Moussa Marega: Recurso em tempos de crise?

Diogo AlvesSetembro 21, 20178min0

Moussa Marega: Recurso em tempos de crise?

Diogo AlvesSetembro 21, 20178min0
Um ano depois Moussa Marega volta a estar na boca de todos. O maliano repete o inicio da época passada, mas agora, ao serviço do FC Porto, clube que já tinha representado durante meia época em 2015/16. Sem sucesso seguiu para o Vitória, onde apontou golos e foi a grande sensação entre Agosto e Outubro. Um ano depois volta a repetir o êxito diante das balizas portuguesas.

Moussa Marega está a começar a encontrar o seu espaço no FC Porto. O internacional maliano após uma época gloriosa no Vitória SC, regressou à Invicta para convencer Sérgio Conceição a somá-lo ao plantel azul e branco. O maliano tem mostrado a sua versão que mais se esperava dele, um jogador muito físico, rápido e finalizador. Aliando a estes três aspectos, junta também compromisso, trabalho e espírito de equipa.

Marega chegou a Portugal na época de 2014/15 para jogar no Marítimo de Leonel Pontes. Vindo da Tunísia onde defendia o emblema do Espérance de Tunis. Embora seja internacional pelo Mali, Moussa Marega nasceu em França na zona de Les Ulis (subúrbios de Paris), onde por certo começou a sua carreira de futebolista. AS Evry, Le Poiré-sur-Vie e Amiens foram os clubes franceses que representou antes da chegada à Tunísia, e posteriormente, ao arquipélago da Madeira.

No Marítimo apontou 15 golos em 34 partidas, o que lhe valeu a chegada ao Porto em Janeiro de 2016 juntamente com José Sá – também proveniente do Marítimo – numa verba a rondar os 5 Milhões de Euros. Contudo, o contexto naquela época não foi o melhor, e, acabou dispensado por Nuno Espírito Santo na temporada seguinte. O destino? O Vitória SC, que o acolheria durante um ano por empréstimo. Empréstimo muito produtivo com 14 golos em 31 partidas, excelentes partidas, uma entrada em absoluto na equipa e que motivou vários festejos nas bancadas. Na memória dos vimaranenses ficará sempre a noite do dia 1 de Outubro, dos pés de Marega começou a nascer o empate diante do Sporting, a três bolas, após estarem a perder por 3-0. Números muito bons para quem vinha de uma fase menos positiva no Dragão.

Nova oportunidade no Dragão

Os problemas financeiros do FC Porto obrigaram a que todos os emprestados regressassem às oficinas do Olival para que, Sérgio Conceição e a sua entourage, avaliassem os retornados. Casos como Aboubakar, Reyes e Ricardo Pereira são paradigmáticos. Embora, para Marega, este regresso não tenha começado da melhor maneira. O maliano teve de ficar mais uns dias de férias para assistir ao nascimento da sua filha o que levantou algumas interrogações em relação ao seu futuro nos Dragões. A demora na apresentação aos trabalhos aumentou a especulação sobre a saída de Marega do plantel, no entanto Sérgio Conceição tenha deixado a porta aberta para a reintegração do jogador quando no México falou dele.

Chegou, treinou, convenceu e foi a jogo durante o resto da pré-época. Ficou ainda com o dorsal 11, vale o que vale, mas foi logo um dos sinais que estava para ficar de vez no plantel portista, embora existissem abordagens, e, à data fosse expectável que chegassem reforços para o sector ofensivo. “Entradas? Poderá haver e espero que aconteça alguma” – Sérgio Conceição.

Sérgio Conceição nunca escondeu que procurava mais um reforço para o ataque.

Com o novo sistema de dois avançados, num 1x4x4x2, Marega partiu como 3º homem atrás de Soares e Aboubakar. Pareciam ser uma dupla de betão e de golos nos primeiros ensaios pré-competição. Mas o azar bateu à porta de Soares à meia-hora do jogo com o Estoril da 1ª jornada, com uma distensão na coxa, pondo o brasileiro fora de ordem até à 4ª jornada, ou seja, paragem de quase um mês.

A entrada de Marega com o Estoril não podia ter funcionado melhor. Abriu o marcador aproveitando um erro crasso da defesa do Estoril, e, bisou de cabeça com assistência de Óliver Torres. Foi a entrada triunfante que não teve há ano e meio atrás com José Peseiro ao comando. Com a lesão de Soares e o bom rendimento, não mais saiu do onze titular.

As características do franco-maliano

Marega não é dos jogadores mais talentosos do campeonato português, é visível aos olhos de todos a falta de argumentos que o jogador tem em espaços reduzidos. Não é também dos mais inteligentes nas tomadas de decisão, opta pelo mais simples, sendo que, por vezes o mais simples não seja o melhor. Evidencia-se sobretudo pela força física e pela velocidade que coloca em campo, não desistindo nunca de um lance e com confiança nada o abate. Os golos têm sido o melhor aliado para disfarçar carências no seu jogar. O que pode levar muitos a dizer que Moussa Marega é um jogador à Sérgio Conceição.

Não se pode pedir muitas coisas a Marega, e o técnico dos Dragões tem entendido muito bem o que fazer com o jogador. Passando-lhe toda a confiança necessária para o ter de cabeça limpa, confiante e permitindo que tenha liberdade de movimentos dentro das quatro linhas. Diferente dos apoios que Soares dá à equipa, e do bom trato de bola de Aboubakar, Marega aporta vertigem e ataque aos espaços amplos. Revezando movimentos de largura e profundidade, não descartando o ataque à baliza contrária aparecendo na grande área adversária onde já apontou 5 golos em 6 partidas.

O jogo do passado domingo, em Vila do Conde com o Rio Ave – uma das equipas sensação do campeonato – foi a preceito de Moussa Marega. O Rio Ave de Miguel Cardoso é das equipas que prioriza uma defesa (muito) subida para no momento defensivo comprimir espaço entre ataque e defesa. Isso traz como pontos negativos o latifúndio nas costas da defesa e um largo espaço para os atacantes rivais o explorar.

Marega em Vila do Conde apontou o seu 4º golo.

Ora, isso para Marega é o ideal, por isso vimos o maliano a correr bastante com bola e chegada ao último terço com muita liberdade. Se não existir uma boa coordenação defensiva, mais fácil se torna a tarefa. Basta ver o segundo golo do Porto, o de Marega, onde teve muito espaço para correr com bola. No entanto, viu-se a maior virtude (velocidade) aliada ao maior defeito (a decisão). A jogada termina com uma assistência de Brahimi para Marega, onde não teve meias medidas para rematar à baliza: de bico a fazer lembrar Romário.

Esta condução de bola em vertigem pode ser bom em jogos onde haja muito espaço. Jogos da Liga dos Campeões, diante de rivais que assumem o jogo e com os grandes em Portugal. Expectante para ver o jogo com o Sporting, se se manterá no onze, já que Soares está recuperado, e como será abordagem de Sérgio Conceição para explorar essa verticalidade de Marega.

De mal amado, a paixão de verão dos adeptos portistas. Marega para já tem convencido a Tribuna do Dragão e o jogador mostra total empatia com todos. Ele que, há sensivelmente um ano, tinha dito que com Nuno Espírito Santo não voltaria ao Dragão, igual caso teve Aboubakar. Em ambos o mérito é do agora novo timoneiro que transmitiu-lhes confiança e o rendimento vê-se em campo.

Recentemente houve outro Marega?

Jogadores com as características do Marega no FC Porto dos últimos anos houve poucos. Jogadores verticais e explosivos, o FC Porto teve Cristian Tello, o ex-Barcelona também ele um jogador vertical, rápido e com golo era mais um flanqueador e menos avançado, pelo que o seu peso na equipa viu-se mais no número redondo de assistências que deu à equipa. Em 57 jogos de Dragão ao peito, o catalão assistiu por 12 vezes. A nível de golos foram dez, e para lembrança ficará o hat-trick diante do Sporting CP.

Marega seria aposta sem Fair-Play-Financeiro?

É uma pergunta de difícil resposta, porque havendo capacidade de ir ao mercado o FC Porto não hesitaria em reforçar-se com os melhores para atacar o título. E, nesse caso, Marega poderia passar para o fundo do plantel, ficando como uma 4ª opção. Há males que podem vir por bem, e para Marega, a crise financeira dos Dragões abriu-lhe uma porta que ele teima em deixá-la bem aberta para ele.

O desafio agora será apagar o fantasma Licá da cabeça dos adeptos, também teve um belo arranque de temporada (em 2013/14), mas acabou esquecido e considerado transferível. De uma paixão de verão, Marega agora tem de ser uma confirmação na primavera.


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