmica limita a qualidade exibicional e em que há claros sinais de falta de experiência, o Arouca está neste momento em zona de descida de forma justa.

Académica e Arouca são, portanto, dois dos “poderosos” da segunda liga a terem caído por “terra” numa fase ainda bastante juvenil da temporada. Entretanto, o Académico de Viseu tem estado a meio-gás, com apenas 11 pontos conquistados em 24 possíveis, mas está só a 5 do 2º lugar de subida ocupado neste momento pelo Famalicão (que costuma as temporadas em alta, não aguentando a rotação durante toda a época) e o Estoril, apesar dos 21 golos marcados, tem sido travado pelos sucessivos erros defensivos que mancham as boas exibições colectivas.

Se o Paços de Ferreira está bem lançado para a promoção (Vítor Oliveira não engana, assina por clubes que garantam uma lógica de contratações boa e que apresentem elementos de estabilidade de soberba qualidade), surpresas podem advir do vice-campeão da Ledman LigaPro.

Haverá hipótese de redenção para a Académica de Coimbra e Arouca? Ou este é um claro aviso de que a gestão actual de ambas as direcções têm um selo de “fracasso” total.

Uma das duas únicas vitórias do Arouca


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