Vídeo Árbitro: Investigue-se! Aperfeiçoe-se!

Marcelo BritoNovembro 14, 20175min0
Uma análise opinativa sobre o novo sistema auxiliar aos árbitros portugueses. O Vídeo Árbitro. Qualidades, defeitos e, se possível, a sua saída de cena.

Começa a ser impossível não abordar a questão da introdução do Vídeo Árbitro (VAR) em Portugal. Uma luta incessante, inicialmente introduzida e batalhada pelo presidente do Sporting Clube de Portugal, Bruno de Carvalho. Um dos poucos tópicos trazidos à praça pública desportiva pelo líder leonino que mereceu a atenção de todos. De apoiantes, de apoiados ou de adversários.

Na teoria, o Vídeo Árbitro pareceu uma solução exequível e aceite pela grande maioria para combater em prol da verdade desportiva, tirando uma ou outra figura do desporto nacional. Vale o que vale. O VAR foi implementado na Liga NOS e está, desde então, a ser, semanalmente, alvo de críticas. Positivas ou negativas. E assim será, mas é aqui que fica a interrogação:

Mas um sistema tão bom, tão infalível, que ajuda a corromper com toda a alegada corrupção desportiva nacional, continua a ser escrutinado e esmiuçado por todas as plataformas desportivas? É verdade, continua. E bem. E bem, mas porquê? Parece que o VAR não é assim tão infalível e, espante-se, também apresenta falhas. Até aí, tudo normal. Todos esperávamos falhas de um sistema que está, pela primeira vez, a ser executado. Haverá sempre margem de progressão e melhoria.

É aqui que chega a teoria da conspiração. Atualmente, ao pronunciar a palavra arbitragem em Portugal, seja no café, no escritório ou no consultório médico, a palavra Benfica também surge à tona da conversa. Assim está implementada a nova cultura do futebol nacional. Arbitragem? Benfica. Árbitro? Benfica. Conselho de Disciplina? Benfica. Isso chateia, ou deveria, o apaixonado deste desporto.

Mas há que pôr a cabeça no lugar, ver com… ‘olhos de ver’ e refletir. Mas afinal, o porquê de quando falamos em Arbitragem, o Benfica ser igualmente tema diretamente ligado?

Sejamos coerentes. Nos últimos quatro anos há, um ou dois, campeonatos ganhos pelo Benfica inteiramente merecidos, mas há, um ou dois, campeonatos conquistados pelos encarnados porque assim alguém o impôs. Alguém exigiu e decretou o Benfica como vencedor. Águas passadas, não viremos atenções do tema deste texto. O VAR. Assistimos, esta época, a decisões completamente discrepantes. Exemplificando, estamos recordados do jogo em que o Benfica triunfou sobre o Portimonense, por 2-1.

Os algarvios chegam ao empate já perto do fim e com menos um jogador em campo – expulso –, mas o golo é invalidado. O VAR interveio, de forma oportuna, e anulou o lance devido a um fora de jogo no início da jogada. Decisão perfeita, incontestável. A intriga não suscita neste lance. A intriga suscita quando, mais uma vez exemplificando, no jogo entre Moreirense e Sporting, terminado com um empate, 1-1, um avançado leonino é agarrado dentro de área, impossibilitado pelo defesa contrário a finalizar a jogada. Como este, poderia dar umas duas mãos cheias de exemplo discrepantes dos critérios do Vídeo Árbitro.

Créditos: Reuters

Na última partida do Benfica para a Liga NOS, o sistema ‘VAR’ falhou e, dois minutos depois, penálti assinalado para os encarnados que, sejamos coerentes, deixa dúvidas. O juiz da partida não as teve e prontamente apontou para a marca dos onze metros. Ok, ninguém deve apontar o dedo ao árbitro porque, caso não tenha dúvidas, reina – ou devia – a sua decisão. Deviam ter interrogado o VAR, mas… não existia VAR. Ao revés, no jogo entre Sporting e Chaves, o árbitro dá amarelo a um jogador leonino por (suposta) simulação. Conseguimos ver nas imagens o mesmo a perguntar – subentenda-se – ao VAR: “É?” [resta saber se penálti ou simulação]. Posteriormente verifica, não uma, mas duas vezes as imagens e a decisão mantém-se.

No embate entre Sporting e Sp. Braga foi marcado um fora de jogo aos bracarenses que, no primeiro contacto entre o jogador em causa e a bola, deu golo. O auxiliar não teve dúvidas e assinalou infração, o juiz apitou e, posteriormente, a bola entrou na baliza leonina. O lance foi injustamente invalidado e as críticas não pararam. Como o esférico só ultrapassa a linha de golo após o apito, o VAR nada poderia fazer para intervir.

Estranho como o auxiliar não tem dúvidas de fora de jogo num lance em que o atacante bracarense está, claramente, em jogo. Paira a eterna questão. O exímio defensor do Vídeo Árbitro pode, agora, argumentar para que tirem os auxiliares, denominados vulgarmente como ‘bandeirinhas’, do campo e para que deixem o VAR trabalhar.

E depois do VAR?

Ainda não está cumprido um terço do Campeonato e o VAR já provou ter utilidade – todos os donos de clubite aguda já sentiram na pele decisões favoráveis e desfavoráveis ao resultado desejado – mas assim somos levados a pensar que continua a funcionar quando convém, onde convém e para favorecer quem convém.

Continuo a partilhar da opinião que não seria preciso VAR para coisa alguma, mas enquanto os interesses pessoais dos agentes desportivos nacionais, demasiadamente influentes, continuarem a prevalecer sobre a verdade e a transparência desportiva, não há VAR que solucione o que quer que seja. ‘Ah! Mas os árbitros erram sempre em deterioramento deste ou daquele clube’. Erros? Atire a primeira pedra quem nunca. Mas demasiados erros, sobre demasiados clubes, para atingir um objectivo demasiadamente claro no desporto nacional… sim, são definitivamente uma constante.

E depois do VAR? Qual a alternativa quando este não cumprir e permute a veracidade desportiva? Entre tantas… sorteiem os árbitros. Não os nomeiem. Acabo este texto com um sentimento misto, quase uma opinião dividida entre a utilização, ou não, do sistema digital de apoio à arbitragem. Posso, porém, admitir que, devido ao atual momento do futebol nacional, a sua introdução não foi, de todo, má opção. Mas atenção, muito há a fazer. Investigue-se! Aperfeiçoe-se!


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