Quebra de enguiço dá lugar a um novo acreditar de Portugal?

Fair PlaySetembro 11, 20188min0

Quebra de enguiço dá lugar a um novo acreditar de Portugal?

Fair PlaySetembro 11, 20188min0
O empate contra os vice-campeões do Mundo e vitória contra a renovada Itália trouxeram uma nova esperança? Ou a quebra do enguiço italiano não significa uma mudança?

Croácia, Itália, quatro novos estreantes, convocações diferentes e mudança até dos protagonistas… todos estes elementos surgiram na “vida” da Selecção portuguesa nos últimos 15 dias que terminou com uma vitória histórica frente aos transalpinos. Com várias novidades em todos os sectores, Fernando Santos fez o que poucos acreditavam ser possível: alterar os actores principais, procurar novas soluções na construção e fluidez de jogo e mostrar “dentes afiados” no ataque.

Mas realmente até que ponto pode ser um empate contra a Croácia (1-1) e uma vitória ante a Itália (1-0) provar que há mudanças efectivas na forma de jogar, estar e atacar de Portugal?

RIVAIS DE TOPO COM RESULTADOS OPTIMISTAS?

Olhando de uma perspectiva simplista, ganhar contra uma sempre candidata aos maiores títulos internacionais é sinal positivo, ainda por mais quando se trata de uma formação que costuma mal-tratar Portugal nos jogos a doer. A Itália está ainda “doente”, vítima de uns últimos cinco anos de total queda da própria Serie A (que se começou a reerguer a partir de 2016) e procura voltar ao seu melhor, isto tudo é verdade e todos eles são elementos importantes para juntar a uma análise mais compacta.

Contudo, os italianos nunca devem ser entendidos como fracos, nem como um grupo de jogadores débeis e sem capacidade de ganhar os seus jogos. Vejam-se alguns dos nomes: Donnarumma, Criscito, Jorginho, Immobile, Insigne (não saiu do banco), Bonucci (também não foi opção), Bonaventura, Caldara ou Berardi.

Ou seja, Portugal defrontou uma selecção que não só tem de ganhar como tem de recuperar o seu estatuto de super-favorita à escala mundial, com um par de jogadores “novatos” (Federico Chiesa), estrelas afirmadas (caso de Jorginho) ou veteranos de excelente qualidade (Bonucci). No final dos 90 minutos, a vitória das Quinas não foi só justa contra este grupo de jogadores, como foi escassa em números.

A quantidade de lances de ataque de perigo iminente dentro da área do jovem Donnarumma atingiu mais do que uma meia dúzia de lances… dois lances que terminaram na barra, outros tantos que foram afastados pela “luva” do guardião italiano e uns quantos que faltou só um pouco mais de sorte na hora do desvio ou conclusão. Houve velocidade no ataque assim como inteligência e noção de como explorar as fraquezas dos adversários.

Bruma e Bernardo Silva foram virtuosos com a bola nos pés, Pizzi continua numa forma surpreendente neste início de época, Cancelo e Mário Rui mostraram-se laterais que sonegaram os seus adversários-directos. Acima de tudo houve estabilidade, consistência e capricho, imaginação, agressividade e trabalho.

Já contra a Croácia, que jogou na sua máxima força (faltou Rakitic), houve detalhes bem interessantes da selecção portuguesa, crescendo no meio-campo, ocupando bem a defesa (Pepe é o “professor” ideal para Rúben Dias no que toca ao posicionamento, recuperação de bola e/ou presença na área) e com um ataque bem esticado, munido de velocidade e inteligência. Novamente, voltou a faltar consistência e eficácia na área, e Cristiano Ronaldo não estava lá para dar outra dimensão nesse sector.

Ou seja, estes dois encontros foram sem dúvida alguma um desafio aos jogadores portugueses, de conquistarem pontos e vitórias sem o jogador português mais decisivo de sempre, de ombrearem contra as maiores potências mundiais numa fase de renovação e reformulação da própria selecção Nacional.

Fernando Santos, que tem sido alvo de críticas (algumas correctas perante algumas fracas exibições e outras infundadas de não saber o que faz) demonstrou por sua vez que não só não é averso a juventude e o lançamento desta mesma, como também consegue pedir um futebol mais agressivo no ataque, com velocidade no centro do terreno e boa articulação entre as linhas.

A aposta num meio-campo “diferente” com Rúben Neves como trinco, William Carvalho como 8 e médio de ligação e Pizzi como produtor de linhas de ataque, distribuidor de último momento, criando assim um trio bem curioso que vamos tentar explicar melhor, até porque Adrien Silva, João Mário, Manuel Fernandes vão ter uma palavra a dizer no futuro.

NOVOS MECANISMOS, NOVA LEITURA E NOVA FORMA

Com os regressos ao trabalho da seleção Nacional, Fernando Santos apresentou uma mudança no meio-campo de Portugal. Mas será esta alteração uma nova regra ou terá sido uma exceção?

William Carvalho, Rúben Neves e Pizzi. Se William já era um dos indiscutíveis de Fernando Santos (ainda mais com Danilo fora das contas), os outros dois são novidades. A entrada do médio do Wolverhampton para o 11 torna o “miolo” da equipa mais seguro, mais coeso e mais eficaz. Mas o que se perde ao jogar com dois “trincos”? Perde-se a capacidade de queimar linhas com bola, perde-se vertigem ofensiva e de contra-ataque.

Se nem William nem Rúben Neves são exímios a chegar à área adversária, essa é a maior qualidade de Pizzi. Como tem mostrado neste arranque de campeonato na Luz, o transmontano chega muito e bem à frente. É, por isso, o complemento ideal ao “duplo-pivot” de Fernando Santos.

As aspas aparecem porque, apesar de serem, realmente, dois médios defensivos, William e Neves dão ao jogo muitas outras dimensões. Têm uma capacidade de desarme elevada e leem muito bem o jogo adversário, mas são mais do que trincos puros. Com a bola no pé têm uma qualidade de passe de topo tanto a curtas (William) como a longas distâncias (Neves) e uma segurança que Fernando Santos tanto gosta. Sem Cristiano Ronaldo perde-se a urgência em jogar rápido e em contra-ataque e por isso faz todo o sentido apostar neste meio-campo.

Rúben Neves conseguirá segurar o lugar no 11 titular de Fernando Santos? (Foto: Sports Maniacs)

Mas e quando tivermos Ronaldo? O capitão é, como é natural, peça imprescindível da seleção, mas isso torna este meio-campo uma exceção? Ou serão William, Rúben Neves e Pizzi uma opção viável mesmo havendo CR7?

Fernando Santos é um fã da solidez defensiva e isso é garantido com este meio-campo. A contenção e a ocupação dos espaços foi melhor agora do que no Mundial, por exemplo. A saída de bola em velocidade fica mais fragilizada e mais lenta, mas, havendo um jogador como Pizzi, continua a existir. E o futebol apoiado que Portugal consegue com os três que jogaram contra a Itália tem qualidade e futuro. Encaixar Cristiano neste sistema? Sim, claro que sim!

Cristiano é um monstro na grande área e, com a qualidade de jogo dos três médios aliada à de Bernardo Silva, as oportunidades vão surgir. E já sabemos o que normalmente acontece quando Cristiano Ronaldo tem oportunidades na grande área. Para além disso, do ponto de vista defensivo, permite mais descanso a Ronaldo havendo dois jogadores capazes de destruir e fazer dobras atrás de si.

As soluções para o “miolo” são muitas para Fernando Santos, mas William parece insubstituível e Neves e Pizzi estão em momentos fantásticos. Se os dois assim se mantiverem serão, pela forma tremenda que têm apresentado, sempre as melhores opções. O melhor de tudo?

Pelo que vimos nestes dois jogos funcionam bem como trio! Veremos se com Ronaldo volta tudo ao que era e se perde a qualidade de passe e de segurar o esférico.

OUTROS DADOS A CONSIDERAR

Em duas curtas notas… Fernando Santos tem razão quando diz,

“Há um mês não íamos ganhar mais nada, éramos uns coitadinhos… Agora já podemos ganhar tudo. Vamos jogo a jogo”

ou seja, houve um descrédito total por parte de vários adeptos que optaram por conviver com o insucesso do Mundial a partir de uma multiplicidade de críticas infundadas ou excessivamente pesarosas para agora começarem os “rumores” de que Portugal tem tudo para ganhar a Liga das Nações. Falta mais capacidade de análise e de cultura desportiva para que se faça uma revisão dos sucessos e fracassos de Portugal e Fernando Santos.

Por outro lado, com as estreias de Sérgio Oliveira e Gedson, o seleccionador Nacional já lançou 35 jogadores no contexto internacional. Isto é uma clara prova que sempre houve uma vontade de procurar novas soluções e novos protagonistas para as Quinas nos últimos quatro anos. É de longe um dos seleccionadores que mais estreias promoveu e esse pormenor é um facto que tem sido descurado, sendo até distorcido ao ponto de dizer que só jogam os favoritos do timoneiro português.

Sérgio Oliveira um dos novos estreantes (Foto: Getty Images)

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