Peseiro precisa de reiventar um nova versão de si mesmo
Não foi uma história com final feliz a primeira temporada da série Peseiro em Alvalade e a segunda temporada em curso foi realizada sob condições pouco favoráveis para que haja um final alternativo. Não é preciso repisar tudo o que foi o final da época transacta que levou ao desmoronar do edifício que sustentava o futebol leonino. Mas o futebol tem uma memória selectiva quando os resultados não aparecem. No caso do Sporting é até um pouco estranho porque bastou um resultado invulgar – o de Portimão – para fazer regressar a descrença e até a contestação.
É um facto que nada está perdido mas a percepção conta mais que a aritmética. Mas, mais do que os pontos perfeitamente recuperáveis que separam o Sporting do topo da liga, é a impressão de que não será com o nível do futebol exibido nos últimos confrontos que o Sporting fará face aos seus objectivos.
Os objetivos reais e irrealistas
Ora é precisamente aqui que estamos: quais são mesmo os objectivos realizáveis para uma equipa que nasceu da desestruturação do seu departamento de futebol e que compete tão afincadamente com os seus rivais directos como com a sua desorganização e caos interno? Talvez seja essa a matéria a carecer de maior esclarecimento, porque nada pode ser pior do que traçar ambições sobre noções irrealistas e cheias de equívocos.
É talvez por aqui que a época começa por correr mal. Por uma comunicação irrealista relativamente aos objectivos, quando Sousa Cintra aponta o Sporting como candidato ao título em contraste com o ponto de partida a instabilidade interna e um plantel francamente desequilibrado e notoriamente inferior aos competidores directos. No outro extremo ficam as recentes declarações de Peseiro em que “perder por poucos” parecia ser o objectivo do jogo com o Arsenal. Declarações inadmissíveis e desmobilizadoras e que soam em tom desafinado com a ambição dos adeptos de um clube que sempre tiveram como exigência mínima futebol atractivo, mesmo nos momentos de menor fulgor.
Peseiro tem também escolhido as dificuldades sentidas na organização da época. Dificuldades essas que foram bem evidentes no estágio mais marcado pelas anulações em cima da hora do que pela qualidade dos adversários e exibições promissoras. Outro dos motivos invocados tem sido a profunda mudança no plantel registada no plantel. Mesmo reconhecendo a validade de ambos os motivos é preciso ver algo de mais afirmativo em campo à medida que o tempo se distancia do inicio da época para que não soe a desculpas de mau pagador de promessas.
Reinventar o seu futebol para elevar o jogo da equipa
Sirvamo-nos como exemplo duas equipas de clubes com responsabilidades menores que a de José Peseiro. Quer o Rio Ave quer o Santa Clara reformularam os seus plantéis. Em consequência tiveram inícios de época complicados, mas paulatinamente foram-se equilibrando e estão agora a ladear o Sporting. A avaliar pelos últimos jogos o Sporting tem seguido uma trajectória oposta. Após o que se pode considerar um bom resultado no derby, ao invés de sair mais confiante e moralizado e dar nota disso na evolução do futebol exibido o Sporting estagnou num nível que, a manter-se, será altamente comprometedor. E aí já nem estamos a falar de ambições de títulos mas de uma presença minimamente condizente com o seu estatuto de histórico de grande do futebol nacional.
Peseiro precisa agora de se reinventar. Depois de um futebol de vertigem na época de 2004/05 sem títulos, mas de futebol sedutor, temos agora uma nova versão demasiado contida, um futebol de receios e atilhos. A continuidade deste nível dificilmente dará outros frutos que não o recrudescer da contestação até ao insustentável para ele é de igual cariz para a direcção recém-empossada.