Conte até doze
Depois de Zola, é Conte quem scrive la historia do Chelsea em italiano. São já doze vitórias consecutivas, onde se sofreram apenas dois golos, e seis pontos de vantagem para o segundo classificado. Depois de ter chegado à Premier League há apenas cinco meses, Conte e o seu Chelsea já são referências desta edição.
Nem Klopp, nem Pochettino, nem Wenger, nem sequer Mourinho ou Guardiola. A grande estrela dos bancos desta nova edição da Premier League – uma das melhores de sempre a este nível – é António Conte.
Mas antes de falarmos do treinador italiano, rebobinemos até Junho do ano que agora finda, para fazermos o devido enquadramento. Por essa altura havia muita azáfama por Manchester. Guardiola e Mourinho chegariam entretanto para o take 2 da rivalidade construída em Madrid, pegando nas duas maiores equipas da cidade.
O português e o espanhol tinham dinheiro para gastar nos jogadores que quisessem e a luta parecia a dois. Wenger também montava uma equipa mais coesa e prometia intrometer-se na luta. Em Liverpool, Klopp tratava de armar uma formação aguerrida e enérgica – exactamente à imagem cool do alemão -, pronta a surpreender, algo que até se tem verificado.
Enquanto todo este reboliço acontecia, o novo treinador do Chelsea preocupava-se em saber como bater a Espanha, em pleno Euro 2016, com uma Itália em quem pouca gente depositava crédito. A squadra azurra chegou aos quartos-de-final, mas mesmo assim ficou na retina de quem acompanhou de perto o torneio, como uma das equipas mais agradáveis de seguir na prova.
Após isto, Antonio Conte tinha de viajar para Londres rapidamente, para colocar uma equipa a jogar futebol em tempo recorde. Havia pouco tempo para descansar e preparar uma equipa de forma devidamente pausada e pensada. A Premier League – algo completamente novo para o italiano – estava aí à porta. Estas mudanças bruscas – desde a Serie A para comandar a seleção num Europeu, e daí para rumar à Premier League – tudo em apenas dois anos, não assustaram nem o bocadinho o allenatore.

Depois dum início com alguns tropeções e dúvidas, as ideias de Conte clarificaram num revés num derby londrino. A derrota frente ao rival Arsenal, por 3-0, despoletou uma revolução tática, que já começa a ser replicada por outros emblemas. Conte havia utilizado quase sempre, na sua carreira, uma defesa a 3 e aqui tentou uma linha de 4, que não correu bem.
Se em números se mudou de 4-2-3-1 para 3-4-3, num nome falamos de Hazard. O belga tem sido o grande dinamizador de jogo dos londrinos. No final da temporada transacta, já vinha dando ares de quem estava de volta ao nível que nos havia habituado e o Europeu provou isso mesmo.
Nesta tática, sem Óscar, com Matic mais preso à posição e com os alas (Marcos Alonso, no caso) a fazerem todo o corredor, surge espaço para o camisola 10 poder mostrar toda a sua categoria futebolística. Com isto, Hazard tem liberdade para usar e abusar do seu mortífero movimento esquerda-meio. Entretanto, prova das melhorias exibicionais, já foi incluído no restrito lote de jogadores com mais de 50 golos pelo clube, com a companhia de Drogba, Lampard, Zola, Hasselbaink e Gudjohnsen.
Todos os jogadores têm o seu papel muito mais clarificado. Matic e Kante completam-se de uma maneira quase perfeita, numa tática que exige que estes dois jogadores do miolo consigam abranger uma área muito grande de terreno para roubar a bola e preencher espaços. O sérvio e o francês funcionam quase como um muro, que não deixa a bola passar da sua zona de acção, somando recuperações em campo contrário.
David Luiz, que chegou em cima do fecho de mercado, voltou a Londres e foi outra adição de peso, garantindo agora uma saída de bola mais limpa, que não era conseguida por jogadores como Terry, Cahill ou Zouma. Para além destas novas caras, o nível de jogadores como Courtois, Diego Costa ou Pedro voltou ao habitual, depois de uma época 2015-2016 para esquecer para todos.
Apesar de todas as diferenças posicionais, a maior mudança neste plantel foi a nível anímico. A comparação com Mourinho é inevitável e é aqui que bate o ponto. Os jogadores são praticamente os mesmos – à exceção talvez de Kante e Marcos Alonso – mas mudou também a mentalidade perdedora e desinspirada com o português, para a ambição e entreajuda do italiano.

Todas estas pequenas grandes alterações introduzidas por Conte tornaram o Chelsea numa equipa muito coesa e dificílima de bater. O perfume italiano do treinador é reconhecido a milhas. Convém demarcar que nestas doze vitórias seguidas, foram sofridos apenas dois golos. E voltando um pouquinho atrás com o filme, podemos verificar que foi com este tipo de jogo mais resultadista que se venceram as duas últimas edições da competição inglesa.
Em Janeiro, com o dinheiro que entrou da venda de Óscar para a China, é possível que Conte vá buscar um ou dois reforços para completar as opções do banco para o que resta da temporada. Os números dizem-nos que este arranque é mesmo melhor que o de Mourinho em 2004. Não ter de jogar competições europeias é outro factor que poderá ter muito peso quando chegarmos à altura das decisões.
Em apenas 4 meses de trabalho, já entrou na história dos londrinos. Batendo Stoke e Tottenham, os adversários que se seguem, Conte poderá igualar a maior marca da competição a nível de vitórias – as 14 de Wenger. Com esta série imparável, o aviso à concorrência está dado – o Chelsea está bem e recomenda-se.

2 comments
Pedro Nunes
Dezembro 29, 2016 at 5:22 pm
Neste momento acho mesmo que pode ganhar a liga, mas ainda falta jogar outro tanto.
Eu era daqueles que dizia que ele ia ser despedido passado um mês, porque não sabia o que ia fazer com Hazard, nem ia dar certo uma defesa a 4. No entanto, com esta tática, o Chelsea está fortíssimo e todos os jogadores estão a ser potenciados de volta para o seu melhor. Acho que falta ali um ou dois nomes no banco que sejam opções convincentes para chegar ao título, mas vamos ver.
Francisco Isaac
Dezembro 29, 2016 at 4:08 pm
Pedro, até onde achas que pode ir o Chelsea de Conte?