Special One, até quando?
José Mourinho, Manchester United e Premier League – um suposto mix explosivo para a temporada 2016/2017. Os resultados passaram do entusiasmo puro às dúvidas e questões. Terá, ainda, o Special One o que é preciso para ser um vencedor?
O momento não podia ser mais indicado. Após uma fase entusiasmante, bem no início da caminhada de Mourinho no Manchester United, a coisa começou a mudar de figura com vários pontos cruciais a fugirem num curto espaço de tempo. É aqui que tudo muda – o mar de rosas dá lugar à tempestade, o barco abana e o timoneiro Mourinho não consegue guiar a embarcação rumo ao regresso às vitórias.
O carismático técnico português, fiel à sua personalidade, não tem meias medidas em apontar o dedo ao que quer que seja. O problema é que os resultados ficam, a instabilidade é evidente, a qualidade de jogo não impressiona e chega o momento de questionar se as qualidades de Mourinho são suficientes para ofuscar a arrogância e irritação com que digere a falta de vitórias. Os créditos vão escasseando e está na hora do primeiro clássico contra o maior rival, embalado pela excelente fase que passa a turma de Klopp. A diferença entre o panorama atual de cada um destes clubes é abismal. O Liverpool vai ganhando notoriedade aos poucos, começa a entusiasmar os adeptos, há esperança no regresso aos títulos, mas sem promessas. Mais que isso, o técnico alemão solidificou a alma e o espírito de equipa, a alegria com que encaram as partidas é notória e todos os jogadores vão à luta pelo seu treinador. Se a forma de motivar os jogadores é exemplar, então com as vitórias cada vez mais constantes é ainda mais fácil alimentar o ego. Neste aspeto, o Liverpool terá mesmo o grupo de jogadores que terá mesmo a maior confiança no seu mestre da tática.

Já os encarnados de Manchester não podem gabar-se da mesma situação. As contratações sonantes, a começar no treinador e a acabar na chegada de Paul Pogba, despertaram o entusiasmo para depois dar lugar à frustração dos adeptos. De repente, com uma inesperada perda abruta de pontos, já nada está tão bem como aparentava. As opções de Mourinho começam a ser questionadas, a “teimosia” da aposta em certos jogadores tende a não produzir os efeitos desejados e o português não esconde a sua desilusão. Se o técnico até pode ter razões para o fazer, esta tem sido uma postura muito criticada pelo clima tenso que se gera no balneário, a começar a fazer lembrar o ano negro no comando do Chelsea.

A poucas horas do grande clássico, há grande interesse em tentar perceber se os jogadores esquecem a fase menos boa e avançam para uma nova cavalgada rumo aos lugares do pódio. A grande motivação será mesmo a recente perda de pontos dos rivais diretos, só que do outro lado estará alguém a pensar exatamente da mesma forma, com uma mente bem mais limpa. Será Mourinho capaz de transmitir a confiança necessária para alcançar o tão desejado sucesso? Quem desilude? Quem impressiona? Há muitas conclusões a tirar perante este grande clássico e ingredientes não faltam para uma noite empolgante de Premier League.
Se em tempos (e duradouros) houve o “Fergie Time”, agora vai havendo a “Rash Hour” – os golos decisivos de Rashford são oxigénio puro para Mourinho respirar neste início atribulado. Contudo, haverá paciência dos Red Devils para aceitar uma temporada aquém das expectativas do técnico português, ou a cadeira mais apetecida do Teatro dos Sonhos continuará a abanar e a catapultar treinadores para o desemprego? Terá o “Special One” um “ano zero” para construir uma equipa com a sua identidade? Uma coisa é certa, Mourinho teve tudo o que exigiu e nem os reforços sonantes torceram o nariz apesar da ausência da Liga dos Campeões. Em dia de grande clássico com o eterno rival Liverpool, frente ao atual treinador do mês que tem feito renascer a esperança dos Reds, chegou o momento mais decisivo até então na temporada para Mourinho. A plateia prepara-se para um verdadeiro espectáculo, há “You’ll never walk alone” para a entrada e o resto é sentar para apreciar – haverá Heavy Metal de Klopp, com um toque de samba de Coutinho? Um golpe de artes marciais de “Ibracadabra”? Ou um “late drama” com direito a “Rash Hour”? Para qualquer adepto de futebol espetáculo, este será certamente mais um dia memorável na história da Premier League.
O registo do Manchester United neste início de época: